Bolsa cai e dólar sobe diante de aversão ao risco global

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Foto de Lorenzo / Pexels

São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 2,22%, aos 110.393,09 pontos, em um dia de forte aversão ao risco global com os investidores receosos diante de um cenário mais desafiador no mundo devido à possibilidade de uma estagflação – menor crescimento da economia e preços altos- em diversos países, preocupação com a gigante incorporadora chinesa Evergrande, aumento da energia e o impacto na economia, atenção ao teto da dívida dos Estados Unidos e a retirada dos estímulos.
Os fatores globais somados aos internos- os riscos fiscais com a possível prorrogação do auxílio emergencial e a inflação- levaram o mercado financeiro manter cautela na sessão de hoje.
Com a estreia de BDRs (Brazilians Depositary Receipts)- certificados que representam os papéis da corretora listados nos Estados Unidos – da XP Inc (XPBR31) na B3, foram negociadas 58,600 milhões de ações do Itaú (ITUB4) em um montante de R$ 1,424 bilhão e 9,940 milhões de BDRs da XP (XPBR31) em um volume financeiro de R$ 2,210 bilhões. Segundo uma fonte, como era de se esperar, o volume da XP e do Itaú foi mais que o dobro da média da semana passada.
Ricardo Oliboni, chefe de mesa da Axia Investing, comentou que a queda na Bolsa está relacionada à preocupação do investidor “com inflação, risco em torno da China e política monetária dos Estados Unidos”. E acrescentou que o cenário e econômico instável por aqui faz os investidores “buscarem outros caminhos para rentabilizar se capital”.
Segundo Matheus Jaconeli, economista da Nova Futura Investimentos, a forte queda na Bolsa é atribuída a uma aversão global aos ativos de risco. “Apesar da China estar em feriado, saiu uma nova notícia em relação à Evergrande em que uma das suas subsidiárias não ia negociar mais suas ações na bolsa e isso trouxe perspectivas negativas globais desde a abertura dos negócios”.
Outros fatores reverberam o pessimismo do mercado. “A possibilidade de que a China cresça menos e o mundo também, o aumento da energia que impacta vários preços da economia, ademais do problema da cadeia de produtiva fazem o mercado ficar mais cauteloso”, reforçou Jaconeli. Nos EUA, se o relatório de emprego (payroll, sigla em inglês) vier melhor, vai pressionar o mercado para a retirada de estímulos da economia norte-americana, causando cautela no mercado, destacou.
O economista da Nova Futura Investimentos também ressaltou que a questão fiscal deixa o mercado receoso “somado ao cenário externo”.
No lado positivo, o economista da Nova Futura Investimentos comentou a decisão da Opep+ de manter o aumentou gradual da oferta de petróleo e com isso as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) avançaram 2,44% e 2,82%, respectivamente.
Mais cedo alguns analistas do mercado financeiro ficaram surpresos com a queda forte no início do pregão e não conseguiram identificar o real motivo da perda. Luiz Henrique Wickert, analista sênior da plataforma de investimentos sim;paul, comentou que não notou nenhuma notícia específica para a perda e aposta em uma realização de lucros. “Não acredito que as informações sobre as empresas offshore do Guedes e do Campos em paraíso fiscal estejam fazendo preço”.
O analista sênior da plataforma de investimentos sim;paul acredita em uma realização diante da alta na sexta[fechou em alta de 1,73%]. “As ações do setor financeiro e empresas consumo estão liderando as quedas em um movimento de realização e, por outro lado, os papéis ligados a dólar e mercado externo se destacam”.
Os destaques de baixa na B3 entre as empresas de consumo são as ações Americanas (AMER3) e Lojas Americanas (LAME4) recuaram 8,30%.
A notícia divulgada na véspera de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mantêm empresas em paraísos fiscais, conhecidas como offshore, mesmo fazendo parte do governo Jair Bolsonaro não teve impacto no mercado financeiro.
O dólar comercial fechou em R$ 5,4460, com alta de 1,45%. A moeda norte-americana operou em alta durante toda a sessão, refletindo as incertezas em relação à desaceleração chinesa e a situação da Evergrande. Um acordo para o aumentar o teto da dívida, nos Estados Unidos, também é aguardado.
Para o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o dia está muito pesado para os emergentes, mas nós acabamos sofrendo mais por ter maior volume e ser um mercado extremamente líquido”.
Enquanto o mercado aguarda um acordo para aumentar o teto da dívida nos Estados Unidos, as luzes continuam amarelas para a China: “A ausência de notícias sobre a Evergrande se encaixa na habitual história da falta de informação sobre a China. Ela só divulga o que quer, tudo é muito nebuloso”, pontua Vieira.
“Não é um novo Lehman Brothers, nem um 11 de setembro, mas pode ser terrível para a China”, pontua Vieira, acentuando que o risco é maior para o país asiático do que para a economia global.
Segundo o analista de investimentos da Toro, Victor Lima, “existe grande receio vindo do exterior, com a ‘estagflação’ em diversos países. Ainda não vemos uma sinalização de aumentos de juros no Estados Unidos”.
Concomitante a isso, a falta de solução para o caso Evergrande ainda “pesa muito no mercado”. A desaceleração da economia chinesa também é preocupante, pontua Lima.
De acordo com a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, “existe muita cautela com a China, com a suspensão da aquisição da Evergrande. Isso gera grande aversão ao risco e valoriza o dólar ante as moedas emergentes”. A economista ainda sublinha que alguns analistas projetam o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês abaixo dos 8%.
Consorte, por outro lado, não vê as notícias sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, possuírem valores em paraísos fiscais como algo que interfira no câmbio: “É muito mais falatório”, pontua.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam a sessão em alta, acompanhando uma cautela no Brasil diante da revelação da notícia da existência de contas offshores do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e as consequências disso sobre o andamento das reformas econômicas.
O DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 7,220%, de 7,192% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,200%, de 9,125%; o DI para janeiro de 2025 fechou a 10,220%, de 10,160% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,610%, de 10,550%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo com fortes quedas na área de tecnologia em meio a uma queda ainda inexplicável de diversos serviços.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos:
Dow Jones: -0,94%, 34.002,92 pontos
Nasdaq Composto: -2,14%, 14.255,5 pontos
S&P 500: -1,29%, 4.300,46 pontos