Ação da Equatorial cai mais de 3% após leilão de saneamento do Amapá

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São Paulo – A ação da Equatorial está entre as maiores perdas do Ibovespa após a empresa conquistar a concessão do serviço de saneamento básico do Amapá, com analistas destacando preocupações com retornos e o alto investimento realizado pela outorga. Às 13h31 (horário de Brasília) o papel da empresa (EQTL3) caía 3,49%, a R$ 25,11.
O Bank of America (BofA) reiterou a compra da ação, citando que acha prematuro concluir que a empresa terá retornos apertados em sua estreia no setor de saneamento básico, em relatório divulgado hoje, antes da empresa detalhar os investimentos a investidores nesta manhã.
Os analistas estimam que o saneamento do Amapá poderia render uma taxa interna de retorno (TIR) real de 8%, considerando os compromissos de investimentos de R$1,8 bilhão e assumindo 25% de economia do capex de R$ 3 bilhões, redução de 41% nas despesas operacionais (com margem ebitda de longo prazo de 65%), 5% mais unidades, taxa de inadimplência de longo prazo em 5% (ante 10% do edital) e 80% de alavancagem.
“O histórico de alocação de capital da companhia é indiscutível e muitas de suas aquisições anteriores pareciam pouco atraentes à primeira vista, mas acabaram provando superar até mesmo suposições antes otimistas (por exemplo, CEEE, Cepisa). No caso do saneamento do Amapá, espaço significativo para ganhos de eficiência pode estar no fato de a Equatorial ter adquirido recentemente a distribuidora de energia no estado”, disse o Bofa.
A Levante Ideias de Investimento destacou que a proposta feita pela companhia, de R$ 930,8 milhões, foi “agressiva” e muito superior às propostas dos demais concorrentes, citando que o lance do segundo colocado, de R$ 426,5 milhões, foi menos da metade da proposta da companhia elétrica, mas considerou sua entrada no setor de saneamento positiva.
“A companhia já vinha mostrando forte interesse no setor, tendo participado dos últimos leilões de saneamento realizados pelo BNDES, como os de Alagoas, Cariacica (ES) e Rio de Janeiro, até então sem sucesso por não conseguir superar as propostas de concorrentes mais tradicionais no setor, que tiveram presença tímida no leilão de hoje”, disse, em nota.
O Goldman Sachs viu como estratégica a compra da concessão de saneamento no estado do Amapá pela Equatorial Energia, em relatório divulgado hoje.
“A nosso ver, o negócio faz sentido estratégico para a EQTL, uma vez que a empresa tem buscado novos caminhos de crescimento além do setor elétrico, podendo se beneficiar de sinergias operacionais, uma vez que já atua na área”, disseram os analistas do banco.
Ontem, o consórcio Marco Zero, liderado pela companhia, arrematou a concessão dos serviços de saneamento básico da Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa) à iniciativa privada, promovido pelo Governo do Estado do Amapá, na B3, por R$ 930,008 milhões. Em junho, a companhia venceu o leilão de privatização da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA).
No entanto, o Goldman Sachs disse que estimar retornos potenciais com o nível de informação disponível no momento é complicado e que os analistas aguardam mais detalhes sobre o negócio da Equatorial.
“Continuamos com a classificação de compra na Equatorial, com um preço-alvo de 12 meses de R$ 30.
INVESTIMENTO DE R$ 4,8 BI
Em teleconferência a investidores realizada hoje, a Equatorial disse que buscará financiamento do Banco da Amazônia e a captação de benefício fiscal da Sudam (autarquia federal de desenvolvimento da Amazônia Legal) para atender o contrato de concessão de saneamento básico conquistada ontem ao vencer o leilão realizado pelo governo do Amapá.
A companhia ofereceu R$ 930 milhões pela outorga, que representou ágio de R$880 milhões em relação ao valor mínimo previsto no edital (R$50 milhões), que deverá ser incluído como investimento adicional aos R$3 bilhões de investimentos previstos nos 35 anos de contrato, que deverá ser aplicado em 12 anos.
“Buscaremos financiamento com alavancagem de 80% a 95%, por carta consulta com o Banco da Amazônia e uma emissão de debêntures, com o aval da Equatorial Energia e, portanto, compatível com os custos das nossas emissões”, explicou Luciane Domingues, superintendente de novos negócios da empresa.
A estratégia será fazer um desembolso antecipado do investimento para expandir a receita e maximizar o retorno do ativo, e espera alcançar uma economia de 5% a 10% nos investimentos a valor presente. A empresa também buscará gerar receita com o recadastramento de clientes e com a aceleração das metas de ampliação do atendimento.
“Há oportunidades operacionais, com a expansão da rede e com a aceleração das metas de redução de perdas. Na área comercial, o recadastramento de clientes, há um potencial de reclassificação e, assim, aumento de arrecadação”, detalhou o presidente da companhia, Augusto Miranda, presidente da Equatorial Energia.
O investimento adicional será corrigido pelo IPCA e o uso deve ser vinculado ao objeto do contrato e planejado, a cada ano, com o poder concedente. A companhia investirá 5% do ágio por ano no período de 12 anos.
A companhia disse que vem estudando o setor de saneamento e espera que sua entrada no setor fortaleça sua presença no estado do Amapá, onde atua em distribuição de energia, além de gerar valor com a gestão operacional e comercial da concessão. Para atingir a eficiência exigida no edital, a empresa disse que usará sua experiência em processos anteriores na área de energia.
Atualmente, somente sete em cada 100 amapaenses têm acesso a esgoto e um em cada três tem acesso a água tratada. A concessão privada terá como meta garantir o acesso a água e esgoto a quase 1 milhão de brasileiros, segundo o BNDES, que elaborou o modelo do edital.
Atualmente, não há tratamento de esgoto na área de concessão e o abastecimento de água é feito a apenas 36% da população de mais de 800 mil habitantes. Em 17 dos 35 anos da concessão, a empresa terá que levar esgoto a toda a população e, em 11 anos, universalizar o abastecimento de água. A área de concessão não abrange consumidores rurais. O início da operação está previsto para julho do ano que vem.
Alguns municípios,como Macapá, possuem prazos menores e as perdas deverão chegar a 30% (de 70% atualmente) em nove anos, segundo o edital. Na capital amapaense, a empresa terá que alcançar a universalização de abastecimento de água em oito anos, em Santana, sete. Já para tratamento de esgoto, a meta é tratar 90% do esgoto em 16 anos nos dois municípios.
A concessão será plena, o que significa que a Equatorial será responsável pelo ciclo completo da água, desde a captação, tratamento, até devolução aos mananciais. A tarifa considera indicadores de desempenho. A empresa ofereceu um desconto de 20% no leilão.
“A renovação dos clientes atendidos e a entrada de novos clientes trazem oportunidades relevantes de reclassificação de aumento de arrecadação, além de contribuir para a redução de perdas”, disse Tim Amado, diretor de regulação e novos negócios da Equatorial.
A companhia disse que há R$750 milhões em oportunidades no Brasil em 10 estados (RS, PA, MA, AC, RO, RR, CE, PB, AL e DF) e 29 milhões de clientes com novas concessões de saneamento potenciais, em função do Decreto 10.710/21, que definiu o novo marco legal do setor.