Bolsa fecha em queda por commodities, descolada do exterior; dólar recua

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Gráfico

São Paulo – O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou a sessão em queda de 0,62%, aos 111.910,10 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 26,06 bilhões. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuava 0,56%, aos 112.340 pontos. Na semana, o índice registrou alta de 2,7%. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta, após a divulgação de balanços e dados macroeconômicos dentro do esperado. 
Os analistas estão reforçando que o movimento é de realização de lucros após três pregões em alta na semana e impactos pontuais do noticiário relacionado às commodities, com ações que têm forte peso na Bolsa, como Vale e Petrobras, que caíam cerca de 2% e 3%. Os mês de fevereiro ainda promete ser promissor e mais negativo a partir de março, quando o FED começa a aumentar os juros nos Estados Unidos, segundo os especialistas ouvidos pela Agência CMA. 
“Neste mês de janeiro, a nossa bolsa está desvinculando do comportamento das bolsas de fora. Em 2020, a bolsa caiu 12%, o que foi o segundo pior resultado entre as bolsas do mundo, enquanto os mercados dos EUA e Europa surfaram. Agora, a bolsa está barata e atrativa para o investidor estrangeiro, o que está fazendo a bolsa andar, especialmente em minério, petróleo, celulose e proteína animal”, comentou o analista da Mirae Asset, Pedro Galdi. 
“Lá fora, as bolsas subiram muito, com tendência de realização, com o FED anunciando aumento dos juros em março, então os investidores estão migrando para cá. Isso não garante a sustentabilidade por muito tempo, ainda mais considerando que é ano de eleição, o que aumenta a volatilidade. O movimento de hoje é normal, não há nada especial, com  tendência de dólar em queda e bolsa em alta em fevereiro, com os investidores já repensando (o apetite por risco) em março. A bolsa já subiu esse mês o que perdeu no ano passado. O movimento de hoje é puramente de correção, importante é olhar o fluxo, se está entrando”, finalizou. 
O economista, head de conteúdo e sócio da BRA, Alexsandro Nishimura, diz que os mercados acionários seguem voláteis e com um comportamento de certa forma incomum, com o Ibovespa se mantendo em trajetória oposta aos índices norte-americanos. “Após três altas seguidas, o Ibovespa realizou lucros recentes, em grande parte devido ao desempenho das duas ações de maior peso do índice, com Petrobras e Vale em queda mesmo com o avanço das commodities no mercado internacional.” 
“As ações da Petrobras iniciaram o dia em alta, mas inverteram o sinal no início da tarde, mesmo com a valorização do petróleo, passando a sobressair o adiamento do follow on da Braskem. As ações da petroquímica, por outro lado, operaram em forte alta nesta sexta-feira”, completou o economista. 
Para Bruno Komura, da equipe de estratégia da Ouro Preto Investimentos, a queda de hoje acompanha os Estados Unidos, influenciada pelo discurso de Jerome Powell. “Por mais que o FED tenha feito um bom trabalho para ancorar as expectativas, os comentários confundiram o mercado. A curva de juros está perdendo a inclinação com a perspectiva de alta no curto prazo, o que deve afetar a economia.No Brasil, a bolsa descolou do exterior, com muitos estrangeiros comprando atrás de preço.” 
O analista também cita a decisão do governo chinês em controlar o preço do minério de ferro, que subiu muito recentemente e falas de Lula, favorito nas pesquisas para presidência,  sobre os  preços de combustíveis da Petrobras, o que impactou Vale, siderúrgicas e Petrobras, no pregão de hoje. “Mas é um movimento pontual, a tendência é positiva para as commodities”, finalizou. 
O dólar comercial fechou em R$ 5,3900, com queda de 0,62%. A moeda ensaiou uma tímida recuperação durante a manhã, mas logo repetiu o movimento observado durante quase toda a semana. Próximo ao fechamento da Ptax, na segunda, o real ganha uma sobrevida embalado pelo intenso afluxo de capital estrangeiro na bolsa. 
Segundo o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “hoje é mais uma questão técnica. Existe uma discussão em torno dos R$ 5,37, que é a média do dólar nos últimos 200 dias. Esse aparenta ser o suporte do dólar”. 
Leal, contudo, explica que o último dia semana costuma ser o de realização de lucros: “Tanto bolsa quanto dólar estão descolados dos fundamentos, sem contar que na segunda à tarde vai ter a formação da Ptax”, opina. 
De acordo com o analista de risco da Ajax Capital, Rafael Passos, “o IGP-M e a taxa de ocupação contribuíram positivamente nesta manhã”. O Indice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) subiu 1,82% em janeiro, e a taxa de ocupação caiu para 11,6% no trimestre móvel encerrado em novembro. 
Passos destaca o fluxo positivo na bolsa brasileira: “O tom mais hawkish (austero) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), no primeiro momento, é bom para os emergentes, e valoriza o real. O Brasil vai se favorecendo com a alta das commodities. Estamos trabalhando em um cenário com diminuição de liquidez.”, avalia. 
“O quadro interno não mudou, assim como a disseminação da inflação lá fora. Temos visto um Congresso a favor de mais gastos públicos, mirando a eleição”, observa Passos. 
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, “a cautela é um pouco maior devido ao Ano Novo chinês na próxima semana. A alta nos preços das commodities, com disparada do minério de ferro, deve suportar o Ibovespa, mas a parte doméstica deve ter um dia brigado, com o apetite recente dos investidores se chocando com o aumento dos riscos políticos”. 
Borsoi destaca a sensação de incertezas internas: “O aumento na percepção de risco local e o desempenho positivo da moeda americana devem pressionar o câmbio, que deve operar em alta”, projeta. O economista também destaca que o DXY rompeu os 97 pontos, e se valoriza 1,8% em janeiro. 
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operaram em queda durante toda a sexta-feira (28), com boas notícias vindas do IGP-M e do PNAD, mas perderam força no fim da tarde com um cenário de incertezas domésticas. 
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,225% de 12,190% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 11,785%, de 11,705%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,320%, de 11,235% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,285% de 11,205%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em queda, cotado a R$ 5,39 para venda. 
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, com o Nasdaq subindo 3,13%, puxado sobretudo pelas ações da Apple e outras empresas de tecnologia, numa semana que se encerra marcada por oscilações dos índices.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +1,65%, 34.725,47 pontos
Nasdaq 100: +3,13%, 13.770,6 pontos
S&P 500: +2,43%, 4.431,85 pontos