Bolsa fecha em alta de 1,85% com crescimento da economia brasileira; dólar cai

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Foto: Wagner Magni / freeimages.com

São Paulo- Após um agosto ruim, o primeiro pregão de setembro foi positivo para a Bolsa. O Ibovespa fechou em expressiva alta de 1,85%, com o resultado surpreendente do Produto Interno Bruto (PIB) do 2T23-cresceu 0,9% na base trimestral e 3,4% em termos anuais-, mostrando que a economia brasileira está forte.

Somado a isso, o exterior também trouxe boas notícias com os novos estímulos da China e o payroll norte-americano acima das estimativas. Na semana, o índice acumula ganhos de 1,77%

Hoje, poucas ações caíram, mas o destaque ficou para a ação de maior peso no índice, a Vale (VALE3), com a apresentação de uma boa performance. Os papéis dispararam 5,85% e ajudaram no movimento positivo do Ibovespa. A ação subiu com a alta do minério de ferro em um cenário mais favorável para a China. O banco de investimento JP Morgan também elevou a recomendação para compra da mineradora.

A Petrobras também fechou em alta de 3,32% e 2,16%. Itaú (ITUB4) avançou 0,87%.

Em palestra, mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no evento LIDE Brazil Development Forum, promovido pelo LIDE (Grupo de Líderes Empresariais), nos Estados Unido, comemorou o resultado do PIB. “O PIB veio muito bom, muito acima da média, e com elementos bons. Isso deve refletir em uma melhor arrecadação”.

Nos Estados Unidos, o relatório de emprego mostrou a criação de 187 mil vagas de trabalho contra a expectativa de 170 mil dos analistas. Mas a taxa de desemprego subiu 3,8% contra a estimativa de 3,5%, acima do esperado e o salário médio por hora trabalhada teve alta de 4,2% em base anual, abaixo do previsto – o mercado apostava no crescimento de 4,4%.

A boa notícia da China veio com os cinco principais bancos reduzindo as taxas de juros sobre depósito em Wuan. Além disso, o índice dos gerentes de compras (PMI, sigla em inglês) do setor industrial subiu para 51,0 pontos em agosto, indicando crescimento atividade econômica.

O principal índice da B3 subiu 1,85%, aos 117.892,96 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro avançou 1,48%, aos 119.460 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,5 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.

Arlindo Souza, analista de ações da casa de análise TC, comentou que o Produto Interno Bruto positivo aqui e o payroll nos Estados Unidos beneficiam a Bolsa. ” O PIB acima das expectativas ajuda a Bolsa performar bem, o que mostra que a economia está melhor e impulsiona as cotações das ações; a Vale e outras commodities estão puxando bem o índice, o payroll acima do esperado com o aumento da taxa de desemprego, acaba freando o crescimento da inflação”.

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos disse que o mercado gostou dos dados de emprego nos EUA e enxerga o fim da alta de juros por lá.

“O payroll veio bom apesar da criação de vagas ter vindo um pouco acima das projeções, a taxa de desemprego subiu bem e o crescimento dos salários menor que esperado e as revisões foram boas; o mercado recebeu muito bem. Tem que juntar os dados que saíram durante a semana, teve relatório Jolts que mostrou como está a criação de vagas e sinalizou de maneira muito clara que a demanda por trabalho está menor nos EUA, ADP [trabalho do setor privado] veio bom, os dados de inflação vieram mais baixos e PIB e mais fraco, mostra que o aperto monetário está fazendo efeito e as apostas aumentaram para o fim do aperto monetário, o que é bom pra Bolsa; a virada lá fora não foi por uma leitura diferente do payroll e sim pode ser o índice ISM [ atividade industrial subiu 47,6pts] que apesar de mostrar uma atividade em retração, veio acima do esperado e pode justificar essa mudança”.

Larissa Quaresma analista da Empiricus Research, disse que os dados positivos do PIB brasileiro e do relatório de emprego lá fora ajudam a impulsionar a Bolsa, após a véspera ruim.

“Apesar do payroll ter mostrado uma criação de vagas acima do esperado, o desemprego aumentou e isso é positivo do ponto de vista de política monetária, e o Fed fica menos inclinado a continuar subindo os juros, o aumento do salário médio por hora veio abaixo das expectativas- cresceu 0,23% na comparação mensal e a previsão era avanço de 0,3%- e isso é um dos principais indicadores antecedentes de inflação; aqui, após o dia de ontem péssimo para a Bolsa com as questões tributárias, coloca o pregão de hoje em posição técnica e dado positivo do PIB, muito acima das expectativas mostra que a economia segue em ritmo forte e inflação mais baixa. A composição do PIB, na margem, é um pouco pior em relação à política monetária, no sentido que no 1T23 o que puxou o PIB foi a balança comercial e o consumo das famílias estava mais baixo, já no 2T23 foi mais voltado para a economia doméstica, o que piorou foi o agro com base de comparação, mas mesmo assim indicando que a economia está forte e a taxa de juros continua caindo; o fiscal fica no radar”.

Em termos de Bolsa, Larissa continua otimista para a Bolsa e destaca três fatores. “Do ponto de vista técnico de valuation, está bem abaixo da média histórica-fazendo referência o período de 10 anos– são momentos bons para investir em bolsa, segundo o corte de juros vai continuar e a avaliação de múltiplos vai ganhando intensidade à medida que juro vai caindo e o terceiro ponto é o efeito que vai surtir na economia- daqui a quatro trimestres a gente vai ver o impacto dos juros que vai ter na economia, mas precisa estar posicionado agora”.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester, disse o PIB do 2T23 surpreendeu o mercado. “O resultado do PIB pegou o mercado de forma inesperada e impactando positivamente em termos de atividade econômica. O que pode acontecer hoje é esvaziar algum ritmo mais acelerado de corte da Selic com esse PIB mais forte. Ainda veremos a taxa de juros caindo, mas não mais naquela velocidade a mais. Além disso, é importante ressaltar que a indústria e serviços foram os principais setores que vieram com o crescimento mais forte. O agro permanece em um cenário elevado de entrega para a economia brasileira”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,21%, cotado a R$ 4,9394. A sessão foi marcada pela divulgação do payroll, nos Estados Unidos, e pela alta do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre (+0,9% ante expectativas de +0,3%). Na semana, a moeda teve valorização de 1,33%.

Para o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, apesar da oscilação dos juros das Treasuries (títulos do Tesouro dos Estados Unidos) o real segue performando melhor que seus pares emergentes.

De acordo com o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o PIB melhor que o esperado ajuda o real, amenizando os ruídos fiscais.

Rostagno considera que o payroll “foi muito melhor do que o esperado. Os dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos deram força para as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não suba mais os juros neste ano”.

Weigt chama a atenção para os dados de desemprego, pontuando que essa é a grande preocupação do Fed.

A taxa de desemprego, em agosto, foi de 3,8%, acima das projeções de +3,5%. Por outro lado, foram criadas 187 mil vagas no período ante previsão de 170 mil.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em mistas, seguindo as treasuries (títulos do Tesouro norte-americano), que abrem em resposta a dados sobre a economia norte-americana. Esses dados podem dar margem para uma postura mais hawkish por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,380% de 12,395% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,575% de 10,545%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,185%, de 10,165%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,355% de 10,165% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o dia em campo misto e a semana e alta, com os investidores avaliando o último relatório de empregos dos Estados Unidos e as perspectivas que ele traz para os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,33%, 34.837,71 pontos
Nasdaq Composto: -0,02%, 14.032,00 pontos
S&P 500: +0,17%, 4.515,77 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Julio Viana / Agência CMA