Bolsa cai pelo 2º dia e dólar recua após BC

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Por Danielle Fonseca e Flávya Pereira

São Paulo – O Ibovespa fechou em queda pelo segundo pregão seguido, com perdas 1,10%, aos 114.380,71 pontos, em meio a maior cautela no exterior em função do coronavírus e antes do feriado na segunda-feira nos Estados Unidos, quando as Bolsas do país ficarão fechados e os mercados devem ficar esvaziados.

Na cena doméstica, o IBC-Br mais fraco do que o esperado pelo mercado e a proximidade do vencimento de opções sobre ações também colaboraram para o viés de queda hoje. O volume total negociado foi de R$ 19,735 bilhões. Já na semana, porém, o índice fechou em alta de 0,54%.

Segundo o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, seguem vindo notícias negativas da China, como a informação do jornal “People’s Daily” de que uma nova cidade chinesa, Honghu, na província de Hubei, foi posta em quarentena hoje. Ontem, investidores se assustaram com o salto no número de casos confirmados. Diante desse cenário, as Bolsas no exterior operaram sem direção clara hoje.

Já para o operador de renda variável da Commcor, Ari Santos, muitos investidores não querem ficar comprados antes do fim de semana e acabaram realizando um pouco de lucros, já que segunda-feira é feriado nos Estados Unidos. “Segunda-feira também é exercício de opções e os bancos estão caindo um pouco, não deixam o índice subir”, disse ainda.

Na cena doméstica, os dados da economia continuam sem mostrar força, com oíndice de atividade do Banco Central (BC), o IBC-Br, que é considerado uma espécie de prévia do PIB, caindo mais do que o esperado pelo mercado em dezembro. O número mais fraco, porém, alimenta especulações que a Selic podecontinuar a cair.

Entre as ações, alguns papéis de peso para o índice fecharam em queda hoje, caso dos bancos, como Bradesco (BBDC3 -2,69%; BBDC4 -2,25%) e da Vale (VALE3 -2,18%). Já as maiores perdas do Ibovespa são do BTG Pactual (BPAC11 -4,23%) e da Usiminas (USIM5 -4,34%), que refletem seus resultados financeiros do quarto trimestre.

Na contramão, as maiores altas do índice foram do IRB Brasil (IRBR3 5,64%), que buscou uma recuperação após quedas recentes, da Natura (NTCO3 3,49%) e da Marfrig (MRGF3 3,09%).

Na segunda-feira, a Bolsa pode mostrar uma redução de liquidez em função da ausência do mercado norte-americano. Ao longo da semana, investidores devem ficar atentos à ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano),ao IPCA-15 e a balanços de peso, como os da Vale e da Petrobras.

Já o dólar comercial fechou em queda de 0,71% no mercado à vista, cotado a R$ 4,3010 para venda, refletindo o alívio local após o Banco Central (BC) repetir a dose e colocar mais US$ 1,0 bilhão em contratos de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólar no
mercado futuro – após a moeda renovar máximas históricas ao longo da semana até chegar à R$ 4,38.

“Ao realizar um novo leilão de swap cambial, o BC deixou claro que não fica confortável com níveis para dólar superiores aos R$ 4,35. Curiosamente, contrariando o discurso do ministro [da Economia] Paulo Guedes, que defendeu a ideia de um dólar mais alto como bom para o país”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho.

Na semana, marcada pela sequência de máximas históricas, a moeda caiu 0,44% interrompendo seis semanas seguidas de alta e assim, registrando a primeira queda percentual na semana no ano.

Em relação ao alívio local após os recordes, os analistas da Capital Economics veem que, mesmo que a recuperação (do real) continue nas próximas semanas, o dólar terminará o ano mais fraco que seu nível atual. “O real tem sido a moeda emergente de pior desempenho até agora este ano, desvalorizando-se mais de 7% em relação ao dólar”, comentam.

Já a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, destaca que o contrato futuro para vencimento em março operou com queda mais intensa (ao redor de -1,22%, a R$ 4,2995) em viés de correção após a atuação do BC no mercado futuro. “Tem havido uma demanda de investidores estrangeiros, de fundos e de gestores por proteção do câmbio. Por isso, a intervenção foi no futuro, por essa demanda por hedge”, comenta.

Na segunda-feira, é feriado nos Estados Unidos, o que deverá reduzir a liquidez global, refletindo nos negócios locais. Para a economista da Veedha, mesmo que os negócios locais sejam mais fracos, o coronavírus deverá seguir no radar dos investidores e pode ancorar o movimento dos ativos na abertura dos negócios, ainda mais sem o mercado norte-americano.