Bolsa cai menos e se descola da forte aversão global ao risco; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em leve baixa, após operar quase toda a sessão entre altas e baixas, com o mercado precificando as políticas econômicas mais austeras no exterior, após Estados Unidos, Inglaterra e China anunciarem elevações das taxas básicas de juros e expectativa de recessão. Na visão dos analistas, a Bolsa brasileira saiu em vantagem em relação ao cenário de aversão global aos investimentos de risco.

O principal índice da B3 caiu 0,03%, aos 116.896,00 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro avançou 0,98%, aos 118.546 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Na China, autoridades também reafirmaram a política de tolerância zero contra a covid-19, após rumores de que Pequim estaria planejando alívios. Como reflexo, o papel da Vale, que têm forte peso no Ibovespa, fechou em forte queda, de 2,92%.

As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) fecharam em alta de 0,26% e 0,30% em dia de anúncio aprovação de distribuição de dividendos no valor de R$ 3,35 por ação preferencial (PN) e ordinária (ON) em circulação, ou R$ 43,68 bilhões no total, excluindo as ações em tesouraria. O petróleo, por sua vez, fechou em queda no mercado internacional impactado por temor de recessão e dólar forte.

Os investidores também acompanharam as movimentações do início da transação do governo federal, que ainda tem poucas definições, mas acende o alerta em relação a possíveis interferências na estatais, assim como ocorreu no atual governo. As ações ligadas à economia local e com menor peso na Bolsa saíram na frente.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, vê o mercado brasileiro se descolar do exterior. “Se o mercado fosse refletir o acumulado de ontem e hoje, deveria cair 5%, mas não vimos isso, está entrando com bastante força nos mercados, levando o dólar para baixo, ou seja, fazendo com que o real se valorize, e a Bolsa subindo bastante.”

Komura acredita que a Bolsa mantenha esse nível de alta, dado que o fluxo deve continuar nos próximos dias. “As ações do ‘kit Lula’, de educação, construção civil voltada à baixa renda e varejo devem ter alto potencial, enquanto o Ibovespa, por mais que a tendência seja positiva, ele não deve se beneficiar tanto quanto as empresas ligadas ao cenário doméstico”, avalia.

Na sua visão, China e estatais devem seguir impactando negativamente o índice. “A China não está dando sinais de que vai ajudar a siderurgia e mineração e, com todas as dúvidas envolvendo os papéis da Petrobras e Banco do Brasil, também não devem ajudar por conta das intervenções esperadas nessas estatais”, finaliza.

Ricardo Leite, head da Diagrama Investimentos, comentou que o índice operou parte da sessão no campo negativo refletindo a queda dos negócios no exterior na sessão de ontem após o tom um pouco mais duro do Fed, de que ainda existe espaço para subir o juros por lá.

Leite também avalia que, no cenário local, há o temor dos impactos econômicos que os bloqueios nas estradas poderiam causar e da divulgação dos possíveis nomes para o time econômico do próximo Governo. Por outro lado, o cenário favorecia as ações de shoppings e varejo, enquanto os ativos de maior peso operaram em baixa, como a Vale, Petrobras e os grandes bancos.

Vitor Carettoni, diretor da mesa de renda variável da Lifetime Investimentos, avalia que o saldo da Bolsa brasileira é mais positivo, que não caiu tanto quanto os mercados lá fora. O especialista comenta que o cenário está complexo para os investidores após tantas notícias, com impacto negativo da China, principalmente, que após de rumores indicarem a liberação, agora há mais informações indicando o endurecimento de bloqueios para atender a política de combate ao covid, o que afeta as commodities. O minério de ferro e o petróleo caem, assim como as ações de gigantes do setor como Vale e Petrobras.

“Além disso, a Inglaterra anunciou o aumento da taxa de juros, de 3%, o maior nível desde 2008, e uma recessão de agora até o final de 2024, o que joga a libra pra baixo, na esteira do aumento de 0,75 pp nos Estados Unidos. O mercado começou a reprecificar as curvas de juros por mais tempo após o anúncio de Jerome Powell”, diz Carettoni.

Luan Alves, analista-chefe da VG Research, vê o movimento do Ibovespa melhor que o do exterior com o mercado ainda reagindo em modo de cautela a um Fed mais “hawkish” ontem, reforçando que não é o momento de desacelerar no movimento de alta de juros, e que a China reforçando seu posicionamento na política zero covid também pesa no humor do mercado. “Vale cai 3% e o setor de mineração e siderurgia sofre no geral devido à China, empresas mais ligadas ao Varejo e Construção Civil continuam movimento de alta, destaque para Magazine Luiza + 4,5%. O Ibovespa descola um pouco do mercado internacional, com os investidores observando a transição de governo e discussões sobre o orçamento de 2023”, opina.

O dólar comercial fechou em alta de 0,23%, cotado a R$ 5,1240. A moeda operou descolada do exterior, e refletiu o intenso fluxo estrangeiro e a expectativa para a divulgação dos nomes que irão compor a equipe econômica de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “é uma tendência a curto prazo, e o real tende a se valorizar. O fluxo estrangeiro está muito forte, e o real pode chegar a R$ 5,00 facilmente”.

“A partir do momento em que tiver as definições da equipe econômica, e os nomes forem técnicos, o real deve se valorizar ainda mais”, aposta Komura.

Para o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o real tem performado melhor que as outras moedas. No curto prazo, eu vejo que as notícias sobre a equipe econômica vão mover o dólar muito mais que o mercado externo”.

O site O Antagonista divulgou, nesta manhã, que o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles teria aceitado ser o próximo ministro da Economia, desde que ele pudesse indicar os próximos presidentes da Caixa e Banco do Brasil.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta quinta-feira, acompanhando a decisão do FED (o banco central norte-americano) em elevar a taxa de juros no país para 4%.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,670% de 13,672% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,975%, de 12,920%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,770%, de 11,695% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,520% de 11,480%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava de lado, cotado a R$ 5,1130 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com perdas pelo quarto pregão consecutivo, com os investidores digerindo mais um aumento de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e passando a olhar para o relatório de empregos que será divulgado amanhã.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,46%, 32.001,25 pontos

Nasdaq 100: -1,73%, 10.342,9 pontos

S&P 500: -1,05%, 3.719,89 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.