Bolsa fecha em queda de 2,28%, renova mínima, com tom mais duro do Copom e estresse entre governo e BC

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São Paulo -Em dia de forte aversão ao risco, a Bolsa fechou em queda de 2,28%, renovou a mínima do ano, no nível de julho do ano passado, aos 97.926,34 pontos, com os investidores reagindo ao comunicado mais duro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), o que pressionou a curva de juros e consequentemente o Ibovespa. A queda das ações foi generalizada, com destaque para os papéis ligados ao consumo.

Soma-se a isso, o estresse entre o governo federal e o Banco Central pesou sobre o índice depois que o Lula voltou a criticar o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, por conta dos juros elevados. Ontem, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano (aa) e Lula considera altíssima.

Até a presidente do conselho de administração do Magazine Luiza (MGLU3), Luiza Trajano, em um evento hoje, disse que precisa de uma união para baixar os juros. As ações da empresa caíram forte 13,37%. Via (VIIA3) perdeu 7,03%.

Os papéis de forte peso no índice também cederam. Petrobras (PETR3 e PETR4) caiu 1,95% e 2,27% com a desvalorização do petróleo e Vale (VALE3) teve queda de 2,57% com o recuo do minério de ferro. Na ponta positiva, o destaque positivo ficou para os papéis da Minerva (BEEF3), subiram 1,32% com a retomada da venda de carne bovina à China.

O principal índice da B3 caiu 2,28%, aos 97.926,34 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 2,36%, aos 98.265 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,4 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no positivo.

Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios, disse a Bolsa está sofrendo muito na sessão de hoje com o confronto político entre o governo e o Banco Central por conta da Selic elevada. “O governo está tratando a temática dos juros como um embate político, quando deveria ser uma discussão técnica; o mercado espera ações pragmáticas, claras e objetivas do governo e não discursos que mais inflamam os ânimos dos agentes envolvidos do que buscam soluções para retomar a queda dos juros”.

Ubirajara Silva, gestor de renda variável, disse que o mercado não esperava o tom mais duro do Copom e o reflexo é visto no mercado na sessão de hoje.

“Estamos vendo uma venda generalizada no Brasil; um estresse na curva de juros e uma pressão adicional para a Bolsa. O grande destaque é o setor de consumo. A Vale (VALE3) também cai forte com o minério de ferro e o único setor que salva é de frigoríficos dada a retomada de compra para a China; enquanto novela entre governo e Banco Central continuar, a curva de juros deve ficar pressionada e impactar a Bolsa”.

Bruna Sene, analista de investimentos da Nova Futura Investimentos, disse a surpresa foi a abertura positiva da Bolsa e o efeito do comunicado está impactando agora. “O Ibovespa tentou uma recuperação na abertura com o exterior defendendo os 100 mil pontos, mas a questão de o Copom ter adotado o tom mais duro e o embate político está pesando agora no mercado com falas da Gleisi e críticas do Haddad para o BC [ontem]”.

Bruna acrescentou que o movimento que o mercado está mostrando “está mais em linha do que era a expectativa para o dia com os juros subindo e Bolsa caindo, e o setor mais penalizado é o de consumo”.

A analista de investimentos da Nova Futura também disse que a Bolsa renovou a mínima do ano. “Se não houver um fator positivo em relação ao fiscal, a tendência é de que a Bolsa continue estressada e pela análise gráfica, o próximo alvo do Ibovespa é 95 mil pontos”.

Bruna acrescentou que observando os preços dos papéis das ações de bancos, Vale e Petrobras, que têm peso importante peso no índice, “vejo uma tendência de baixa e nenhum sinal de melhora e com esse recuo a probabilidade é de que o Ibovespa continue caindo; a queda do minério pode continuar impactando na Vale, esse patamar da Selic e sem perspectiva de melhorar afeta o consumo cíclico”. O dólar fechou em alta. O driver de hoje foi majoritariamente doméstico, especialmente na volta da pressão do Governo sobre o Banco Central (BC) com a intenção de reduzir a taxa de juros. Esta tensão afeta diretamente o real.

Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o câmbio está refletindo as tensões entre Governo e BC. As moedas emergentes estão se valorizando frente ao dólar”.

Rostagno entende que em tempos “normais” os juros prolongados deveriam valorizar o real, que hoje deveria estar em alta de cerca de 0,30%, e acredita que um corte imediato dos juros iria desancorar ainda mais a expectativas e prejudicaria o câmbio.

De acordo com o sócio-fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “a justificativa do Comitê de Política Monetária (Copom) (para manter os juros) foi muito agressiva, mesmo com a situação lá fora um pouco mais leve. Foi uma pequena peitada no Governo, não precisava disso. Essa briga não é legal para o País”.

“O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mostra que talvez não dê mais aumentos, e isso deve ser bom para o real. É um movimento de pequeno alívio”, opina Nagem.

O dólar comercial encerrou a sessão em alta de 0,99%, sendo negociado a R$ 5,2880 para venda e a R$ 5,2340 para compra. Durante o dia, a moeda norte-americana oscilou entre a mínima de R$ 5,2070 e a máxima de R$ 5,2960.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte alta, após decisões do Fed (o banco central norte-americano) em elevar a taxa de juros e do Copom (Comitê de Política Monetária) em mantê-la, mas com comunicado duro.

No final da sessão regular, o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,170% de 13,010% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,115%, 12,035%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,140%, de 12,070%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,365% de 12,280% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, apesar de ficarem longe de suas máximas do dia, à medida que Wall Street aposta que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode estar se aproximando do fim de seu ciclo de alta de juros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,23%, 32.105,25 pontos
Nasdaq 100: +1,01%, 11.787 pontos
S&P 500: +0,29%, 3.948,72 pontos

 

Com Paulo Holland,  Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA