Bolsa fecha em queda, em pregão volátil, à espera de decisões sobre juros; dólar cai 0,32%

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São Paulo – O principal índice da Bolsa brasileira fechou em queda após operar o pregão desta segunda-feira com bastante volatilidade, em semana que será marcada por decisões sobre juros no Brasil e no exterior, com indicadores que influenciam nestes movimentos. O dia também foi marcado pela divulgação de indicadores de inflação e projeções do Boletim Focus para a economia brasileira.

O principal índice da B3 caiu 0,39%, aos 118.288,21 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 0,47%, aos 119.425 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,4 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em leve alta.

O mercado aguarda para a próxima semana a Super Quarta-decisão de política monetária aqui e nos Estados Unidos- e deve ditar o rumo dos mercados. Amanhã (19), começa a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que termina na quarta-feira (20), com a expectativa de mais um corte de 0,50 ponto porcentual (pp) na taxa básica de juros (Selic). Atualmente a Selic está em 13,25% ao ano. Nos EUA a aposta majoritária é na manutenção dos Fed Funds, atualmente entre 5,25% e 5,50%.

Ainda nesta semana, o banco central do Japão e o Banco Popular da China divulgarão suas decisões sobre juros na sexta-feira. Na Europa, na semana passada, o Banco Central Europeu aumentou as taxas de juro em 25 pontos base, décimo aumento consecutivo, levando a sua taxa principal para um máximo histórico de 4%.

Nesta segunda-feira, o mercado digeriu os dados do Boletim Focus divulgados pela manhã, que mostraram, que as instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central (BC) na pesquisa reduziram de 4,93% para 4,86% a previsão para a inflação medida pelo Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023. A meta para a inflação no período é de 3,25%.

Já em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), as instituições financeiras ouvidas pelo BC na pesquisa Focus elevaram de 2,64% para 2,89% a previsão para o crescimento em 2023. A projeção para 2024 aumentou de 1,47% para 1,50%. O BC estima que a economia brasileira crescerá 2% em 2023, segundo a edição mais recente do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), publicada em junho.

Outro dado avaliado pelos operadores do mercado nesta segunda-feira foi o Indice Geral de Preços 10 (IGP-10) divulgado hoje pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que variou 0,18% em setembro. No mês anterior, a taxa havia sido de -0,13%. Com esse resultado, o índice acumula variação de -5,15% no ano e de -6,35% em 12 meses. Em setembro de 2022, o índice caíra 0,90% no mês e acumulava elevação de 8,24% em 12 meses. Segundo a FGV, a principal contribuição para a aceleração do índice ao produtor partiu dos combustíveis.

Nas commodities, os preços do barril de petróleo seguem avançando enquanto as cotações de minério de ferro fecharam em queda em Dalian. Com isso, a ação da mineradora Vale, que tem forte peso no Ibovespa, chegou a operar em alta mas virou e fechou em queda de mais de 1%, influenciando na baixa do índice, assim como Gerdau, Gerdau Metalúrgica e Bradespar.

Lucas Carvalho, analista research da Toro Investimentos, destaca a expectativa dos investidores em relação às decisões sobre juros na Super Quarta, com a expectativa de que o Fed irá manter a taxa de juros entre 5,25% e 5,5%, o que influenciou no movimento próximo à neutralidade dos índices norte-americanos nesta segunda-feira, enquanto na Europa o movimento foi mais baixista. No movimento de ações, Braskem e Magalu foram os destaques de alta, enquanto Vamos e Via as maiores baixas. “A cotação do petróleo do tipo Brent chegou à casa de US$ 94,43 (+0,43%), em movimento ascendente, que chama a atenção para os impactos que isso pode ocasionar na inflação global”, destaca o analista. “Os mercados globais devem ficar nesse compasso de espera e indefinição até 15h de quarta-feira, quando será conhecida a taxa de juros, nos Estados Unidos”, resume o especialista.

De acordo com Marcus Labarthe, especialista em mercado de capitais e sócio-fundador da GT Capital, a volatilidade do pregão de hoje deve-se à Super Quarta, com os investidores atentos aguardando as decisões para se posicionarem. “Entre as principais quedas do dia, temos Via, que voltará a se chamar Casas Bahia. O mercado está muito apreensivo com a diluição dos investidores e saúde financeira da empresa, que além de estar encolhendo, divulgou recentemente o fechamento de 100 lojas, vem tendo dificuldades na captação de novos recursos. O follow-on de R$ 0,80 foi abaixo do esperado e não foi o valor suficiente que os investidores esperavam”, comenta Labarthe.

“A queda do minério de ferro também contribui para a queda da Gerdau, assim como da Vale. As preocupações com o setor imobiliário na China tem causado quedas no minério e mais cautela dos investidores com o setor de mineração e siderurgia”, acresenta. “Outra forte queda do dia é dos papeis da Vamos, que foi rebaixado pelo Bank of America, que considera que a empresa está desacelerando.”

Entre as altas, o analista destaca a Braskem, após a notícia de que Petrobras está realizando um due diligence para direito de preferência no caso de alienação das ações em posse da Novonor. Recentemente também a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) autorizou a Braskem a produzir combustíveis derivados de petróleo e gás natural na unidade de Camaçari, na Bahia, o que também influencia a valorização do papel.

“No caso da Magazine Luiza, após dias consecutivos de queda no setor de Varejo, é normal que o mercado veja alguma janela de oportunidade nas ações, auxiliado por notícias positivas envolvendo o índice de vendas de varejo no mês de julho. Com isso, temos um movimento de ajuste nos papeis. Quando são dias consecutivos de queda, basta não ter noticia negativa ou mesmo alguma informação relevante para o mercado estar atento nas oportunidades com ações principalmente com setores que estão sofrendo quedas significativas, como de varejo”, conclui o sócio da GT Capital.

Em relação às apostas para a decisão do Copom sobre a Selic, o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, comenta que a semana promete ser agitada. “Os desenvolvimentos econômicos e financeiros desde 26 de julho nos levam a crer que o Copom deve reduzir a Selic de 13,25% para 12,75%”, estima.

“Apesar da possibilidade de o Copom acelerar os cortes para 0,75% no fim de 2023, ainda vemos o cenário de 0,50% como o mais provável em todas as reuniões de 2023. Ainda vemos o Copom com uma mensagem de cautela e parcimônia. Portanto, esperamos um corte de 0,50% na quarta-feira. Para os anos fechados, esperamos que a Selic termine 2023 em 11,75%, com o ciclo se estendendo no próximo ano, com a taxa Selic fechando 2024 em 9,50%”, comenta Borsoi.

O dólar comercial fechou em queda de 0,32%, cotado a R$ 4,8555. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sinalize o término do ciclo contracionista.

Para o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, o movimento de queda do dólar deve continuar ao longo da semana: “Se o Fed deixar mais claro que encerrou a alta, o dólar pode se desvalorizar perante as outras moedas”, avalia.

Komura explica que a decisão sobre os juros estadunidenses irá ofuscar o corte da Selic, devido ao impacto global.

O economista-chefe da Valor Investimentos, Piter Carvalho, avaliou que, na ausência de novos acontecimentos, esse deve ser o cenário até a super quarta (20), quando começam a ser divulgadas as decisões sobre juros nos Estados Unidos e aqui. “Dólar global teve um recuo hoje, o que é bom para as commodities e para países que as vendem, como o Brasil.”

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em leve alta, após dia de volatilidade e à espera de resoluções sobre política monetária de bancos centrais pelo mundo. Nesta semana serão divulgadas as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Banco da Inglaterra (BoE).

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,280% de 12,290 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,440% de 10,425%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,100%, de 10,075%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,345 % de 10,330% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em baixa, cotado a R$ 4,8560 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão perto da estabilidade, enquanto os investidores se preparavam para a reunião de dois dias do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) marcada para ter início amanhã. Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,02%, 34.624,30 pontos
Nasdaq 100: +0,01%, 13.710,2 pontos
S&P 500: +0,07%, 4.453,53 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA.

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