Após euforia da véspera, Bolsa fecha em queda de 1,76% e na semana sobe 3,09%; dólar cai

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São Paulo- No último pregão do trimestre, a Bolsa devolveu parte dos ganhos da véspera e fechou em queda de 1,76% com os investimentos tendo um sentimento mais realista sobre o arcabouço fiscal, anunciado na véspera pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad.

Os agentes econômicos questionam a proposta no que tange às despesas e arrecadação. Na semana, o índice fechou em alta 3,09%. No mês, recua 2,90% e no trimestre encerrou em queda de 7,15%.

Outro ponto que pesou na sessão de hoje foi a queda de 1,86% da Vale (VALE3), ação de maior peso do índice com a questão judiciais. Petrobras (PETR3 e PETR4) perdeu 2,17% e 2,16%.

O principal índice da B3 caiu 1,76%, aos 101.882,20 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 2,36%, aos 101.980 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no positivo.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que é um mix de pontos que levaram o Ibovespa à queda na sessão de hoje.

“Falas do Armínio Fraga impactaram, antes a gente não tinha nenhuma regra fiscal, agora temos e aparecem as críticas em torno do que foi proposto, principalmente em relação aos gastos, independente ou não do aumento da receitas, que é o grande ponto; a decisão do Dias Toffoli [ministro do STF] que favorece o questionamento da lei das estatais, semana que vem tem feriado e pode ter atraso na discussão do arcabouço e a Vale vai ter de depositar um valor de R$ 10,3 bilhões [por juízos causados na tragédia de Marian]; a ação está caindo e tem forte peso no índice”.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que “o índice devolve parte dos ganhos por conta do arcabouço fiscal, mas deve terminar a semana em alta. Petrobras e Vale estão em queda e construção sofre com alta da curva de juros; Armínio Fraga disse [em entrevista à Globo News] que não vê segurança de que as finanças públicas vão ser saneadas e a tendência é ter mais gastos e mais impostos em um país que gasta mal”

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que após a sequência de sessões em alta, a Bolsa tem um dia de ressaca “passada a euforia do arcabouço fiscal. A nova regra ajuda porque é uma materialização, mas em termos técnicos ficou muito estranho. O índice Small Caps (-1,62%) está caindo em linha com o Ibovespa. Os bancos estão indo bem, mas os pesos pesados como Petrobras e Vale não estão em um dia bom. Gerdau e Usiminas conseguem subir”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,54%, cotado a R$ 5,0690. A moeda refletiu, durante toda a semana, a melhora do ambiente externo e a divulgação do novo arcabouço fiscal. Na semana, mês e trimestre, a moeda norte-americana caiu 3,43%, 2,97% e 3,98%, respectivamente.

Segundo o economista da Guide Research Rafael Pacheco, o mercado enxerga sinais que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode ser mais moderado no ritmo do ciclo de aperto monetário.

Pacheco entende que “o arcabouço ainda faz preço, com uma semana positiva para os ativos locais. Houve uma certa conciliação com o mercado”.

De acordo com o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o principal driver da semana é o externo, com o dólar se desvalorizando frente às emergentes. A ausência de notícias ruins sobre os bancos faz com que o mercado continue em uma trajetória de alta”.

Rostagno entende que a reação à nova âncora fiscal foi positiva, mas moderada: “O arcabouço ainda apresenta muitas lacunas a serem esclarecidas pela proposta. Não conseguimos avaliar o quão crível ele é. Em linhas gerais, para o arcabouço funcionar é necessário o aumento de receitas”, diz, ainda apontando um cenário externo desafiador e a falta de harmonia entre Câmara e Senado.

Para a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, “os mercados locais começam a desanuviar após o anúncio tão esperado do arcabouço fiscal, que em linha gerais foi bem recebido, mantendo a taxa de câmbio em patamares mais baixos”.

Consorte entende, porém, que com o passar do tempo é possível que os ativos demonstrem instabilidade, embalados por uma postura mais conservadora da política monetária.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, em ajuste de fim de mês e com mercado digerindo o novo arcabouço fiscal.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,195% de 13,165% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,005%, 11,965%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,915%, de 11,900%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,080% de 12,080% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em alta, encerrando a semana, o mês e o trimestre também com ganhos, em meio à política restritiva do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e ao pânico nos mercados após o colapso do Silicon Valley Bank (SVB).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,26%, 33.274,15 pontos
Nasdaq 100: +1,73%, 12.221,9 pontos
S&P 500: +1,44%, 4.109,31 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA