Bolsa cai 0,67% e vai aos 108 mil pontos, com foco no exterior; dólar tem leve alta

535

São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 0,67%, aos 108.376,35 pontos, patamares do início de agosto com os investidores cautelosos em tomar risco diante de um cenário externo mais complexo, com alta de juros e a caminho para uma recessão, e aqui com a proximidade com as eleições presidenciais.

O Ibovespa chegou a subir nos primeiros negócios da manhã com a divulgação do Indice de preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que apontou deflação de 0,37% em setembro, melhor que a estimativa do mercado (-0,19%), mas não conseguiu se manter e devolveu os ganhos.

O principal índice da B3 caiu 0,67%, aos 108.376,35 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 0,05%, aos 109.060 pontos. O giro financeiro foi de R$ 35,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Flávio Aragão, sócio da 051 capital, disse que os dados internos são mais positivos, mas o cenário externo é complicado. “Lá fora não tem perspectiva de notícia melhor e tem muito pouco espaço para dar uma folga para o mercado “.

Aragão enfatizou que agora está mais na normalidade dos preços “aquela lua de mel [referindo ao mercado local] não fazia sentido, só acho que a velocidade está um pouco rápida”.

O sócio da 051 Capital disse que a partir de amanhã o mercado “vai entrar em um modo eleição total e deve ter lateralização, a não ser que em o exterior saia alguma notícia muito relevante de forma positiva ou muito negativa; ninguém vai fazer um aporte expressivo”.

Hoje foi divulgada a pesquisa Atlas/Arko, o mercado fica de olho, e mostrou a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a corrida ao Palácio do Planalto. “Se Lula vier a ganhar no primeiro turno, o índice pode vir a cair com temor de uma intervenção mais forte da Petrobras; as estatais sofreriam”.

Um analista do mercado financeiro que não quis se identificar disse que a Bolsa passou a cair “com a piora em Nova York”.

Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos, disse que a Bolsa chegou a subir mais timidamente que em Nova York devido à relação com a elevação dos juros por lá mais intensa que aqui ontem e “estamos com a política restritiva há mais tempo que os Estados Unidos”.

Em relação às eleições presidenciais, Calestine não acredita que o mercado precificou o evento “porque se Bolsonaro ganhar já se sabe qual será a equipe econômica e a do Lula ainda não, embora o Meirelles tenha se aproximado do candidato”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,03%, cotado a R$ 5,3780. A moeda refletiu ao temor sobre o alongamento do aperto do ciclo monetário nos Estados Unidos, e em segundo plano a volatilidade gerada pelas eleições brasileiras no próximo domingo. Em contrapartida, a postura hawkish (severa) do Comitê de Política Monetária (Copom) foi favorável ao real.

Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “os dados mais fortes dos Estados Unidos surpreenderam para cima e trazem a preocupação de um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais agressivo”.

Por outro lado, Rostagno entende que o Banco Central (BC) tem se esforçado para mostrar para o mercado que não cortar os juros tão cedo, o que beneficia o real. O estrategista ainda considera as eleições como uma “força secundária”, e que as dúvidas pairam sobre a política fiscal que o candidato eleito irá adotar em sua gestão.

De acordo com a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “estamos em uma semana de eleições. É um cenário que requer cuidado”.

Abdelmalack classifica o quadro externo como “desafiador”, e explica que mesmo após o leilão realizado esta manhã pelo Banco Central (BC) o dólar não perdeu força, embalado especialmente pela alta, em agosto, de 28,8% na venda de imóveis residenciais novos nos Estados Unidos – a expectativa era de -1,2% -, além do Indice de Confiança do consumidor que foi a 108 pontos em setembro ante expectativa de 104,5 pontos. Isso faz com que as expectativas por um Fed austero sigam no radar e favoreçam o dólar.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) veio abaixo das expectativas e isso pode ser considerado positivo, ainda mais que a dispersão caiu. Entendemos que a queda foi puxada pelo corte de impostos nos combustíveis”.

“A ata do Copom reforçou o tom hawkish (duro) e deve ajudar a alinhar as expectativas de corte de juros e fortalece o real dado que os juros ficam em patamar elevado por um longo período”, avalia Komura.

O analista da Ouro Preto entende que hoje o dólar perde força globalmente, em movimento de correção e com maior apetite ao risco.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda nesta terça-feira (27) após IPCA-15 com deflação acima das expectativas. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,680% de 13,705% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,780%, de 12,950%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,590%, de 11,830% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,510% de 11,690%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava de lado, cotado a R$ 5,3790 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, com o Dow Jones e a S&P entrando em território de correção – esse último voltando a atingir sua mínima em 2022, agravando as perdas de ontem. Wall Street pesa a subida dos juros dos Treasuries, que atingiram valores não vistos desde 2010.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos
após o fechamento:

Dow Jones: -0,43%, 29.134,99 pontos
Nasdaq 100: +0,25%, 10.829,5 pontos
S&P 500: -0,21%, 3.647,29 pontos

Com Paulo Holland  / Pedro do Val de Carvalho Gil / Darlan de Azevedo / Agência CMA.