Ações da Petrobras voltam a fechar em queda, com reunião entre Lula e Prates no radar

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O presidente Lula e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, na refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE). Foto: Ricardo Stuckert.

São Paulo – As ações da Petrobras encerraram o pregão desta segunda-feira novamente em queda, em meio a especulações sobre os desdobramentos da decisão da companhia de não distribuir dividendos extraordinários aos acionistas, que incluem desde a troca de comando, com a saída de Jean Paul Prates ou um anúncio da distribuição extraordinária que foi postergada pela Petrobras. Os papéis PETR3 e PETR4 recuaram 1,91% e 1,30%, a R$ 36,27 e R$ 35,65.

Segundo interlocutores de ambos, a ideia é debater os próximos passos da companhia, depois da decisão na última quinta-feira (7) de não distribuir dividendos extraordinários aos acionistas, o que levou a uma perda de R$ 55 bilhões no valor de mercado da petroleira.

Fontes a par do assunto afirmam que além de pedir a volta dos dividendos para Lula, Prates defenderá sua permanência no comando da empresa com a apresentação de projetos futuros, em especial na indústria naval e obras em refinarias.

Prates diz que Lula não deu ordem sobre dividendos da estatal

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, falou nesta segunda-feira (11) com exclusividade ao blog da jornalista Andréia Sadi, no “G1”, sobre a decisão de adiar a distribuição de dividendos extraordinários aos acionistas. Na última sexta-feira, a empresa perdeu R$ 55,3 bilhões em valor de mercado após frustrar as expectativas dos acionistas. Prates disse que a decisão não partiu de ordem do presidente Lula (PT).

“O presidente não deu nenhuma ordem sobre a questão dos dividendos. Nós estamos discutindo isso com o acionista majoritário dentro dos espaços possíveis. Houve uma discussão a tempo do anúncio do balanço, havia necessidade de fechar o balanço. E foi definido que a gente adiaria a discussão”, disse.

O presidente da Petrobras diz que vão ter que decidir o que fazer com os dividendos, mas explica que os dividendos extraordinários que restaram de 2023 “não podem ser usados para outra coisa” e diz que a discussão “é espuma”.

Mercado vê maior risco político e reduz expectativa de receber dividendos extraordinários no curto prazo

As ações da Petrobras operaram com volatilidade na manhã desta segunda-feira, enquanto investidores ainda digeriam as informações apresentadas pela diretoria executiva da empresa na teleconferência de resultados do quarto trimestre e de 2023, realizada na última sexta-feira (8), após a divulgação dos números na véspera, e do decepcionante adiamento do pagamento de dividendos extraordinários e retenção de US$ 9 bilhões para pagamentos futuros aos acionistas. O conselho de administração também autorizou o encaminhamento à Assembleia Geral Ordinária (AGO), prevista para 25 de abril, da proposta de distribuição de dividendos equivalentes a R$ 14,2 bilhões. Caso haja aprovação da AGO, considerando os dividendos antecipados pela companhia ao longo do exercício, ajustados pela Selic, os dividendos totais do exercício de 2023 totalizarão R$ 72,4 bilhões. Por volta de 12h26 (horário de Brasília), PETR3 caía 0,24% a R$ 36,89 e PETR4 subia 0,99% a R$ 36,48.

O BTG Pactual avalia que o anúncio de reservas de US$ 9 bi exclusivamente para pagar os acionistas não foi suficiente para aliviar a maioria das preocupações do mercado em relação à empresa e que uma compreensão mais profunda sobre os próximos passos do acionista controlador e de qual é a estrutura de capital ideal para a empresa serão aspectos chave para entender melhor a alocação de capital da Petrobras no futuro. Eles acreditam que os investidores não devem esperar por pagamentos de dividendos especiais por algum tempo e reconhecem que uma maior percepção de risco reduziu a capacidade do mercado de pagar por um múltiplo mais justo pelas ações, que consideram descontadas. “Vemos as ações sendo negociadas com um rendimento FCFE pouco exigente de 17% em 2024 e com rendimento de dividendos de 13%, assumindo nenhum pagamento de dividendos extraordinários. Isso reflete um preço médio de US$ 75 por barril de petróleo (~7% abaixo da média acumulada no ano), produção de 2,24 mb/d (dentro do guidance) e investimento de US$ 16,7 bilhões (10% abaixo do guidance).”

Eles acham que a Petrobras permanece altamente atraente em comparação com muitos de seus pares globais que também são altamente expostos a riscos políticos. Assumindo preços spot do petróleo e capex de 25% abaixo do guidance (em linha com a perda dos últimos seis anos), eles calculam que o FCFE de 2024 e o rendimento de dividendos poderiam aumentar para 21% e 15%. “Estamos mantendo nossa recomendação de compra por enquanto, pois acreditamos que sejam necessárias mudanças significativas no estatuto social e no comando da empresa para que a remuneração dos accionistas caia substancialmente. Dito isso, reconhecemos que os riscos do uso de dinheiro abaixo da média aumentaram e que a vontade dos investidores de aumentarem as suas posições na Petrobras poderá permanecer limitada até que haja maior visibilidade de que a racionalidade prevalecerá”, comentam os analistas de óleo e gás do BTG, Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Pérez, em relatório, nesta segunda-feira.

O Goldman Sachs avalia que o risco de investir na Petrobras aumentou após os acontecimentos recentes, o que se refletiu parcialmente no preço das ações, que caíram 11,5%, com uma perda de US$ 12 bilhões em valor de mercado, na sexta-feira passada. Os analistas também comentam que, historicamente, houve vários casos em que notícias aumentaram a percepção de risco em relação ao investimento na empresa, mas não levaram a uma mudança nos fundamentos suficientemente significativa para impedir a valorização do preço das ações a longo prazo. “Para referência, para que o FCFy da PBR se iguale ao das grandes empresas globais em 2024 e 2025, estimamos que teria de aumentar o investimento em US$ 7,6 bilhões por ano nesse período, contra o nosso cenário base de US$ 17 bilhões de dólares por ano”, comentam os analistas Bruno Amorim, Joao Frizo e Guilherme Costa Martins, do Goldman Sachs.

O Goldman Sachs prevê que a Petrobras possa pagar US$ 9 bilhões em dividendos aos acionistas sem comprometer seu balanço financeiro e que a diretoria deixou claro na teleconferência que as reservas criadas a partir de lucros líquidos não distribuídos como dividendos deverão ser usados exclusivamente para pagar dividendos no futuro.

Para os analistas o risco de investir na Petrobras aumentou após os recentes eventos. O banco considerou negativo o adiamento da distribuição de dividendos extraordinários, mas que isso, por outro lado, afasta a possibilidade de que ocorra uma redução nos proventos a serem pagos pela companhia nos próximos anos. O GS estima um rendimento de dividendos de aproximadamente 11%, considerando apenas os dividendos base, com Brent avaliado na faixa de US$ 75-80 em 2024-2025.

A análise também acredita que a Petrobras deve anunciar uma potencial M&A até o fim do ano, de acordo com o que está previsto no seu plano estratégico, mas, que isso não está diretamente relacionado ao pagamento de dividendos extraordinários no curto prazo.

Na avaliação do GS, a queda das ações no último pregão pode indicar que o mercado está precificando mais do que o valor anunciado da conta de reservas (US$ 9 bi), que poderá ser ser pago pela empresa em algum momento no futuro. “Mesmo que o capital não fosse pago (o que não é o caso base declarado pela empresa), este valor pode ser gasto potencialmente em projetos onde o VPL não é necessariamente negativo.”

Os analistas também reconhecem um risco crescente de intervenção governamental na Petrobras, citando notícias que apontam que a decisão de não pagar dividendos extraordinários partiu do presidente Lula. “O CEO da Petrobras mencionou na teleconferência que os diretores da empresa propuseram dividendos extraordinários que não foram aprovados pelo conselho membros representantes do governo. Como resultado, acreditamos que pode haver algumas preocupações no mercado sobre o potencial de negociações menos favoráveis aos acionistas em decisões futuras.”

Com isso, o o Goldman Sachs atualizou suas estimativas para Petrobras para contabilizar o lucro do 4T23 e o cenário macro atualizado, citando entre os riscos do investimento preços mais baixos que o esperado para o petróleo Brent, apreciação do real e interferência do governo. “Em suma, cortamos nosso preço-alvo em 11%, refletindo o aumento da incerteza”, concluem, com recomendação de compra para PETR3; PETR4 e ADRs, com preços-alvo de R$ 43,50, R$ 39,60 e US$ 17,60 e US$ 16,00.

Eles também mencionam a preferência por Prio (recomendação de compra) entre as ações de Óleo e Gás sob sua cobertura, para a qual veem risco político significativamente menor e o mais alto FCFy durante os próximos anos (23% em média em 2024-25E), com um potencial catalisador caso a licença ambiental do projeto Wahoo seja aprovada nos próximos meses.

Na sexta (8), o Itaú BBA enviou relatório a cliente em que destacam que a proposta enviada pela diretoria executiva da Petrobras ao conselho de administração em relação à destinação dos lucros aos acionistas estava muito alinhada com as expectativas dos investidores (50% do lucro excedentário destinado a dividendos extraordinários e 50% à reserva de remuneração de capital), mas acabou frustrada após os conselheiros indicados pelo acionista majoritário aparentemente ficarem incomodados com as perspectivas de financiabilidade da empresa no horizonte dos próximos dois anos devido ao elevado nível de investimentos já esperados para estes anos. Com isso, eles rejeitaram a proposta e solicitaram análises técnicas adicionais a serem feitas pelas equipes técnicas da Petrobras. A qualquer momento deste ano, o conselho de administração poderá retomar o assunto e mudar de ideia, aprovando o pagamento de dividendos extraordinários (como o mercado esperava).

“O importante é que ainda não está claro exatamente o que deixou o conselho de administração desconfortável. Consequentemente, ainda não está claro o que poderá mudar a opinião do conselho ainda este ano. Assim, acreditamos que qualquer certeza neste momento sobre se o conselho irá eventualmente aprovar um dividendo extraordinário em algum momento deste ano seria meramente especulativa”, comentam Monique Natal, Bruna Amorim e Eric de Mello, do Itaú BBA.

“Dito isto, acreditamos que os investidores ajustarão as suas expectativas para considerar apenas o rendimento de dividendos ordinário, a fim de avaliar se este carregamento é suficientemente bom para justificar a posse das ações no futuro”, concluem os analistas.

O Itaú BBA tem recomendação neutra para as ações preferenciais (PETR4) e ADRs da Petrobras, com preços-alvo para 2024 de R$ 38,00 e US$ 14,50.

A XP vê a tese de investimentos na Petrobras agora como uma questão de avaliar a probabilidade de grandes movimentos de M&A ocorrerem no curto prazo. “Se isso foi o que levou à decisão do Conselho de Administração, as ações provavelmente cairão ainda mais, devido a uma combinação de má alocação de capital com dividendos mais baixos (já que a fórmula mínima leva em conta M&A como CAPEX)”, opinam.

“Por outro lado, se isso tiver sido motivado principalmente pela vontade do governo de manter um “plano de reserva” para o caso de as contas fiscais se deteriorarem em breve, então esse dinheiro estocado acabará sendo pago de volta aos investidores e as ações poderão apresentar um bom desempenho de retorno total no futuro”, concluem.