BCE deve reduzir ritmo de compras de ativos e manter juros intactos

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Eurotower, sede do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt / Foto: BCE

São Paulo – A reunião de amanhã do Banco Central Europeu (BCE) deve manter inalteradas as taxas principais do órgão, mas deve anunciar uma diminuição no ritmo de aquisição de ativos via programa de compra de emergência pandêmica (PEPP, na sigla em inglês). A intenção, no entanto, não é iniciar um processo de redução gradual na ferramenta, mas sim testar a resiliência da economia europeia em meio a recentes melhoras.
Segundo analistas consultados pela Agência CMA, como a situação econômica do continente continuou a se desenvolver conforme o esperado nas projeções de junho, o BCE deve reduzir moderadamente o ritmo da meta para suas compras de PEPP – efetivamente revertendo a decisão de março de acelerar as compras.
“Embora isso crie um caminho potencial para encerrar o PEPP a partir de março, o BCE enfatizará que esta decisão não marca o início de qualquer redução real do programa”, afirma o estrategista sênior do Rabobank, Bas Van Geffen.
Para ele, está claro que a pandemia está longe de ter acabado com o avanço da variante Delta do novo coronavírus trazendo aumentos de casos da doença em toda a Zona do euro. Dessa forma, um abandono completo de medidas acomodatícias está fora de questão para o BCE.
Assim, a taxa básica de juros deve ficar em zero; a taxa de depósitos, em -0,5% ao ano; e a taxa da linha mantida com bancos comerciais para concessão de liquidez de curto prazo, em 0,25% ao ano.
“Uma decisão sobre a duração do PEPP provavelmente não será tomada até a reunião de dezembro. No entanto, vários membros do Conselho de Governadores disseram que uma avaliação do ritmo de compra do PEPP ocorrerá na reunião de setembro”, afirma o analista chefe da Nordea, Jan Von Gerich.
De acordo com ele, as taxas reais de longa duração do bloco caíram notavelmente desde o início deste ano e oscilam em torno de baixas recordes. “A taxa de câmbio efetiva do euro está mais fraca em comparação com março, quando o BCE decidiu aumentar o ritmo de compra. As expectativas de inflação implícitas no mercado mantiveram-se em tendência de alta”, exemplificou Von Gerich.
Tanto ele como Van Geffen, do Rabobank, concordam que, no geral, as condições de financiamento estão mais fáceis e os movimentos recentes do mercado devem apoiar aqueles que defendem um ritmo mais lento de compra.
“Embora o BCE tenha afirmado que o recente aumento da inflação é transitório, os riscos de alta já haviam aumentado na reunião de julho. Os números da inflação de agosto provavelmente aumentaram ainda mais os riscos de alta nas mentes de pelo menos alguns membros do Conselho do BCE, portanto, muitos membros provavelmente argumentarão que também a evolução recente da inflação apoia um ritmo mais lento de compras”, afirma o economista chefe para Europa do Capital Economics, Andrew Kenningham.
Ele acrescenta também que, caso o BCE decida encerrar as compras líquidas de PEPP até março de 2022 ou logo depois na reunião de dezembro, se o nível inicial for inferior essa decisão será mais bem aceita pelo mercado.
PROJEÇÕES
As projeções dos especialistas do BCE devem revisadas ligeiramente para cima, tanto para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) como para a inflação em 2021, afirmam os analistas. “A evolução real foi bem melhor do que o presumido durante o verão em ambos os indicadores. No entanto, um crescimento mais rápido do que o esperado em abril-junho provavelmente implica um crescimento trimestral menor para o terceiro e quarto trimestre do que o presumido anteriormente”, afirma Von Gerich, da Nordea.
De acordo com Kenningham, da Capital Economics, A variante Delta deve impactar fortemente o crescimento econômico, causando desafios às cadeias de abastecimento globais. “As perspectivas de crescimento para os próximos seis meses são ligeiramente mais fracas do que o esperado na projeção do BCE para junho. Isso implica que a previsão de crescimento para 2021 se aproximará de 5%, enquanto a previsão para 2022 cairá para 4%”, acrescenta Van Geffen, do Rabobank.
Em relação à inflação, tanto a inflação cheia quanto o núcleo da inflação devem ser revisados ligeiramente para cima tanto para 2021 quanto para 2022, explicam os economistas, o que se deve principalmente à inflação mais alta do que a esperada no verão.