Balanço tímido da Via deixa analistas do mercado em alerta

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São Paulo – A Via (ex-Via Varejo e dona das redes Casas Bahia e Ponto) divulgou ontem o balanço do primeiro trimestre de 2022, em que reportou lucro líquido de R$ 86 milhões no primeiro trimestre de 2022, baixa de 52,2% na base anual. A receita líquida totalizou R$ 7,4 bilhões no período, 2,0% menor que o visto no mesmo período do ano anterior, e o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, que exclui outras despesas e receitas operacionais, alcançou R$ 758 milhões no trimestre, alta de 29,8% na comparação anual.

Após a divulgação, o Bradesco BBI disse que para alcançar a margem Ebitda acima do esperado, a empresa reduziu o opex (menor número de lojas) e aumentou as taxas de participação do marketplace.

“A principal questão que se coloca é até que ponto a Via será capaz de reacelerar o crescimento no final do ano, ou em 2023, mantendo os níveis atuais de rentabilidade do Ebitda”, apontou os analistas do Bradesco.

Segundo o relatório do banco, é preciso ficar atento aos empréstimos inadimplentes. No primeiro trimestre, a inadimplência de 90 dias subiu para 9% da carteira. Não é um aumento preocupante, mas será uma métrica importante a ser monitorada até o final do ano.

Por fim, o Bradesco apontou que há pouco apetite entre os investidores nas condições atuais do mercado para comprar ações de crescimento de comércio eletrônico, principalmente quando o crescimento é baixo e as taxas de juros são altas, mesmo que as avaliações pareçam deprimidas. “Assim, mantemos nosso rating neutro e um preço alvo de R$ 5, com apenas pequenos ajustes em nossas estimativas.”

Para o Itaú BBA, o fraco desempenho da B&M continuou a reduzir as vendas líquidas, em 2% na comparação anual, embora melhorando em relação aos trimestres anteriores (SSS voltou a território positivo, indicando uma recuperação).

“A rentabilidade foi destaque no primeiro trimestre, com margem Ebitida acima do esperado de 10,2% (aumento de 2,5% na base anual), impulsionado pela redução de despesas. Somado a isso, há ações trabalhistas e de crédito em linha com a faixa de guidance (total de saída de caixa de R$ 392 milhões) e a estratégia ativa de monetização de crédito da empresa (monetizando R$ 308 milhões), que mostram os esforços na gestão do passivo e na preservação da estrutura de capital”, detalha o Itaú, que aponta o preço alvo da ações em R$ 4,70.

A Genial Investimentos mantiveram a recomendação neutra para a ação da Via após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre do ano, em análise que destacou o bom trabalho de redução de despesas e produtividade de vendas, mas ressaltou uma preocupação com o endividamento da companhia em um cenário macro mais desafiador de juros altos.

Os analistas de varejo Iago Souza e Laura Zioli avaliam que a companhia poderá sentir impacto nas vendas e também em seu endividamento de R$ 4,654 bilhões, que prevê amortizações de R$ 896 milhões neste trimestre, R$ 79 milhões no 4T22, R$ 1,625 bilhão em 2023, R$1,272 bi em 2024, R$ 392 milhões em 2025 e R$390 milhões em 2026.

Ao analisar a margem líquida da varejista no período, de 0,2% (-2,2 pp a/a), eles destacam que “o mercado certamente manterá os olhos bem abertos” para o indicador ao longo das próximas divulgações.

“Altamente alavancada, as despesas financeiras da Via cresceram 80% a/a. Considerando a Selic média do período, o custo da dívida subiu viu o CDI subir pouco mais de 8 pontos percentuais no período de um ano”, comentaram.

Ainda em relação às despesas financeiras, eles disseram que permanecem atentos em relação à amortização de dívida no valor de R$ 896 milhões, prevista para este trimestre, e questionam se a empresa optará por rolar o débito. “Uma coisa é certa: o caixa está diminuindo e a dívida de “longo prazo” vai virando de “curto prazo”. A ver.”

Eles também consideram que apesar do ótimo trabalho da empresa no enxugamento de despesas, a Via não conseguiu fugir da forte compressão (esperada) de sua para a margem de última linha (-220 bps). Analisando a cifra contábil, a companhia viu sua cifra cair 90% a/a, a R$ 18 milhões.

A Mirae Asset também ressalta que a questão de processos trabalhistas e créditos tributários é um um ponto a ser acompanhado e que pesou muito no comportamento de resultados recentes e no preço da ação, com forte poder de influenciar a linha final dos resultados da varejista.

No entanto, a corretora manteve a recomendação de compra para a ação mesmo considerando o resultado do 1T22 fraco e expectativa de vendas fracas no curto prazo, devido à piora no cenário econômico doméstico.

A análise aposta no potencial de crescimento dos negócios no mercado on-line e destaca que atualmente, cerca de 15% a 16% dos consumidores brasileiros fazem compras puramente on-line no país, o que aponta o potencial crescimento para este tipo de negociação para a empresa à frente (atualmente a Via detêm 13,6% de participação no mercado on-line do país).

“A Via pretende abrir mais 80 pontos de venda neste ano, especialmente no Norte e Nordeste do país, depois de ter inaugurado outras 101 unidades físicas em 2021 e totaliza atualmente 1.113 unidades físicas no Brasil”, comentou a Mirae, em relatório.