Bolsa cai e dólar sobe com aversão aos países emergentes

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Foto: Pexels

São Paulo – O Ibovespa chegou a cair mais de 2% no pregão desta segunda-feira com o efeito Turquia, que pressionou os papéis dos países emergentes, e a queda das ações das siderúrgicas. No meio da tarde, o discurso do ministro da economia, Paulo Guedes, reforçando a necessidade da vacinação em no máximo três a quatro meses contribuiu para diminuir a queda. O Ibovespa encerrou os negócios com recuo de 1,06%, aos 114.978,96 pontos.

O ministro falou com a imprensa durante a divulgação dos resultados da arrecadação de fevereiro. Ele também afirmou que a economia deve ser impactada com a segunda onda da pandemia da Covid-19.

A demissão do presidente do Banco Central do país emergente, Naci Agbal, por aumentar a taxa de juros do país sem o consentimento do presidente da Turquia, Recep Tayyan Erdogan, levou à desvalorização da lira turca, provocando um temor dos investidores em papéis de países emergentes, como o Brasil. A moeda do país chegou a cair 17%. Segundo o analista Henrique Esteter, da Guide Investimentos, os investidores estrangeiros são os principais compradores que se afastam dos ativos de risco. “Eles olham esses papéis de emergentes como um bloco único”, afirma.

Mas na visão de Esteter, o que promoveu a queda no Ibovespa foi a notícia das medidas para controlar a poluição no polo siderúrgico da cidade de Tangshan, na China, que se intensificaram e isso impactaram nos papéis das companhias de aço. “Há duas semanas, o minério de ferro vem mudando sua tendência em linha com esses receios trazidos da região”, comentou.

Os papéis da Vale (VALE3) registraram queda de 1,65%, da CSN (CSNA3) perderam 1,71% e da Gerdau (GGBR4) despencaram 3,03%. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) também derrubaram o Ibovespa e caíram 1,87% e 2,00% respectivamente.

Para o analista Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, a desvalorização da moeda turca repercutiu nos emergentes porque os investidores se afastaram dos ativos de risco. “Essa queda gerou contaminação em papéis de países como Brasil, México e África do Sul”, afirmou.

Apesar de as iniciativas importantes tomadas, no fim de semana, por banqueiros e economistas e pelo setor empresarial brasileiro para o combate à pandemia e fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que “a vacinação em massa é a melhor política fiscal”, segundo Zuffo, o que vai melhorar o desempenho do mercado acionário é “o aumento da vacinação e alívio da pressão nas UTI”, conclui.

O descontrole da pandemia preocupa muitos os investidores. O Brasil já tem quase 295 mil mortos pela Covid-19.

O dólar comercial fechou em alta de 0,60% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5180 para venda, interrompendo uma sequência de quatro quedas seguidas, reagindo à forte desvalorização da lira turca após a crise no banco central do país, o que contaminou as moedas de países emergentes. No fim de semana, o presidente da Turquia, Recep Erdogan, demitiu o chefe da autoridade monetária turca.

“Essa demissão pesou e colocou uma luz um pouco mais pessimista sobre os mercados emergentes”, comenta o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz. A analista da Terra Investimentos, Heloïse Sanchez, acrescenta que a divisa turca chegou a cair mais de 15% em reação à intervenção de Erdogan. Na semana passada, o BC da Turquia elevou a taxa básica de juros em dois pontos percentuais, de 17% para 19% ao ano, o que culminou na demissão de Naci Agbal.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, diz que além do “evento Turquia’, a crise no sistema de saúde no Brasil, em meio ao avanço das infecções e mortes por covid-19 no país, também preocupa os mercados e adiciona uma cautela local. Hoje, o Brasil é o segundo país com mais casos de contaminações e óbitos, atrás apenas dos Estados Unidos.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais esvaziada, o destaque fica para mais um dia de discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos. Enquanto aqui, o Banco Central (BC) divulgará a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada.

“O mercado está atento em quão duro [‘hawkish’] vai ser o comunicado do BC em relação à alta recente dos preços. Se a autoridade monetária reiterar o tom meio “hawkish”, meio “dovish” [suave] como na semana passada, o alívio na taxa de câmbio não será tão forte. Caso contrário, vai ser”, finaliza o economista da Guide.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta em um dia no qual os investidores buscaram distância dos ativos de risco tanto no cenário local quanto nos mercados financeiros internacionais.

Lá fora, a aversão ao risco foi alimentada pela terceira substituição em dois anos do presidente do Banco Central da Turquia. No cenário local, aumenta a pressão sobre o governo Jair Bolsonaro para que mude de postura diante da pandemia.

Hoje, o DI para janeiro de 2022 encerrou o dia com taxa de 4,605%, de 4,600% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,290%, de 6,205%; o DI para janeiro de 2025 ia a 7,73%, de 7,56% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,22%, de 8,04%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos encerraram o pregão em campo positivo liderados por papéis da tecnologia depois que os juros projetados de títulos do Tesouro caíram.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,32%, 32.731,20 pontos

Nasdaq Composto: +1,23%, 13.377,50 pontos

S&P 500: +0,70%, 3.940,59 pontos