Bolsa fecha em queda, na contramão de NY, pelo 3º pregão seguido; dólar encerra a R$ 4,93

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda de quase 1% pelo terceiro dia, em movimento oposto a Wall Street, na região dos 127 mil pontos, puxada pelas elétricas, setor financeiro e commodities. O imbróglio da MP da reoneração da folha de pagamento segue no radar do investidor.

O destaque positivo ficou para os papéis de 3RPetroleum (RRRP3) e Petrorecôncavo (RECV3), que subiram 7,61% e 11,70%, respectivamente com possibilidade de fusão dos ativos das duas empresas pela Maha Energy, companhia sueca. O JP Morgan afirmou que o onshore da 3R poderia atingir o valor justo de R$ 55 por ação, mas disse que a transação não é baseada no valor justo, mas sim nos preços de mercado de ambas as empresas, e os acionistas das duas companhias poderiam se beneficiar das sinergias, disse Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed.

Na ponta negativa, o destaque ficou para as elétricas. As units da Energisa (ENGI11) recuaram 5,33% por conta da notícia de que a empresa prepara uma nova oferta de ações, conforme o cronograma inicial. A companhia vai buscar um volume de R$ 2 bilhões, disse Pettrokas. Eletrobras (ELET 3 e ELET6) caíram 2,33% e 2,05%.

O setor financeiro caiu em bloco. Vale (VALE3) caiu 0,64% e Petrobras (PETR4) fechou em queda de 0,39%.

Já Magazine Luiza (MGLU3- queda de 6,97%) reflete a falta de confiança do mercado na estrutura de capital da empresa e sem enxergar triggers de curto prazo que sejam positivos para a empresa. Vale lembrar que ontem o banco americano Morgan Stanley rebaixou as ações da empresa para venda alegando que a empresa conta com uma tração limitada fora do núcleo eletrônicos e eletrodomésticos, o que pesa na opcionalidade do mercado.

Mais cedo, o dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Atlanta, Raphael Bostic, mencionou a possibilidade de uma mudança na política monetária do país em 2024. Hoje também foram divulgados os números de seguro-desemprego nos Estados Unidos semanal-caíram para 187 mil, após ter atingido 203 mil na semana passada. A estimativa do mercado era de 208 mil solicitações. O resultado ainda mostra o mercado de trabalho aquecido.

O principal índice da B3 caiu 0,93%, aos 127.315,74 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,80%, aos 128.130 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Felipe Leão, analista da Valor Investimentos, disse que a bolsa está descolada do exteriora e o fiscal fica no radar.

” O Haddad [o ministro da Fazenda, Fernando Haddad] divulgou nota defendendo as mudanças propostas na MP da folha de pagamentos; o modelo atual é ineficiente, abre brechas e transfere a renda para os mais ricos, é incompatível com o orçamento e inconstitucional; governo segue tentando mudar a desoneração aprovada no Congresso enquanto a bolsa segue pressionada. O destaque de queda são as elétricas e Hapvida- a empresa está sendo alvo de investigações por não cumprir liminares”.

Petrokas disse que o Ibovespa recua na sessão desta quinta-feira na contramão do exterior.

“Hoje parece ser um dia de retirada de capital estrangeiro da Bolsa. Cabe lembrar que os investidores estrangeiros aportaram muito no Brasil em novembro e dezembro de 2023 e começaram janeiro com uma onda de retirada, com destaque para o dia 16/01 [R$ 1,67 bilhão]”.

Mais cedo, Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que o Ibovespa é pautado pelo cenário externo e, no ambiente doméstico, o mercado acompanha o impasse da MP da reoneração.

“A Bolsa continua surfando no humor internacional e, em relação à redução dos juros nos EUA, é preciso mais dados econômicos. O primeiro corte nas taxas deve vir entre maio e junho, em linha com as falas dos dirigentes dos bancos centrais em Davos [Fórum Econômico Mundial, que acontece na Suiça] e a reunião de 31 de janeiro [decisão de política monetário do bc americano] deve mitigar a ansiedade dos investidores. Hoje os pedidos de seguro-desemprego mostraram que o mercado de trabalho ainda está forte. Aqui, o mercado fica aflito com as discussões em Brasília [sobre o fiscal] e com o recesso parlamentar a meta fiscal deve ser revisada só em março. O movimento do Ibovespa está pareado com o Indice Small Cap [-0,73%]”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,04%, cotado a R$ 4,9316 para venda. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor global de que o ciclo de corte dos juros nas principais economias ainda leve uns meses para começar.

De acordo com o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, os indicadores das últimas semanas, nos Estados Unidos, deixam o mercado em dúvida sobre os próximos passos do Fed.

A probabilidade de corte dos juros, na reunião de março do Fed, caiu de mais de 80% na última semana para atuais 55%, observa Serrano.

Contudo, o economista do Bmg acredita que o real tenha perdido força nos últimos dias, ele se encontra no patamar justo, de acordo com os fundamentos econômicos, que que seria a faixa entre R$ 4,85 e R$ 4,90.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “estamos passando por um momento de choque de realidade. Começamos a entrar em um cenário onde o pessoal começa a perceber que passou do ponto”, referindo-se à euforia observada em dezembro.

Além do retardamento do ciclo dovish do Fed, Borsoi observas que a China decepciona, o que leva a crer que a economia do país asiático enfrentará novos problemas para crescer em 2024.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham perto da estabilidade, enquanto os Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) operam em alta, impactados pelos dados de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos, que caiu em 16 mil, para 187 mil na semana encerrada em 13 de janeiro, após ter alcançado 203 mil na semana anterior.

O DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,090% de 10,115% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,760% de 9,760%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,925%, de 9,935%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,180% de 10,175% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, com as gigantes da tecnologia liderando o rali na sessão enquanto a Apple registrou seu melhor desempenho desde maio de 2023.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,54%, 37.468,61 pontos
Nasdaq 100: +1,35%, 15.055,6 pontos
S&P 500: +0,88%, 4.780,94 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA