Bolsa cai e dólar sobre diante cenário externo de cautela

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São Paulo – O Ibovespa fechou em ligeira queda de 0,07%, aos 102.829,96 pontos, descolando da alta de outras Bolsas no exterior, em um dia de ajustes e cautela à espera da divulgação de balanços e eventos previstos ao longo da semana. O índice oscilou entre perdas e ganhos ao longo do primeiro pregão de agosto, com papéis de peso como os da Petrobras, Bradesco e Vale recuando e impedindo o índice de se firmar em alta.

Para o sócio e head de produtos da Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini, apesar da recuperação de mercados acionários no cenário externo, o quadro ainda é de incertezas, lembrando que o Ibovespa já subiu por quatro meses seguidos.

“O mercado não está comprando tanto risco neste início de mês, o mundo está instável. As negociações do pacote de ajuda nos Estados Unidos travaram na questão do auxílio aos desempregados e investidores ainda estão aguardando o que vai acontecer com PMIs, indicadores e balanços. No Brasil, ainda tem a questão se vai ou não ter a criação de novos impostos”, disse.

No exterior, as Bolsas norte-americanas subiram amparadas pelo setor de tecnologia em meio a notícia de que a Microsoft pode comprar o aplicativo TikTok nos Estados Unidos. Demais Bolsas também avançaram em meio a dados positivos dos PMIs industriais na China e na zona do euro. Porém, estão no radar as negociações entre republicanos e democratas para a aprovação de pacote de ajuda à economia norte-americana, que estão divergindo sobre a extensão e valores do subsídio para desempregados.

Entre as ações, as de bancos mostraram volatilidade hoje, com o Bradesco, encerrando em queda, mas o Itaú Unibanco, conseguindo se sustentar em alta. O Itaú divulgará seu balanço trimestral ainda hoje. Segundo o economista-chefe da Codepe Corretora, José Costa, os resultados do segundo semestre do Itaú podem vir similares aos do Bradesco, que vieram dentro do esperado pelo mercado e com a diretoria do banco mostrando cautela com o cenário. “Os bancos devem ser conservados ao máximo, de olho na inadimplência”, afirma.

Os papéis da Petrobras, que também têm grande peso no índice, fecharam em baixa e seguiram mostrando fraqueza após a divulgação dos seus resultados trimestrais na semana passada, apesar da alta de mais de 1% dos preços do petróleo.

Já as ações da Vale, que subiam desde a abertura acompanhando a alta dos preços do minério de ferro, após dados positivos do setor industrial chinês, passaram a cair perto do fim do pregão. Por outro lado, as ações de siderúrgicas, como a CSN e Usiminas, fecharam entre as maiores altas com os preços da commodity.

Na agenda de indicadores de amanhã, além de acompanharem balanços, investidores ficarão atentos aos dados da produção industrial brasileira de junho, enquanto nos Estados Unidos serão divulgados os dados de encomendas às fábricas de junho.

Os próximos dias também prometem, com a decisão de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira e dados do mercado de trabalho norte-americano, conhecidos como payroll, na sexta-feira. Ainda está previsto que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vá ao Congresso falar sobre a reforma tributária nesta semana.

O dólar comercial encerrou a sessão de hoje em alta de 1,87%, sendo negociado a R$ 5,3140 para venda, em dia de movimento global de valorização da moeda norte-americana frente as demais divisas. Notícias sobre a volta do aumento dos casos de coronavírus, as tensões entre Estados Unidos e China, e a falta de um acordo para aprovação do pacote de estímulo norte-americana trouxeram cautela aos investidores.

“Hoje o investidor buscou proteção. Não quis se expor muito ou correr risco na primeira sessão do mês. Não é o momento para tomar muito risco. Tem muitas notícias negativas no radar, enquanto os indicadores econômicos estão vindo mistos. Não está dando para confiar muitos nos dados”, explicou um operador de câmbio de um grande banco.

“Percebemos que o movimento de alta do dólar é global quando olhamos o comportamento de outras moedas emergentes. Parece que o driver é uma questão mundial, com fator externo determinando o comportamento do mercado no país. Agosto ainda tem uma questão técnica, que é mês de férias no hemisfério norte, e isso acaba trazendo uma redução da liquidez”, explicou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.

“O que temos visto é o aumento das tensões entre os Estados Unidos e a china, o avanço de casos do coronavírus em partes do mundo, inclusive levado algumas economias a voltarem atrás em algumas medidas de reabertura, e outro ponto importante que tem deixado o início do mês mais negativo é a dificuldade de acordo entre republicanos e democratas para aprovação do pacto nos Estados Unidos”, afirmou Rostagno.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão com leves oscilações, rondando os níveis dos ajustes ao final da semana passada. Os investidores monitoraram a alta acelerada do dólar, ao mesmo tempo em que evitaram movimentações mais intensas na curva a termo, em meio à expectativa pela reunião desta semana do Copom.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2021 ficou com taxa de 1,895%, de 1,91% no ajuste anterior, na última sexta-feira; o DI para janeiro de 2022 encerrou em 2,67%, de 2,65% após ajuste ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 3,65%, repetindo o ajuste anterior; e o DI para janeiro de 2025 ficou em 5,18%, também nivelado ao último ajuste.

Nos Estados Unidos, os principais índices do mercado de ações iniciaram o mês de agosto em alta, apoiados em dados que mostraram uma queda nos casos do novo coronavírus e também em indicadores econômicos mais positivos.

O setor de tecnologia continuou liderando os ganhos. As ações da Microsoft subiram 5,62% depois de confirmar relatos de negociações para comprar o aplicativo de vídeo TikTok nos Estados Unidos. As negociações acontecem no momento que o presidente norte-americano, Donald Trump, ameaça proibir o TikTok por preocupações com segurança e os laços de sua holding com a China.