Barros nega à CPI ter sido citado por Bolsonaro como ligado a corrupção

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O líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). (Foto: Pedro França / Agência Senado)

São Paulo – O líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-RN), negou, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga erros e omissões do governo no combate à pandemia de covid-19, ter sido citado pelo presidente Jair Bolsonaro como envolvido em esquemas de corrupção.

O deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirma que em 20 de março apresentou ao presidente Jair Bolsonaro indícios de irregularidades na compra da Covaxin, vacina contra a covid-19 fabricada pelo laboratório indiano Bharat Biotech. O deputado também disse que, durante a reunião, Bolsonaro mencionou ter suspeitas de que Ricardo Barros estaria envolvido no caso.

Hoje, à CPI, Barros disse que Bolsonaro questionou seu envolvimento no caso porque Miranda levou ao presidente uma reportagem a respeito de potenciais irregularidades envolvendo Barros em acordos anteriores com a Global Gestão em Saúde, sócia da Precisa Medicamentos, a companhia que estava intermediando a venda da Covaxin ao Brasil.

“Vem o Luis Miranda, faz um teatro aqui, fala que presidente falou meu nome. Ele, Luis Miranda, levou ao presidente a minha fotografia numa matéria do caso Global”, disse o deputado aos senadores. “Em todas as falas do Luis Miranda, o presidente perguntou se o Ricardo Barros estava envolvido na Covaxin, nunca afirmou”, acrescentou.

Barros foi questionado reiteradamente a respeito do depoimento de Miranda por integrantes da CPI, e houve confusão durante a reunião. O deputado disse reiteradas vezes que não foi mencionado por Bolsonaro na conversa com Miranda – embora ele próprio não estivesse presente quanto houve a conversa entre o deputado e o presidente – e chegou a dizer que a CPI estava criando uma narrativa para envolvê-lo em denúncias de corrupção.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), rebateu e disse que a comissão estava tentando aclarar a versão apresentada por Miranda, e interrompeu a sessão até que fossem exibidos os vídeos com o depoimento de Luis Miranda à CPI para esclarecer que o envolvimento de Barros era decorrente das declarações de Miranda, não de acusações vindas da CPI.

“Aqui, o deputado Luis Miranda disse que a pessoa a que [o presidente Jair Bolsonaro] se referia era vossa excelência”, disse Aziz a Barros, acrescentando que bastaria um desmentido do presidente da República para que Barros fosse dispensado de comparecer à CPI.

Barros disse que o presidente Bolsonaro já disse, quando reiterou que o manteria no cargo de líder do governo na Câmara, que confiava nele, e que isso equivalia a um desmentido. Também disse que Miranda não foi conversar com Bolsonaro para acusá-lo de envolvimento em irregularidades no caso Covaxin, e que o eventual surgimento de seu nome na conversa foi porque Miranda levou uma reportagem com a sua foto, referente ao caso da Global.

GLOBAL

O líder do governo na Câmara também negou estar envolvido em irregularidades com a Global. Quando foi ministro da Saúde, entre 2016 e 2018, Barros assinou um acordo com a Global para fornecimento de medicamentos que o Ministério da Saúde precisou comprar por determinação judicial. A empresa recebeu pagamento antecipado, mas o contrato não foi cumprido.

Barros disse que houve atraso na entrega dos medicamentos por causa de uma briga judicial entre a Global e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na qual a empresa venceu as disputas, o que a impediu de ser removida do contrato de fornecimento de medicamentos por algum tempo.

“A Global ganhou na Justiça o direito de exercer o contrato”, afirmou. “Não pudemos cancelar o contrato com a Global porque ela tinha decisões liminares a seu favor contra a Anvisa, que não quis liberar a empresa de apresentar licença de importação do medicamento que havia sido comprado.

“Saí do ministério em abril. Fez-se acordo com a Global para a devolução dos valores, e chamou-se a segunda colocada, que é a Sanofi, que é a dona da patente [dos medicamentos], que também atrasou”, disse Barros.

Questionado pelos senadores sobre o motivo de a Global ter recebido pagamento antecipado, ele disse que esta prática era “frequente quando os pagamentos eram para cumprimento de decisão judicial”.

Assista a íntegra da sessão abaixo: