Bolsa fecha em queda e dólar em alta após discordância dentro do Copom

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo -A Bolsa fechou em queda, com sinal contrário a Wall Street, puxada pelo cenário doméstico. O mercado se frustrou com a discordância entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) na decisão de ontem (8) sobre a taxa básica de juros do País em que parte do colegiado votou no corte de 0,25 ponto porcentual (pp) e outra em uma redução de 0,50 pp. Com isso, os investidores ficam temerosos a uma mudança na condução de política monetária para o próximo ano.

Quatro membros do Comitê votaram pela redução de 0,50 ponto (pp) na Selic e cinco pelo corte de 0,25pp, com o presidente do BC , Roberto Campos Neto desempatando a votação.

As ações de Petrobras (PETR3 e PETR4) fecharam em alta de 1,76% e 0,96% e os papéis da Vale (VALE3) subiram 0,81%.

O principal índice da B3 caiu 0,99%, aos 128.188,34 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho recuou 1,23%, aos 129.280 pontos. A mínima no interdiário atingiu 127.375,91 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,6 bilhões. Os índices norte-americanos fecharam em alta.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que o Ibovespa operou descolado do exterior, mesmo com um apouco de alívio nas últimas horas da sessão, “refletindo mais do que a diminuição do ritmo de queda da Selic e da possibilidade de final do ciclo, mas também a divergência entre os membros e a futura condução do colegiado, principalmente a partir do próximo ano. A temporada de balanços do primeiro trimestre se aproxima do fim e as divulgações se intensificam e fazem preço sobre os ativos”.

Segundo Nishimura, as ações da Lojas Renner caíram 6,46% por conta do cenário macro adverso de alta dos juros futuros e pela análise do seu balanço no 1º trimestre de 2024.

Fabio Louzada, economista e fundador da Eu me banco, disse que Ibovespa cai após decisão do Copom ontem.

“A divergência entre os membros do Copom estressou a bolsa e os juros. O Comitê não seguiu o forward guidance da última reunião de março, em que era previsto um corte maior de 0,50 ponto percentual. No comunicado, mais hawkish, o Copom destacou preocupações com o cenário global e com a atividade econômica mais aquecida por aqui”.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que a queda na Bolsa reflete o desafio para 2025 com uma equipe nova no Copom.

“Essa divergência entre os membros mostrou como a gente vai ver o BC para o ano que vem, por exemplo o temor de uma inflação mais forte. Vc tem toda uma equipe técnica e não pode sugerir que parte da equipe que não foi indicada pelo atual governo e a outra que não foi tenha uma opinião totalmente divergente. Todas as curvas estão subindo forte e as empresas sensíveis a juros sofrem. O mercado olha os balanços, que vieram em linha, como Banco do Brasil (ON, -3,91%), mas como é ligado ao governo a queda é maior. Eletrobras também [tem participação da União]. Vemos algo mais azedo do que se [a Bolsa] estivesse em patamar mais saudável de preços. A alta da Vale vemos como uma fuga, [os investidores] saem do interno e alocam na mineradora. Hoje o estresse pode ser de curto prazo porque o evento [reunião do Copom] foi ontem, mas não sabemos se vai continuar, temos de esperar a ata para entender se foi decisão estrutural ou mais pontual pra essa reunião”.

Um head de renda variável de uma corretora comentou em off [sem relevar o nome], que a divisão apertada entre os dirigentes do Banco Centrou assustou o mercado.

“A decisão apertada entre os integrantes do Copom deixou o mercado apreensivo. Fica a preocupação para o ano que vem quando o presidente Lula indicar a maioria dos membros para compor o Comitê e o BC passe a ser mais político que técnico. Os quatro diretores que votaram pelo corte de 0,50pp não explicaram o motivo de ter adotado essa posição, apesar de informar que a situação exige cautela. Temos de aguardar a ata da semana que vem”.

O dólar fechou em alta de 1,03%, cotado a R$ 5,1432. A tônica do dia foi o temor de que o fiscal saia do controle, tese que ganhou força após o Comitê de Política Monetária (Copom) ter cortado, ontem, a Selic (taxa básica de juros) em 0,25 ponto percentual (pp), o que, para o mercado, mostra que o Banco Central (BC) está preocupado com o quadro fiscal doméstico.

“Estamos vendo um mercado de câmbio bastante volátil, estressado. A principal justificativa é interna, com a comunicação sendo muito mais dura do que o previsto, com o mercado entendendo que o governo terá influência sobre a próxima presidência do BC”, opina o analista da Potenza Capital, Bruno Komura.

Komura explica que a decisão do Copom foi mais técnica, e que o BC não se comprometeu com novos cortes nas próximas reuniões, e que a curto prazo o câmbio deve ser impactado.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta. O movimento tem relação direta com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), ontem, de cortar a Selic (taxa básica de juros) em 0,25 ponto percentual (pp), caindo a 10,5% Os membros do comitê, no entanto, não foram unânimes sobre a decisão de corte, mas concordaram que o cenário global é adverso e incerto.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,255%, de 10,210% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,485% de 10,450%, o DI para janeiro de 2027 ia a 10,870%, de 10,785%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,200% de 11,080% na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, à medida que mais evidências mostraram que o mercado de trabalho dos Estados Unidos continuou a esfriar, revivendo as esperanças de um corte nas taxas até o mês de setembro. Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,87%, 39.396,87 pontos
Nasdaq 100: +0,27%, 16.346,26 pontos
S&P 500: +0,51%, 5.214,08 pontos