Bolsa cai com temor de alta de juros por mais tempo nos EUA; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa devolveu parte dos ganhos da véspera e fechou em queda após o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, reforçar que as taxas de juros nos Estados Unidos podem acelerar mais que o previsto, frustrando o mercado.

Powell enfatizou a prioridade no combate à inflação e os investidores já ficam de olho nos dados do relatório de emprego (payroll, sigla em inglês), que serão divulgados na sexta-feira (10) para ver as chances de um aumento maior de 0,50 ponto porcentual (pp) para a próxima reunião nos dias 21 e 22.

As ações da Petrobras (PETR ON e PETR PN) também pesaram no índice, já vinham em queda desde a manhã “reagindo mal à perspectiva de investimento em eólicas offshore através do acordo com a Equinor”, segundo Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, mas pioraram com a desvalorização do petróleo.

Petrobras PN e Petrobras ON caíram 3,02% e 3,31%. 3RPetroleum (3RRRP) e Petrorio (PRIO3) também recuaram 1,85% e 3,00% acompanhando a queda do petróleo.

A Vale (VALE3), ação de maior peso no índice, recuou 0,95% ainda impactada pela China. Na ponta positiva, as companhias aéreas mantiveram o movimento positivo da véspera refletindo os acordos comerciais que a Azul fez com os arrendadores de aeronaves. Azul (AZUL4) subiu 20,12% e Gol (GOLL4) avançou 5,66%

O principal índice da B3 caiu 0,45%, aos 104.227,93 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 0,51%, aos 104.430 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group, disse que o mercado reage às falas do Powell “de que teremos taxas de juros mais altas do que o esperado nos EUA e acreditamos que o risco é ver a taxa terminal mais para 6% que 5% e vai demorar mais para cair; continua como pano de fundo importante a meta de crescimento da China menor que a expectativa e acreditamos que fizeram[os chineses] uma projeção menor para bater a meta e apostamos que o país asiático vai se recuperar com velocidade e impacto será positivo no preço de commodity”.

Eduardo Moutinho, analista de mercado da fintech Ebury, disse que Powell “reconheceu que os números de fevereiro mostraram uma pressão maior no mercado de trabalho e nos preços, que está acima da meta do Fed, e acabou reafirmando que eles [os dirigentes do Fed] estão preparados para aumentar os juros acima do que o mercado precifica hoje para conseguir trazer a inflação de volta para a meta; existe a possibilidade de 40% em aumentar 50 pp na próxima reunião, mas ainda temos dados de payroll, inflação e vendas no varejo e números habitacionais que podem movimentar essa precificação”.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse a Bolsa reflete o cenário externo com o tom mais agressivo de Powell e ainda o ambiente interno adverso.

“O Powell [Jerome Powell, presidente do banco central norte-americano] disse que vai continuar subindo os juros até onde for necessário; a XP traz uma expectativa de mais três aumentos de 0,25 pp (pp), o que levaria os juros a 5,5%, mas cada dado econômico é avaliado nos EUA; a Petrobras e a Vale seguem realizando, com as empresas voltadas à China ainda refletindo a meta de crescimento do país pior que o esperado; por aqui volta de atrito entre governo e BC corroborado pelo cenário externo”.

Segundo um gestor de investimentos de um grande banco, com as indicações de Powell “aumentaram as chances para a elevação dos juros em 0,50 ponto porcentual (pp) na próxima reunião dos dias 21 e 22”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,54%, cotado a R$ 5,1940. Isso é reflexo do mercado que precifica um ciclo contracionista mais duro nos Estados Unidos.

Segundo o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o dólar está em linha com o movimento global, e o discurso do (presidente do Fed, Jerome) Powell foi bem duro. O mercado acha que dependendo dos dados da economia dos Estados Unidos, o aumento pode passar de 0,25 ponto percentual (pp) para 0,50 pp e o dólar se apreciou”.

Para o economista da Guide Research Rafael Pacheco, “em comparação com o último discurso dele, a fala do Powell foi hawkish (severa, propensa ao aumento dos juros), mas eu não vi nada além do que já estávamos vendo em discurso de outros membros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano)”.

Pacheco sublinha que Powell reforçou os dados econômicos que pioraram depois da última reunião e que as taxas de juros devem permanecer altas por mais tempo, e deixou claro que não haverá cortes nas taxas neste ano.

De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “a pressão de grande parte dos indicadores econômicos em termos de mercado de trabalho, em partes atividade econômica e inflação, estão assustando os investidores, com a possibilidade cada vez mais concreta de um ciclo mais intenso de aperto monetário do que o atualmente projetado. Para o Fed, a tentativa de um ‘pouso suave’, ou seja, evitar que a elevação de juros chegue ao ponto de criar recessão, mas que controle a inflação é uma meta que se afasta a cada dado de atividade forte ou inflação acima das expectativas”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda, apesar do discurso duro de Jerome Powell. O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,190% de 13,270% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,620%, 12,705%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,760%, de 12,875%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,970% de 13,100% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1910 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda depois que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, disse ao Congresso que as taxas de juros provavelmente terão que ficar ainda mais altas diante da inflação persistente.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,72%, 32.856,46 pontos
Nasdaq Composto: -1,25%, 11.530,3 pontos
S&P 500: -1,53%, 3.986,37 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Julio Viana / Agência CMA.