Bolsa fecha em queda com varejistas, após susto do IPCA; dólar recua

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda em um dia em que os investidores se assustaram com a inflação de março acima das expectativas do mercado-avançou 1,62% em relação ao mês anterior- e acabaram impactando negativamente nas ações do setor de varejo. O mercado começa a projetar que a alta na taxa básica de juros (Selic) se estenda além de maio.
Outro fator que mexeu com o mercado foi o rompimento do patamar do índice DXY-que mostra a relação do dólar contra uma cesta de moedas de países desenvolvidos.
O principal índice da B3 caiu 0,45%, aos 118.322,26 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril recuou 0,52%, aos 118. 325 pontos. Na semana, o índice acumulou perda de 2,67%. O giro financeiro foi de R$ 26,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.
Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inversa Publicações, disse o mercado lidou com um fato novo na sessão de hoje, o índice DXY, “que rompeu o patamar dos 100 e mexeu com todos os mercados, a Bolsa chegou a mínima do dia-117.486,61 pontos pela manhã, depois os investidores foram absorvendo [o fato]. Isso mostra que o mundo está de olho nos Estados Unidos para tomar as decisões”.
Natali também destacou a alta da inflação por aqui, o que está mexendo com as ações de consumo. “Com esse cenário, é bem provável que o Banco Central eleve a taxa para 1 ponto porcentual (pp) na próxima reunião de maio e 0,50 pp no seguinte encontro, com a Selic ficando em 13,25% ao ano (aa)”.
As ações das varejistas lideraram as quedas no Ibovespa. Via (VIIA3), Americanas SA (AMER3), Magazine Luiza (MGLU3) perderam respectivamente 7,92%, 7,71% e 6,55%. Os papéis da Vale (VALE3) recuaram 2,03%. Em contrapartida, os papéis da Eletrobras (ELET3 e ELET6) foram destaque de alta-subiram 5,30% e 3,99%- devido ao modelo de privatização da empresa.
José Costa Gonçalves, analista da Codepe Corretora, disse que o mercado está absorvendo o IPCA. “A alta assustou os investidores e o reflexo foi sentido nas ações de consumo”. Gonçalves não acredita que o Banco Central (BC) mude suas perspectivas para a inflação. “O Campos Neto [presidente do Banco Central] tinha sinalizado que o pico seria em abril, e com a redução na tarifa de energia elétrica isso deve melhorar”.
E acrescentou que “se o petróleo vier para o patamar de US$ 90 a US$ 95 o barril e o dólar se mantiver nesse patamar [R$4,70] poderá ter redução no preço do combustível, mas tem a variável guerra”.
O analista da Codepe Corretora ainda ressaltou a queda das ações da Vale em mais de 2%, apesar de seus pares em Londres estarem em alta. “Hoje temos dois momentos que chamam atenção. O banco norte-americano Merril Lynch está vendendo 3,1 milhões de ações da mineradora e na ponta compradora está o Itaú com 2,2 milhões de papéis”.
O dólar comercial fechou cotado a R$ 4,7130, com queda de 0,59%. A moeda foi diretamente impactada pelo IPCA, que aumentou 1,62% em março ante fevereiro, muito acima das projeções do mercado (1,33%). A disparada inflacionária aumenta as chances de a Selic (taxa básica de juros) ter seu ciclo de aperto estendido.
Segundo o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o driver de hoje é o aumento do IPCA, que subiu muito além do que o mercado esperava. Isso faz com que o Banco Central (BC) repense o aumento das taxas de juros”.
Komura entende que o Brasil continua sendo mais atrativo que seus pares emergentes: “Por mais que o BC esteja na frente, acho que ele precisa aumentar os juros”, opina.
De acordo com o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “tivemos um ciclo de valorização quase que ininterrupta do real. Os fundamentos técnicos continuam os mesmos, mas além de falta de opção de países emergentes para aportar este capital, sobrando apenas Brasil, México e África do Sul”.
Weigt aponta que, apesar de forte, o IPCA de março foi impactado principalmente por alimentação e serviços, com menos influência de Serviços, o que é positivo: “O BC não deve mudar a rota de apertomonetário”, projeta.
Para a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “seguimos o com o patamar de câmbio próximo dos R$ 4,75, e parece que o mercado não deixa isso ceder mais”.
Além do aumento mais agressivo (0,5%) que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) deve anunciar na próxima reunião, em maio, a guerra também segue no radar, contribuindo as volatilidades da moeda, além da pressão inflacionária, acredita Quartaroli.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte alta após a divulgação do IPCA de março surpreendentemente negativo.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,960% de 12,750% % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,430%, de 12,155%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,770%, de 11,530% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,500% de 11,300%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, numa semana que termina com perdas, com os investidores mais receosos após sinalizações por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que irá apertar sua política monetária, com aumento de juros e redução de balanços.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,40%, 34.721,12 pontos
Nasdaq Composto: -1,34%, 13.711,0 pontos
S&P 500: -0,26%, 4.488,28 pontos