Bolsa fecha em queda com temor de escalada da guerra Israel-Hamas e dados nos EUA; dólar sobe

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo- A Bolsa fechou em queda pela primeira vez na semana com o mercado temeroso de uma piora do conflito entre Israel-Hamas no fim de semana e entrada do Irã na guerra. Se esse cenário se concretizar, terá a disparada do petróleo, aceleração da inflação e juros mais altos.

Outro fator que contribuiu para o pessimismo foram os dados econômicos nos Estados Unidos hoje e ao longo da semana. O Ibovespa acumulou ganhos de 1,39%, na semana.

A grande maioria das ações do Ibovespa caiu. Os destaques positivos ficaram para as petroleiras e o setor de papel e celulose. Petrobras (PETR 3 e PETR4) subiu 3,14 % e 3,30%. As junior oils também acompanharam a valorização do petróleo. A Petrorio (PRIO3) liderou a alta do índice em 5,04% e 3RPetroleum (RRRP3) aumentou 3,19%.

Entre as exportadoras, Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) avançaram 3,37% e 1,46% com a valorização do dólar. O destaque de queda ficou para Casas Bahia (BHIA3), com baixa de 8,19% e Vale (VALE3) perdeu 1,14%.

Mais cedo, o índice de confiança do consumidor dos Estados Unidos, medido pela Universidade de Michigan e pela Thomson Reuters, caiu para 63,0 pontos em outubro. Já a expectativa de inflação de um ano da pesquisa foi de 3,8%, enquanto sua perspectiva de preços de cinco anos foi de 3,0%.

Ontem, a inflação ao consumidor (CPI, sigla em inglês) subiu 0,4% em setembro ante agosto e a previsão era de alta de 0,3% em base mensal e de 3,6% na comparação anual.

O principal índice da B3 caiu 1,10%, aos 115.754,08 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 1,32%, aos 115.810 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que a escalada do conflito no Oriente Médio e piora na confiança do consumidor norte-americano ajudaram na queda da Bolsa.

“O Ibovespa voltou do feriado com a necessidade de se ajustar às perdas de ontem, quando se ampliaram os temores com a inflação nos EUA, mas também acompanhou novos desdobramentos do conflito no Oriente Médio, além da forte queda das ações da Vale. As únicas ganhadoras nesta sessão foram as ações de empresas que podem se beneficiar do cenário, com ampliação da receita, como as petroleiras, pela alta da commodity, e exportadoras, devido à alta do dólar”.

Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, disse que o mercado reage ao cenário complexo externo. “Os investidores estão cautelosos com a iminência de invasão terrestre de Israel na Faixa de Gaza e reação do mercado aos indicadores que saíram tanto hoje e ao longo da semana reforçam a cautela no fim de semana, mesmo com os balanços positivos dos bancos nos EUA. Mais cedo, os dados da Universidade de Michigan com queda da confiança do consumidor e aumento da expectativa de inflação nos Estados Unidos e o CPI acima das expectativas ontem”.

André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, disse que a Bolsa cai com os investidores mais preocupados com a guerra. O fim de semana está aí com Israel prestes a iniciar uma invasão por terra na faixa de Gaza e o mercado fica com incerteza do que pode acontecer; o pior cenário seria o Irã se envolver diretamente na guerra, o que poderia elevar ainda mais as cotações do petróleo, já que em um evento de cauda como esse, o Irã poderia fechar o estreito de Ormuz, onde passa mais de 30% da exportação de petróleo do mundo, causando um choque de oferta ainda maior, e impactando o mercado como um todo; poucas empresas sobem com destaque para as do setor de petróleo e de papel e celulose-com o dólar e alta da celulose na semana.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que dois fatores contribuem para a queda da Bolsa. O temor de juros altos por mais tempo nos EUA com a guerra e a expectativa de inflação de Michigan que veio alta, a inflação ao produtor e ao consumidor nos EUA apontam para uma economia resiliente e, por isso, o trabalho do Fed será duro.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que os juros altos por mais tempo preocupam em meio à guerra com valorização do petróleo. Mercado realiza nessa toada de que os juros podem ficar mais altos nos Estados Unidos por conta da situação do petróleo e só as empresas de petróleo se beneficiando desse cenário. O Irã sinalizou aos Estados Unidos que controlem Israel para não acabar com a Faixa de Gaza porque se isso acontecer vai se tornar uma guerra regional. O impacto no petróleo é se o Irã fizer uma sanção ou até entrar no conflito, que é péssimo para o mundo por conta da inflação que pode gerar. Se acontecer vai ter um boom da commodity e traz a inflação para todos os países envolvidos e não envolvidos na guerra.

Investimentos disse que as exportadoras se beneficiam acompanhando o movimento do dólar, como Suzano e Klabin. A Vale e Gerdau também poderiam se beneficiar, mas com alguns dados da China sugerem enfraquecimento da economia chinesa, apesar de o minério de ferro ter subido hoje.

O dólar comercial fechou a R$ 5,088 para venda, com valorização de 0,74%. Às 17h05min, o dólar futuro para julho tinha alta de 0,77% a R$ 5,103,000. A aversão ao risco ganhou força no mercado internacional, trazendo preocupação aos investidores sobre a possibilidade do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ter que de subir mais os juros diante do cenário de guerra entre Hamas-Israel e potencial elevação do petróleo.

A pesquisa divulgada pela Universidade de Michigan com expectativa de aceleração da inflação contribuiu para a valorização da moeda. O índice caiu para 63,0 pontos em outubro, após atingir 68,1 pontos no mês de setembro. Já a expectativa de inflação de um ano da pesquisa é de 3,8%, enquanto sua perspectiva de preços de cinco anos é de 3,0%. O indicador das condições econômicas atuais da pesquisa é de 66,7 pontos.

Para Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, a alta da moeda estrangeira tem relação com juros mais elevados na maior economia do mundo mediante a valorização do barril de petróleo e expectativa de inflação de Michigan.

Leonardo de Santana, analista da Top Gain, disse que na abertura o impacto foi do CPI e piorou com a inflação de Michigan. “O CPI veio um pouco mais alto que o esperado e tinha uma precificação pendente do DXY do dia de ontem, com isso o movimento forte de alta foi visto cedo. Ao longo da manhã fechou a ficar no zero a zero antes do indicador de confiança do consumidor de Michigan que veio bom, mas a inflação de Michigan veio um pouco mais alta, o que fez o mercado subir mais, tem fluxo bem comparador”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros(DI) operaram em alta durante todo o pregão e, assim, fecharam a semana. Somente a taxa de 2024 tem leve recuo. A alta reflete o clima de aversão ao risco no mercado internacional, com o temor de uma escalada do conflito no Oriente Médio durante o fim de semana, restringindo ainda mais a oferta de petróleo.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,208% de 12,210% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,005% de 10,870%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,820%, de 10,635%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,010% de 10,820% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, sob pressão após o aumento nos preços do petróleo e da subida das expectativas de inflação, à medida que Wall Street encerrou a semana de forma volátil. Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,12%, 33.670,29 pontos
Nasdaq 100: -1,23%, 13.407,2 pontos
S&P 500: -0,50%, 4.327,78 pontos

 

Com Dylan Della Pasqua, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA