Bolsa e dólar caem por incertezas políticas e mau humor externo

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Foto: Pexels

São Paulo – O Ibovespa fechou com recuo de 1,07% aos 117.903,81 mil pontos, após cair mais de 2,5% e renovar as mínimas seguindo o mau humor do mercado externo com os investidores temerosos em relação à variante delta do coronavírus e  reflexo na economia mundial. Mas a maior cautela dos investidores fica por conta do mercado interno com os impasses no âmbito político e fiscal, e no aguardo da votação da reforma do Imposto de Renda (IR).

A fala do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, contribuiu para reduzir a queda do índice. Em um evento online promovido pelo Bradesco, Campos Neto reconheceu que existe grande ruído em relação ao novo Bolsa Família que faz com que haja elevação na expectativa de inflação.

Segundo o analista sênior Luiz Henrique Wickert, da plataforma de investimentos sim;paul, a Bolsa chegou toca as mínimas acompanhando as bolsas em Nova York, que também foram para as mínimas no interdiário, mas “tem muitos temores internos da parte fiscal, política e a PEC dos precatório”.

O analista sênior da plataforma de investimentos sim;paul chamou a atenção para a curva longa de juros que disparou para cima devido à política interna e explicou que “essa curva longa de juros têm impactado muito a nossa Bolsa e, principalmente nossas empresas de consumo”. O Banco Central (BC) afirmou que vai aumentar a os juros do País na próxima reunião do colegiado.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, afirmou que o mercado está seguindo a tendência desfavorável das bolsas no exterior pelo aumento da variante delta, dados da China mais fracos e tensão no Afeganistão, mas “o grande fator que tem impulsionado essa queda nos últimos dias é o ambiente interno, com a dificuldade de votar a reforma tributária, o governo flertando com o rompimento dos gastos seja por conta do aumento de programas sociais ou enquadrar algum tipo de despesa traz desconforto para os investidores”.

Moliterno ressaltou que a Bolsa perdeu no pregão de hoje uma pontuação importante, chegou a mínima interdiária de 116247,81 pontos. “Com nesse cenário interno, as empresas de varejo têm sentido muito mais por conta de inflação e  juros altos”.

O head de renda variável da Veedha acredita que a reforma do Imposto de Renda prevista par hoje deve ser mais uma vez adiada. O relator da proposta, Celso Sabino (PSDB-PA) alterou várias vezes o texto para poder complementar o setor empresarial e prefeitos e governadores.

Um fonte que não quis se identificar  comentou que “muitos investidores estão liquidando termo com prejuízo”.

O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano, Jerome Powell, deu poucas pistas em relação à retirada de estímulos na economia do país, mas mantém preocupação com o mercado de trabalho.

Mais cedo, as vendas no varejo nos Estados Unidos registraram queda de 1,1% em julho ante junho, decepcionando os analistas que esperavam recuo de 0,2%. Já a produção industrial subiu 0,9% em julho em comparação com junho e a estimativa do mercado era alta de 0,5%.

Em dia marcado pela volatilidade, o dólar comercial fechou em R$ 5,2670, com queda de 0,26%. Se em um primeiro momento a divulgação dos dados do varejo nos Estados Unidos foi abaixo do esperado, assim como as incertezas políticas e fiscais no âmbito doméstico, posteriormente a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apaziguou os ânimos, ao reforçar que a instituição está comprometida em frear a inflação.

Segundo o sócio da Ajax Capital, Rafael Passos, “o momento político é extremamente negativo, com a briga entre Executivo e Judiciário, além da parte fiscal que não ajuda muito. O mercado está muito sensível e a situação não está clara”.

Para Passos, apesar do esforço do Banco Central em segurar a inflação e Campos Neto reiterar o compromisso da instituição em segurar a alta dos preços, a situação é periclitante: “Lá fora ainda existe um alívio, apesar da aversão ao risco, enquanto aqui a situação não deve mudar nas próximas semanas. O dólar só não está mais elevado devido à política de juros do BC”, avalia.

Para o analista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, “não existe um consenso em torno da proposta do novo imposto de renda. Esse risco fiscal tende a neutralizar todos os benefícios trazidos pela política monetária do Banco Central. A taxa de câmbio não muda porque a política fiscal não deixa”.

O embate entre Executivo e Judiciário Além disso, o mercado internacional está em compasso de espera: “O ambiente externo é de risk-off, com aversão ao risco. Isso também se deve aos números ruins do varejo nos EUA e à questão regulatória chinesa, que divulgou uma série de guidelines para evitar a formação de práticas monopolísticas no setor de tecnologia, afetando ações de empresas como Alibaba”, pontua Ortiz.

As vendas no varejo dos Estados Unidos caíram 1,1% em julho ante junho, ante expectativa de redução de 0,2%. “A nova variante da Covid-19 pressiona muito o varejo nos Estados Unidos. Os dados, abaixo do esperado, enfraquecem o dólar no mercado”, disse o economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconeli.

No Brasil, o cenário político segue conturbado, em meio à expectativa de que o presidente Jair Bolsonaro peça ao Senado o afastamento dos ministros Luís Barroso e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mas Jaconeli enxerga sinais de redução na turbulência.

“Algumas sinalizações tanto do Barroso quanto do Bolsonaro dizendo que não veem risco para a estabilidade da democracia tiram um pouco a pressão política, que afeta bastante o câmbio”.

O economista também vê com bons olhos uma diminuição das alíquotas que afetam o mercado financeiro no novo imposto de renda – algo que está previsto para ser votado hoje na Câmara dos Deputados, a partir das 15h.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam com leves oscilações nos vencimentos mais líquidos depois de terem operado em alta praticamente desde a abertura do pregão, o que levou a um ensaio de realização de lucros na reta final dos negócios.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,660%, de 6,635% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,36%, de 8,38%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,60%, de 9,53% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,03%, de 9,95%, na mesma comparação.

A performance do varejo norte-americano em julho foi o gatilho para alimentar preocupações sobre uma desaceleração econômica em curso, fazendo com que os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fechassem o dia em queda. O Dow Jones caiu quase 300 pontos e, junto com o S&P 500, interrompeu uma forte sequência de recordes consecutivos.

Confira a variação e a pontuações dos índices de ações no fechamento:

Dow Jones: -0,79%, 35.343,28 pontos

Nasdaq Composto: -0,93%, 14.656,20 pontos

S&P 500: -0,70%, 4.448,08 pontos