Bolsa fecha em queda empurrada por blue chips em meio a temor de uma recessão nos EUA, dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda de 1,44% empurrada pelas blue chips- empresas de peso no índice, com o temor dos investidores de uma recessão nos Estados Unidos após das falas do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte americano), Jerome Powell, sinalizando essa possibilidade.

Atrelado a isso, o ambiente interno também é preocupante com o governo adotando medidas para baixar o combustível e podendo refletir no fiscal.

A Vale (VALE3) perdeu 3,64%; Itaú (ITUB4) baixou 2,28% e Bradesco (BBDC3 e BBDC4) recuaram 2,41% e 2,64%. Em contrapartida as empresas de consumo como Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas SA (AMER3) subiram 4,42% e 4,50%.

O principal índice da B3 caiu 1,44%, aos 98.080,34 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 1,21%, aos 99.580 pontos. O giro financeiro foi de R$ 24,5 bilhões. A mínima no interdiário foi de 97.775,07 pontos. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, afirmou que a Bolsa está sendo impactada pelos papéis ligados às commodities e o setor financeiro.

“As commodities estão sofrendo por conta da possível recessão com as falas do Powelll [presidente do banco central norte-americano] de ontem e hoje em que reafirma o combate aos preços e, se a inflação persistir, ele será mais enérgico. O mercado começou a colocar um peso maior nesse cenário de possível recessão em um dia em que a China anunciou medidas para tentar reaquecer a economia deles e o minério subiu, mas o que prevaleceu foi a aversão ao risco”.

E acrescentou que as commodities acabam sendo menos atrativas não pelo preço, mas pela diminuição da demanda.

O setor financeiro também cai porque a gente segue com inflação elevada, ainda que o Campos Neto [Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central] tenha dado sinais e o mercado acredite que o ritmo de aperto monetário vai se estancar em entre 13% e 13,75%.

Mais cedo, André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos, comentou que a sessão de hoje está volátil com as empresas mais bem posicionadas para inflação e juros altos, como commodities e bancos, puxando o índice para baixo e as ações de companhias de consumo subindo.

“O dia está extremamente confuso porque tem essa disparidade entre consumo interno, setor bancário e commodities. Ao mesmo tempo o dado de arrecadação ajudou a curva de juros, o que favorece o consumo (empresas) interno”. Em maio o país arrecadou R$ 165,3 bilhões, alta de 4,13% em maio, um recorde para o mês.

O head de renda variável da SVN Investimentos disse que apesar de as varejistas estarem em alta hoje, ele enxerga um cenário mais favorável para os bancos e commodities.

“Acreditamos em um copo meio vazio para consumo interno e copo meio cheio para commodities que se beneficiam de uma inflação maior e setor financeiro que se favorece de juros mais elevados”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,02%, cotado a R$ 5,2300. A moeda oscilou durante grande parte da sessão, mas o início do aperto do ciclo monetário nas economias desenvolvidas e o medo de uma recessão global acabou desvalorizando as moedas emergentes, como o real.

O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), além do banco central da Suíça e o Banco da Inglaterra (BoE) já iniciaram o ciclo de aperto para controlar a inflação, enquanto existe expectativa que o Banco Central Europeu (BCE) tome o mesmo rumo.

Segundo o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o dólar está muito volátil, mas não acredito que o aumento dos juros nas economias desenvolvidas explique o movimento de hoje. Ele (o dólar) está em um ritmo próprio”.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o dólar está dando um alívio, com o fluxo estrangeiro ajudando, mas a tendência é de um dólar fortalecido”.

Komura entende que isso não arrefece a conjuntura econômica global: “Os bancos centrais desenvolvidos estão apertando o ciclo. Por mais que as moedas emergentes se beneficiem com as commodities, moedas fortes como o euro e dólar tendem a se valorizar. O movimento de aversão aos ativos de risco deve continuar”, analisa.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda acompanhando os treasuries dos EUA. o DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,510% de 13,550% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,990%, de 13,090%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,225%, de 12,310% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,180% de 12,235%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, com a Nasdaq subindo 1,62%, à medida que os investidores buscaram se recuperar de perdas recentes após os juros projetados dos Treasuries caírem abaixo de 3,1%. O rali de queda ocorreu após a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, em manter o caminho de combate à inflação.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,64%, 30.677,36 pontos
Nasdaq Composto: +1,62%, 11.232,2 pontos
S&P 500: +0,95%, 3.795,73 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.