Bolsa fecha em leve alta, com alta do petróleo e da Petrobras, com inflação no radar; dólar sobe

546

São Paulo – A Bolsa fechou em leve alta, após um pregão bastante volátil e influenciado pelo cenário internacional e commodities, com o petróleo voltando a mostrar forte alta e o minério de ferro oscilando, em meio a novas promessas de estímulos do governo chinês para o mercado imobiliário. Petrobras subiu forte (PETR3; +3,57% e PETR4; +2,95%) e Vale (VALE3) fechou em leve alta (+0,33%), favorecendo a subida do Ibovespa. No entanto, a alta do petróleo também traz riscos à inflação global e reforça as chances de ter taxas de juros altas por mais tempo, o que é negativo para o mercado de ações. Com isso, os investidores seguem monitorando todos os dados da economia norte-americana, como um risco de ‘shutdown’.

O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou a sessão em alta de 0,11%, aos 114.327,05 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro avançou 0,11%, aos 114.930 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 18,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

O presidente da Câmara dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, rejeitou hoje (27) um projeto de lei provisória de financiamento que havia sido aprovado pelo Senado mais cedo, aumentando as chances de uma possível paralisação parcial de alguns serviços públicos norte-americanos por falta de financiamento. O prazo final para a resolução desse impasse é até 30 de setembro.

Hoje também o Departamento de Energia americano (DoE) divulgou os dados do estoque de petróleo bruto até sexta-feira da semana passada, que caíram em 2,2 milhões de barris, ou 0,5%, na semana encerrada em 22 de setembro, para 416,3 milhões de barris. Analistas previam baixa de 1,6 milhões de barris. Na gasolina, os estoques subiram em 1,0 milhão de barris, ou 0,5%, para 220,5 milhões de barris. Os estoques de outros derivados subiram em 400 mil barris, ou 0,3%, para 120,1 milhões de barris, ante previsão de baixa de 2,0 milhões de barris.

Outro indicador divulgado foi o de pedidos de bens duráveis nos Estados Unidos, que subiram 0,2% em agosto ante o mês anterior, registrando uma alta de US$ 500 milhões, totalizando US$ 284,7 bilhões, de acordo com dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Em julho, houve queda de 5,6% (dado revisado). Analistas projetavam baixa de 0,5% nos pedidos de bens duráveis de agosto.

Por aqui, os destaques foram a participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em uma audiência pública na Câmara para falar sobre política monetária e explicar um erro contábil no fluxo cambial, divulgado em janeiro pela instituição, atendendo pedido do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ).

O presidente do BC disse aos deputados que o processo de desinflação está em curso, mas ainda requer política monetária contracionista, o que reitera a redução da expectativa de cortes maiores na Selic.

Amanhã (28), o mercado acompanha a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos do segundo trimestre de 2023 e o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira (29), a divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) do país, considerado o principal indicador de inflação analisado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para balizar sua decisão sobre os juros.

No Brasil, ficam no radar do mercado financeiro as tramitações das reformas em Brasília e a repercussão da reunião entre o presidente Lula, o presidente do BC e o ministro Fernando Haddad, que ocorrerá após o fechamento do mercado, às 17h30.

Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, disse que em dia de “agenda morna”, com dados de pedidos de bens duráveis acima das expectativas, e de estoque de petróleo bruto nos Estados Unidos, recuando além do que era previsto. “Os dois indicadores refletem a resiliência da economia americana e quanto ela segue aquecida, sobretudo em função da demanda de petróleo bruto, mesmo com o preço do petróleo em patamares bem elevados. Já em bens duráveis, mostra que eles vem sendo muito demandados.”

Na sua avaliação, apesar do Fed ter mantido os juros inalterados, a economia segue bastante resiliente e, por isso, a expectativa do mercado é de juros futuros para cima. Isso também refletiu na alta dos juros futuros.

As petrolíferas Petrobras, Prio e 3R Petroleum fecharam em alta, refletindo o movimento do petróleo Brent ao longo do dia de hoje, batendo na casa de US$ 94,42 o barril, alta de 2,15%.

“Enquanto os Estados Unidos devem continuar com juros elevados por mais tempo, para conter a inflação por conta da economia ainda aquecida, no Brasil, continuamos num movimento de queda de juros, em linha com a decisão da última reunião e com a ata do Copom de ontem, sinalizando a manutenção do ritmo de 0,5 pp”, conclui.

Vinícius Steniski, analista do TC, pontua que o movimento do Ibovespa reflete a alta das commodities, especialmente o petróleo, que ajuda as ações, mas também eleva a preocupação com a inflação. “A nova política da Petrobras não ficou muito clara ainda, mas se houver um anúncio de reajuste, poderemos ver uma inflação um pouco mais acentuada.”

Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, avalia que o mercado já abriu precificando o sentimento positivo que veio do exterior após o acordo sobre o ‘shutdown’, que trouxe um alívio para as bolsas, que foram impactadas ontem com a notícia negativa. Já a Europa veio mais contida.

No Brasil, outros fatores positivos foram a divulgação dos dados do lucro industrial chinês e promessas de estímulos do governo ao mercado imobiliário, que trazem esperança de uma possibilidade de aquecimento da China, o que é bom para Vale e outras empresas brasileiras, diz o analista. “Isso influenciou a alta do minério de ferro e siderúrgicas com correção depois.”

As pautas de Brasília não trouxeram impacto para a Bolsa, na sua análise. “Hoje o Brasil está mais refém do cenário internacional, a pauta local não está fazendo tanto preço”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,15%, cotado a R$ 5,0463. A moeda refletiu, especialmente na parte da tarde, o temor de que o Congresso norte-americano não chegue a um acordo e ocorra um shutdown nos Estados Unidos.

Para o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, “os juros futuros subiram, nos Estados Unidos, com o medo do shutdown. É preciso que ocorra um acordo na Câmara”.

Komura, entende que mercado viu o pedido de bens duráveis, que subiram 0,2% em agosto, acima das expectativas (-0,5%), como um sinal aterrisagem suave (soft landing, na expressão em inglês), que consistente em controlar a inflação sem deixar de crescer.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, após o leilão dos títulos do Tesouro norte-americano, quando as taxas dos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) dispararam.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,285% de 12,265 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,970% de 10,790%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,880%, de 10,610%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,145% de 10,885% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,0598 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, recuando à tarde dos ganhos do início do pregão, à medida que uma alta nos juros dos Treasuries e nos preços do petróleo continuam a afetar o sentimento dos investidores.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,20%, 33.550,27 pontos
Nasdaq 100: +0,22%, 13.092,8 pontos
S&P 500: +0,02%, 4.274,51 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA