Bolsa cai 1,02% com acirramento da crise no leste europeu; dólar recua 0,70%

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São Paulo – Em dia de feriado nos Estados Unidos e pouca liquidez, a Bolsa encerrou os negócios em queda e perdeu mais de 1,5 mil pontos após o presidente russo, Vladimir Putin, decidir reconhecer a independência das regiões do leste da Ucrânia- Donetsk e Luhansk-, o que provocou reações do governo norte-americano. O presidente do país, Joe Biden, disse que aplicará sanções à Rússia e as pessoas e empresas das regiões ucranianas separatistas.
Com a ameaça de uma guerra, os contratos futuros de petróleo-tipo Brent e WTI- fecharam em forte alta.
Na primeira metade do pregão, a Bolsa chegou a operar em leve alta sustentada pelas empresas de commodities, como Vale e Petrobras, mas acabou mudando de direção com a crise no leste europeu.
O principal índice da B3 caiu 1,02%, aos 111.725,30 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 0,95%, aos 113.040 pontos. O giro financeiro era de R$ 18,4 bilhões.
Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, comentou que o cenário externo com a crise da Rússia está movimentando todos os negócios. “A ameaça iminente da Rússia reconhecer a independência do leste da Ucrânia gera mais estresse porque poderia acirrar o conflito.” O índice futuro norte-americano S&P registrou queda.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, comentou que esse movimento mais positivo na Bolsa pode ser uma antecipação de balanços de empresas como da Vale e Petrobras, que serão divulgados ao longo da semana, e setores que se beneficiam com a crise externa.
“O mercado começa a montar posição para operar esses resultados corporativos com um pouco de antecedência. Outro fator é que setores no Brasil como petróleo e agrário-empresas com exposição à produção de milho-acabam se posicionando bem para aproveitar uma eventual escassez de oferta caso as tensões entre Rússia e Ucrânia virem uma guerra”.
Com a perspectiva de alta da inflação, os papéis das varejistas caíram. Magazine Luiza e (MGLU3), Lojas Renner (LREN4) e Americanas S.A (AMER3) perderam respectivamente 5,34%, 4,45% e 6,61%. As ações das Americanas refletiram a notícia sobre ataque de hacker, na véspera, nos servidores da e-commerce. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 2,70% e 2,57% respectivamente. A Vale (VALE3) aumentou 0,08%.
O dólar comercial fechou em queda de 0,70%, cotado a R$ 5,1050. A moeda brasileira foi novamente beneficiada pelo forte fluxo estrangeiro na bolsa, além da diminuição da tensão na Ucrânia e consequente diminuição da aversão global ao risco.
Segundo a equipe da Ouro Preto Investimentos, “o fluxo continua sendo o principal fator. Por mais riscos que o Brasil apresente, ele vem se mostrando uma boa opção ante a China e, principalmente, à Rússia no mercado de commodities”.
A situação geopolítica, porém, ainda requer cuidados: “A Ucrânia continua com incertezas, por mais que possa haver conversas durante a semana”, alerta a Ouro Preto.
Para o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano, “o movimento do real ainda é de correção. No fundamento técnico, o valor gira em torno de R$ 5,00, com alguns modelos indicando até R$ 4,90”.
Os problemas fiscais, contudo, ainda preocupam: “O governo tentar controlar o preço dos combustíveis não significa que a inflação vai ficar sob controle”, explica Serrano.
De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “os mercados ensaiam uma recuperação após (o presidente dos Estados Unidos, Joe) Biden e (o presidente russo, Vladimir) Putin aceitarem encontro de (presidente da França, Emmanuel) Macron para discutir a situação na Ucrânia”.
Este clima de menor aversão ao risco também é influenciado pelas commodities: “O dólar deve ter nova sessão em queda, seguindo dinâmica no exterior”, projeta Borsoi.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operam em queda em dia de aversão a risco e antes de divulgação do IPCA-15, na quarta-feira (23). O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,375% de 12,380% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 11,935%, de 11,975%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,340%, de 11,400% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,210% de 11,310%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em queda, cotado a R$ 5,1020 para venda.