Bolsa e dólar caem em mais uma sessão de forte volatilidade

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 0,66%, aos 122.202,47 pontos, pressionada pelo setor financeiro e os investidores ficaram apreensivos com a confirmação da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso no plenário da Câmara dos Deputados e com as declarações do  relator, Celso Sabino (PSDB-PA), sobre a reforma tributária acentuou a queda do Ibovespa.

Na primeira metade do pregão, o Ibovespa apresentou muita volatilidade como na sessão da véspera com as commodities puxando o índice para cima e os bancos para baixo, além do cenário político interno pesando no mercado.

Para Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, as declarações do relator, Celso Sabino (PSDB-PA), afirmando que deve colocar em votação entre amanhã ou quinta a reforma do Imposto de Renda, com algumas alterações deixou o mercado apreensivo. “O mercado voltou a ficar um pouco desconfortável, apesar de não ser a versão final”.

Para Rodrigo Natali, diretor de estratégia das Inversas publicações, perto do fechamento o mercado ficou mais apreensivo por conta da votação da PEC do voto impresso. “É um consenso que o governo vai ser derrotado, mas traz um pouco de tensão porque pode ter uma surpresa e isso não está nos preços”. Natali ressaltou que  os parlamentares não querem se expor contra o governo e “o Lira colocou os deputados em uma situação muito desagradável”.

Na visão do diretor de estratégia da Inversa Publicações, o peso de Brasília e o calendário político atrapalham o mercado. “O mercado encara os precatórios de forma negativa, muitas coisas não foraram resolvidas, mas ficou mais claro o que se tem sobre a PEC dos precatórios e se vê formas de se romper o teto de ouro que é bem complicado”.

Em relação ao IPCA, Natali comentou que “o número veio dentro da expectativa, mas houve uma certa pressão nos setores industriais e de serviços e os analistas fizeram revisões de juros para o final do ano entre 7,5% a *,5%”.

Para Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, a ata do Copom e o resultado do IPCA- embora o acumulado esteja estourando o teto da meta- não apresentaram nehuma surpresa. “Agora o mercado deve se concentrar nos resultados dos balanços corporativos”. No entanto, ressaltou que a Bolsa mantém a volatilidade com as incertezas com a política e o fiscal. “O mercado está esperando algo mais concreto em relação a essas questões, mas os precatórios são um problema sério, existe a dúvida se vai haver ou não parcelamento e judicilização”.

O estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos comentou que as commodities estão se recuperando das perdas da véspera e ajudam no movimento positivo. “O mercado exagera tanto para cima como para baixo”. Em relação aos bancos, Komura afirmou que apesar de se beneficiarem com os juros mais altos. “A conjuntura não está tão favorável, não vejo a economia retomando com força e se não melhora existe um risco altíssimo de aumentar a inadimplência levando a queda das ações”.

Para os analistas da Terra Investimentos, o Ibovespa tem sessão de instabilidade e “indefinição dos investidores que continuam refletindo as incertezas no radar econômico e político no Brasil”.

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro entregou ao Congresso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que prevê o parcelamento em até dez vezes dos precatórios-dívidas do governo federal reconhecidas pela Justiça e que deve ser paga pela União.

Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do País, aumentou 0,96% em julho em relação ao aumento de 0,53% em junho. O resultado ficou ligeiramente acima da mediana projetada pelo Termômetro CMA, de 0,93%.

O IPCA acumula alta de 8,99% em 12 meses. “Ficou 2 pontos-base (bps) acima do projetado por nós, o nosso principal desvio foi no grupo de transportes e a deflação de higiene pessoal, muito abaixo do esperado, aliviou a conta em 4bps”, afirmou o economista-chefe Étore Sanchez, da Ativa Investimentos.

Após dar indícios de volatilidade em alguns momentos, o dólar comercial apresentou um viés de queda durante toda a terça-feira, cotado a R$ 5,1960, com recuo de 0,95%. Os motivos que levaram a essa queda são a aparente confiança do mercado de que o governo irá cumprir o teto de gastos e o tom mais austero da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta manhã.

Segundo o executivo-chefe da Vai Tourinho e sócio da XP Investimentos, Pablo Spyer, “todos estavam apreensivos com a divulgação do tom da ata do Copom, que confirmou a postura mais agressiva quanto à inflação”.

“Dentre as moedas emergentes mais relevantes, neste momento o real é a mais valorizada. A divulgação do Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deu um certo alívio também, principalmente na parte de Serviços”, contextualiza Spyer.

Segundo o executivo, a PEC dos Precatórios aumentou o clima de confiança: “É um indicativo de que não irá haver pedalada, além do governo garantir que não irá estourar o teto de gastos, trazendo mais segurança para o investidor”, avalia.

Segundo a analista de investimentos da Toro Investimentos, Stefany Oliveira, “o dólar está caminhando sem uma direção única”. Ela fala sobre os fatores que fazem a moeda oscilar tanto: “Apesar da fala do João Roma (Ministro da Cidadania), o mercado continua preocupado com a questão fiscal, se o governo cumprir as metas”, analisa.

Por outro lado, a postura hawkish do Banco Central é um alento para o mercado: “A divulgação da ata do Copom foi recebida como um compromisso no combate à inflação”, pondera Oliveira.

A Câmara dos Deputados pretende votar hoje uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da introdução do voto impresso nas eleições. O texto, que é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, já havia sido rejeitado em uma comissão especial, mas será levado ao plenário pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

O clima em Brasília, porém, ficou tenso porque o Planalto decidiu fazer passar perto do Supremo Tribunal Federal (STF) um desfile de tanques e de outros equipamentos militares hoje, mesmo dia em que está prevista a votação da PEC. Isso após o presidente Jair Bolsonaro dizer que se não houver “eleições limpas” em 2022 – eleições com o voto impresso -, não haverá eleições.

Deputados entenderam a decisão como uma provocação por parte de Bolsonaro, e a oposição considerou que o presidente agiu desta forma porque pretende dar um golpe caso o voto impresso seja descartado pela Câmara. Lira chegou a classificar o incidente como uma “trágica  coincidência”.

O Copom, por sua vez, disse em ata que  um ajuste “mais tempestivo” da taxa básica de juros (Selic) para um nível contracionista é a estratégia “mais apropriada” no momento para garantir que a inflação perca força e se alinhe às metas previstas para 2022 e 2023, segundo a ata da última reunião do grupo, ocorrida na semana passada.

Segundo o executivo-chefe e fundador da Ohm Research, Roberto Attuch Jr., “a terça-feira não tem grandes notícias lá fora. O mercado, então, volta as atenções para os assuntos internos, como a crise política em Brasília”.

Ele acrescentou que o momento atual é repleto de incertezas: “Apesar da postura mais hawkish [austera] do Banco Central, o mercado fica apreensivo com as notícias vindas de Brasília. O dólar deve ter um dia bastante volátil”.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em queda repercutindo o tom mais duro da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada hoje pela manhã, ao mesmo tempo em que os investidores digerem a aceleração do Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em julho, apesar de o indicador ter vindo apenas um pouco acima do esperado pelos analistas.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,490%, de 6,525% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,905%, de 8,215; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,02%, de 9,15% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,43%, de 9,52%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado norte-americano de ações fecharam em alta, com os investidores pesando a forte temporada de balanços contra os riscos apresentados pela variante Delta do coronavírus. A exceção foi o Nasdaq, que terminou em queda, pressionado pelos juros dos títulos do Tesouro, que subiram e ofuscaram os papéis de tecnologia.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,46%, 35.234,67 pontos

Nasdaq Composto: -0,49%, 14.788,10 pontos

S&P 500: +0,09%, 4.436,75 pontos