Bolsa cai por corte na Selic; dólar sobe perto da máxima histórica

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – Após três dias de alta, o Ibovespa fechou em queda de 0,72%, aos 115.189,97 pontos, com investidores preferindo embolsar lucros e estrangeiros continuando a sair da Bolsa na ausência de gatilhos positivos para os mercados, passada a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) e a oferta de ações da Petrobras ontem.

Investidores também observam a forte alta do dólar e a possibilidade de previsões do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro começarem a ser revisadas para baixo em função do impacto do coronavírus na economia chinesa.

O volume total negociado hoje foi de R$ 28,3 bilhões, considerado elevado por analistas. Mais cedo, o índice chegou a operar em alta refletindo o cenário externo mais positivo.

“Ficamos meio sem gatilho positivo, a queda da Selic na reunião do Copom ontem já estava muito precificada, mas ao mesmo tempo foi uma queda que dividiu um pouco opiniões. O Ibovespa pode ficar um pouco travado agora na espera da continuidade de reformas”, acredita o analista do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, que vê o índice com dificuldades de ultrapassar os 116 mil pontos, que parece ser um novo teto.

Cozzolino ainda cita que, além de esperar reformas, investidores vão ficar de olho em indicadores domésticos e da China, tentando calcular o impacto negativo do coronavírus no PIB chinês e, consequentemente no PIB do Brasil, o que pode levar a uma revisão para baixo de previsões deste ano. Amanhã, por exemplo, serão observados dados da balança comercial chinesa de janeiro.

Para o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, a queda de hoje também reflete a percepção de ausência de motivos para a alta da Bolsa no curto prazo, o que faz com que investidores prefiram vender e realizar lucros sem gatilhos específicos.

Já para o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, a dinâmica dos últimos dias, de uma abertura mais forte e depois de redução de ganhos, foi mantida hoje, também com uma possível continuidade da saída de fluxo de investidores estrangeiros do mercado secundário. Ele lembra que no exterior, as Bolsas também subiam mais pela manhã e foram perdendo fôlego, embora os índices norte-americanos ainda tenham fechado em leve alta.

Entre as ações, as de bancos viraram ao longo do pregão pesando sobre o Ibovespa, com destaque para as perdas do Santander (SANB11 -2,23%) e do Banco do Brasil (BBAS3 -1,68%). Já as maiores perdas do índice foram da Braskem (BRKM5 -7,46%), da Fleury (FLRY3 -4,18%) e da Eletrobras (ELET3 -4,50%).

Na contramão, as maiores altas foram Cielo (CIEL3 4,69%), da WEG (WEGE3 3,55%) e da Petrobras (PETR3 2,69%; PETR4 2,78%). As ações da Petrobras reagiram bem à oferta de ações ordinárias que pertenciam ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que teve demanda considerada elevada e movimentaram R$ 22 bilhões.

Amanhã, além dos dados da balança da China, investidores devem ficar atentos a dados do mercado de trabalho norte-americano (payroll) e ao Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O dólar comercial fechou com forte alta de 1,10% no mercado à vista, cotado a R$ 4,2860 para venda – no segundo maior valor de fechamento da história – refletindo o movimento mais positivo do dólar no exterior em relação às moedas pares e de países emergentes e o movimento doméstico de ajuste e fluxo após o corte da taxa básica de juros (Selic) a 4,25%, menor patamar da história.

O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, avalia que hoje a procura pelo dólar “foi massiva” e no mercado local, a saída de investidores do mercado acionário “preterindo as ADRs (American Depositary Receipts, recibos de ação de empresas estrangeiras negociados na Bolsa de Valores de Nova York) da Petrobrás” no exterior, contribuiu para que o movimento se consolidasse por aqui.

“O real está muito frágil e sujeito a uma especulação adicional, sem nenhuma atuação oficial. Uma nova rodada de intervenção no câmbio é a única situação em que eu vejo uma chance mínima de estabilização da moeda”, avalia o diretor da tesouraria de um banco estrangeiro.

Amanhã, o destaque da agenda de indicadores é o relatório de empregos dos Estados Unidos em janeiro, o payroll, no qual analistas esperam a criação de 165 mil vagas de trabalho. Para o analista da Capital Economics, Michael Pearce, as demissões ocorridas na Boeing após a suspensão da produção do modelo 737 Max devem impactar de forma negativa o mercado de trabalho norte-americano.

Em contrapartida, o diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante, o indicador não deve fazer “tanta interferência” no dólar, devido a pressão altista da moeda no exterior. “A economia norte-americana já vem dando sinais de melhora. Talvez o resultado do payroll já esteja precificado e leve a moeda à correção”, diz.