Aumento de custos pode afetar preços das ações CCR e Ecorodovias e paralisar obras

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São Paulo – O momento mais desafiador para o setor de infraestrutura para o curto prazo poderá afetar os preços das ações de empresas como CCRe Ecorodovias e levar a paralisação de obras, segundo especialistas. Às 12h29 (horário de Brasília), os papéis CCRO3 e ECOR3 recuavam 1,33% e 3,26%, respectivamente, em dia negativo do Ibovespa (-1,93%).

Em relação às ações do setor, a análise vem após a realização da na sétima rodada de concessão de aeroportos, ontem (18/8), pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), marcado pela baixa competitividade. “A perspectiva é que tal cenário se mantenha para os próximos leilões de infraestrutura até o final do ano. A baixa concorrência pelo aeroporto de Congonhas, ativo de grande porte que acabou atraindo apenas a espanhola Aena, que arrematou seu lote, reforça a visão de que a esperança de persistência de um cenário macroeconômico mais adverso deverá afetar o extenso pipeline de projetos de infraestrutura previstos em 2022-23”, comentaram os analistas da Levante.

Eles apontam que este quadro começou a ser delineado ao final do ano passado, com a dificuldade de atração de investidores para o leilão da rodovia Dutra, que atraiu apenas o grupo CCR. Desde então, o cenário tem se aprofundado, com uma série de leilões precisando ser cancelados às vésperas da data agendada, como o caso do leilão do Rodoanel, previsto em abril deste ano. “Além destes, demais certames também precisaram ser reformulados, de modo a se adequar a uma nova realidade de maiores custos operacionais previstos”, comentaram.

“A análise é de um momento mais desafiador para o setor de infraestrutura para o curto prazo, o que poderá afetar os preços das ações de empresas como CCR (CCRO3) e Ecorodovias (ECOR3)”, finalizam.

PARALISAÇÃO DE OBRAS

Dificuldades do setor da construção podem levar ao risco de paralisação de obras nos segmentos de obras viárias e de arte em 23,5% e 22,3%, respectivamente, aponta o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE).

Desde o ano passado, as construtoras estão enfrentando dificuldades com o aumento dos custos, primeiro, de matérias-primas e agora também com mão de obra.

Segundo a coordenadora de Projetos de Construção Civil do IBRE, Ana Maria Castelo, os orçamentos realizados previamente ficaram defasados e, dependendo do tipo de contrato, a obra pode começar a gerar grandes prejuízos e inviabilizar a sua continuidade. Entre julho de 2020 e julho de 2022, o INCC-DI (que mensura o impacto de preços na construção) subiu 31%. O aumento expressivo dos custos em curto período provocou grandes desarranjos organizacionais nas empresas da construção ao atingir contratos em andamento e as obras. Por isso, muitas delas vêm tentando renegociar seus contratos, explicou a economista.

Em resposta à enquete do FGV IBRE, a maioria das empresas indicaram que está tentando renegociar contratos. O percentual mais alto (70,5%) é o das empresas do segmento de infraestrutura para engenharia elétrica e obras de telecomunicações.

Um percentual relevante de empresas vem sendo bem-sucedido na negociação. Apesar disso, há ainda um percentual expressivo (31,3%) de empresas que não obtiveram resposta ao pedido de renegociação e um grupo de 21,6% do total que obtiveram resultados negativos ao seu pleito.

Face a essa situação ainda relativamente indefinida, o FGV IBRE consultou as empresas do setor sobre o risco de paralisação de obras e constatou que o risco de paralisação é relativamente baixo para o conjunto das empresas do setor da Construção. No entanto, mas há segmentos, como os de obras viárias e obras de artes, em que mais de 20% das empresas apontam risco de paralisação.

“Estes são segmentos que possuem contratos majoritariamente com entes públicos. O setor de obras viárias é responsável pela construção de estradas, ruas e engloba obras do metrô, por exemplo. O de obras de arte pela construção de tuneis, viadutos, pontes etc.”, explica o IBRE.

Em julho desse ano, o FGV IBRE introduziu quesitos especiais na Sondagem da Construção que ajudam a dimensionar a importância da questão e, principalmente, saber se há risco iminente de paralisações em obras. Vale lembrar que o setor da construção tem sido um importante gerador de empregos, contribuindo para a recuperação do mercado de trabalho nos últimos dois anos.

“A maioria está tentando renegociar contratos. O percentual mais alto é o das empresas do segmento de infraestrutura para engenharia elétrica e obras de telecomunicações”, concluiu o IBRE.