Bolsa fecha em queda e dólar em alta com preocupação de Fed mais duro na reunião da próxima semana

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo- A Bolsa fechou em queda com as atenções dos investidores à inflação nos Estados Unidos e na expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode adotar uma postura mais rígida na reunião da semana que vem.

As apostas para alta nos juros em 1 ponto percentual (pp) estão aumentando depois de um dia repleto de indicadores econômicos por lá.

Por aqui, as ações da Ecorodovias (ECOR3) ficaram entre as maiores queda do Ibovespa – 11,31%-depois de levar a concessão de rodovias do noroeste paulista por R$ 1,2 bilhões, ágio de 16.151,20, em leilão na B3 hoje mais cedo.

Outro destaque foi para a Vale (VALE3), que tive um bom desempenho na sessão de hoje-subiu 2,01%-, e deve ter sido “algum fluxo do vencimento de opções de amanhã [tem exercício de opções sobre ações] que o investidor decidiu antecipar para hoje segura o papel, não há notícias especifica na empresa”, disse Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital.

Os setores do mercado interno foram fracos na sessão de hoje impactados pela alta de juros futuros.

O principal índice da B3 caiu 0,53%, aos 109. 953,65 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 0,88%, aos 110.905 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas caíram.

Priscila Alves, especialista em finanças e sócio da BRA, disse que o Ibovespa se mantém abaixo dos 110 mil pontos refletindo a cautela no mercado internacional. “Os investidores devem colocar na conta os desafios reais como recessão combinado com inflação nos EUA e crise energética na Europa”.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de mesa de renda variável da Venice Investimentos, disse que o mercado está à espera da Super Quarta e “aumentam as apostas para alta d 1pp nos juros norte-americanos”.

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que os indicadores, divulgados mais cedo, nos Estados Unidos, enfatizaram a tese de que uma pressão nos preços deve continuar.

“Os pedidos de seguro-desemprego abaixo do esperado-queda de 5 mil solicitações, para 213 mil- sinalizam que mais pessoas estão trabalhando, o que deveria continuar pressionando a inflação e reforçando uma postura mais hawkish do Fed”.

E acrescentou que o dado de vendas no varejo mais forte nos Estados Unidos- subiu 0,3% em agosto-, “apesar do núcleo em queda, dá uma manutenção de pressão inflacionária e o mercado vai colocar um preço na alta de juros; a gente acredita em 0,75pp e talvez com tom do discurso do Fed mais agressivo, mas já existem casas falando em alta de 1 ponto porcentual na reunião da semana que vem. Não acredito nessa elevação porque ficaria ruim para o banco central, eles [os integrantes do Fed] não costumam agir assim, sinalizaria surpresa”.

O especialista em renda variável da Renova Invest disse que os dados econômicos estão melhores com o IBC-Br bem acima do esperado-subiu 1,17% em julho-, mas o exterior influencia bastante.

“A fotografia aqui é positiva e a gente acha que deve melhorar as condições para o doméstico e das empresas sensíveis a curva de juros, mas lá fora deve influenciar muito aqui e vamos viver dado a dado”. O dólar fechou em alta, com rumo definido. O descontrole inflacionário nos Estados Unidos e uma possível recessão mundial só aumentam a pressão sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que irá se reunir na próxima quarta.

Para o sócio da Top Gain, Leonardo Santana, “os estrangeiros estão zerados no Brasil, à espera do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) e dos resultados das eleições. Até lá, o dólar deve ficar entre R$ 5,20 e R$ 5,25,e se o Fed aumentar os juros em 1 ponto percentual (pp), ele deve chegar a R$ 5,30”.

O analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, entende que a valorização do dólar é uma tendência “ao menos no médio prazo, por mais que ainda devam ocorrer correções”. “O medo de uma recessão mundial está aumentando e a janela para um soft landing (pouso suave) está se fechando, é cada vez mais improvável que o Fed consiga isso. A taxa terminal provavelmente deve chegar em 4%, e ficar neste patamar por um bom período”, projeta Komura.

De acordo com o boletim da Ajax Capital, “lá fora, os preços dos ativos seguem com variações modestas, em meio ao receio com a persistência do processo inflacionário, a reação dos bancos centrais e a perspectiva de desaceleração da economia global. Essas preocupações com o cenário externo devem enfraquecer ativos no Brasil ao longo do dia”.

O dólar comercial encerrou a sessão em alta de 1,15% sendo negociado a R$ 5,2390 para venda e a R$ 5,2370 para compra. Durante o dia, a moeda norte-americana oscilou entre a mínima de R$ 5,1750 e a máxima de R$ 5,2440.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, com temores de aperto monetário do FED (o banco central norte-americano) no radar.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,785% de 13,760% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,225%, de 13,120%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,080%, de 11,925% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,775% de 11,620%, na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com os investidores preocupados com a saúde da economia norte-americana após alguns indicadores hoje mostraram uma inflação ainda persistente, o que deve abrir caminho para que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mantenha seu aperto monetário.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o
fechamento:

Dow Jones: -0,56%, 30.961,82 pontos
Nasdaq 100: -1,43%, 11.552,4 pontos
S&P 500: -1,13%, 3.901,35 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA