Após corte de produção pela Opep+, aumenta pressão para que Petrobras aumente o preço dos combustíveis

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Foto: Divulgação/Petrobras

São Paulo – Com o aumento da defasagem do preço dos combustíveis no mercado nacional em relação ao internacional, em 8%, na gasolina, e em 3%, no do diesel, cresce a pressão para que a Petrobras anuncie reajustes. Nesta quarta-feira (5/10), a pressão aumentou após o anúncio de corte de produção de 2 milhões de barris por dia (bpd) a menos a partir de novembro, pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+), o maior desde abril de 2020, quando a pandemia de covid começou. Especialistas apontam que, nos próximos dias, o preço do barril deve chegar aos US$ 100, e um reajuste terá que ser anunciado.

Por outro lado, o governo Bolsonaro pressiona a Petrobras para só aumentar combustíveis após o segundo turno, já que o aumento do preço dos combustíveis poderia ter um efeito negativo sobre sua campanha de reeleição.

A Agência CMA já vem noticiando o assunto. Ontem, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) divulgou nota alertando sua preocupação com o uso eleitoreiro da Petrobrás, que tende a piorar nesse segundo turno das eleições.

Em relação à mudança de diretoria, a entidade disse que elas “estão em curso e podem ser anunciadas em breve”, atendendo a indicações do Palácio do Planalto, entre elas as diretorias financeira e de relações com investidores, e de relacionamento institucional, com o objetivo de acelerar projetos de desinvestimentos da estatal, contando, para isso, com um corpo de executivos de confiança do governo capaz de viabilizar privatizações a toque de caixa, até o fim do ano.

Medidas internas questionáveis estão sendo adotadas para facilitar demandas da presidência da República às vésperas das eleições, disse o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, referindo-se a recentes mudanças na composição dos comitês e do Conselho de Administração (CA), que facilitam trocas de executivos pelo presidente da empresa.

A representante dos trabalhadores no Conselho de Administração (CA) da Petrobrás, Rosângela Buzanelli, já havia questionado a falta de critérios técnicos na mudança da Diretoria de Transformação Digital e Inovação (DTDIT), aprovada às pressas pelo CA no dia 21 de setembro. Somente ela e dois representantes dos acionistas minoritários, Fernando Petros e Marcelo Mesquista, votaram contra a substituição do ex-diretor Juliano Dantas pelo atual Paulo Palaia, que, segundo os conselheiros, não tem qualquer experiência na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

A DTDIT é a diretoria responsável pelos investimentos do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes) e mobiliza um orçamento de R 3,2 bilhões, conforme alertou Petros em seu voto.

O Comitê de Pessoas (Cope) — que aprova substituições no alto escalão — passou a ter somente membros indicados pelo governo, sem nenhum conselheiro minoritário. Já o CA teve os seis conselheiros da União substituídos por indicação do governo durante a última assembleia de acionistas, em 19 de agosto. Dois deles — Jônathas Costa, da Casa Civil, e Ricardo Soriano, procurador-geral da Fazenda Nacional — foram reprovados pelas antigas estruturas internas da empresa, mas aprovados na assembleia. Eles são questionados na Justiça pela Anapetro (Associação Nacional de Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás) por conflitos de interesse no cargo, vedados pela lei das estatais.

O uso eleitoreiro da Petrobras por Bolsonaro foi um dos temas de uma reunião que a FUP realizou nesta terça-feira, 4, em São Paulo, com a Coordenação Nacional da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Chamamos a atenção para a ocupação de cargos estratégicos, de forma escusa, em diretorias com orçamentos relevantes, o que é altamente preocupante, diante da possibilidade de fraudes e corrupção para financiamento de campanhas eleitorais, alertou Bacelar.

Segundo a entidade, além de anunciar, praticamente a cada semana, reduções pontuais nos preços dos combustíveis, às vésperas das eleições, e pressionar a empresa a segurar preços até o próximo dia 30, sem mudar em nada a equivocada política de Preço de Paridade de Importação (PPI), a gestão bolsonarista da Petrobrás vem promovendo uma dança das cadeiras no alto escalão da companhia, com critérios políticos.

Ele destacou ainda as altas recordes nos preços dos combustíveis no governo Bolsonaro, com base no PPI: 118,4% na gasolina, 165,9% no diesel e 97,4% no gás de cozinha, entre 1 de janeiro de 2019 e 23 de setembro de 2022, nas distribuidoras.

ANÁLISES

A Ativa Investimentos minimizou esse tema, lembrando que o novo presidente indicado pelo presidente Jair Bolsonaro já foi orientado a seguir esse viés intervencionista, após a demissão dos CEOs anteriores alinhados à política de preços da Petrobras, que atrela o preço às cotações do petróleo no mercado internacional e do dólar. Embora a interferência seja negativa para a companhia, os analistas afirmam que esse fator já está precificado nos papéis. A incerteza está ligada ao futuro da companhia após as eleições.

“Desde a assunção do novo CEO, o mercado já absorve a atual disposição baixista da companhia perante os preços de derivados. Ainda assim, a conjuntura ajudou a ratificar tal inclinação nos primeiros meses, o que pode vir a mudar com o anúncio feito pela OPEP ontem. Dado a liderança no executivo em sua estrutura societária, trabalhamos em nosso cenário-base até às eleições com a manutenção de preços defasados frente ao internacional, o que é negativo para a companhia, mas já está refletido em seus atuais múltiplos. Acreditamos que o grande enigma será a forma como dar-se-á a execução da política de preços após o período eleitoral, sobretudo se a tese de crescimento de preços de petróleo perdurar”, comentou a Ativa, em nota.

Caio Mário Paes de Andrade assumiu a presidência da Petrobras em junho, com a missão dada por Bolsonaro de segurar ao máximo possível qualquer reajuste no preço dos combustíveis. Desde então, e Petrobras anunciou uma série de reduções de preços de combustíveis em geral. Boa parte desse cenário se deve, porém, à queda do preço no mercado internacional.

A Levante Ideias de Investimento avalia que o anúncio da Opep+ deve impactar a política de aperto de juros nos EUA, já que o preço dos combustíveis também pressiona a inflação, e espera reflexos nas bolsas nos próximos dias.

“Os contratos futuros do Ibovespa e do índice americano S&P 500 iniciam o pregão da quinta-feira em queda, com os preços ainda se ajustando ao cenário de redução da oferta do petróleo. Apesar de a decisão da Opep+ não ter disparado uma volatilidade elevada no mercado, deverá haver um movimento de ajuste ao longo dos próximos dias”, comenta a corretora, em mensagem a clientes.

Às 12h21 (horário de Brasília), os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4), que têm forte peso na Bolsa, subiam 1,61% e 1,13%, a R$ 37,16 e R$ 32,93, enquanto Petro Rio e 3R Petroleum subiam 0,57% e 0,48, a R$ 31,48 e R$ 43,26. O Ibovespa subia 0,61%.