Vale prevê investir até US$ 6,5 bilhões por ano até 2030

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São Paulo – A Vale apresentou seu plano de negócios para os próximos sete anos a investidores e analistas no Vale Day, em Nova Iorque, nesta quarta-feira. Na abertura do evento, o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, disse que o principal desafio da companhia e do seu segmento é convencer as pessoas de que a mineração é necessária dentro do contexto de transição energética e que pretende fomentar a mineração de baixo carbono.Até lá, a companhia confia na demanda por siderurgia no mundo, especialmente pela China.

“Eu tenho uma filha de 12 anos, acho que o desafio é mostrar para a geração dela a necessidade da mineração, por isso nosso foco será nas pessoas e em oferecer soluções de baixo carbono”, disse o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo.

A diretoria da empresa destacou os investimentos da empresa em soluções inovadoras com foco em redução das emissões de carbono para siderurgia e os planos para destravar valor de sua unidade de metais básicos. Ao mesmo tempo, a empresa prevê manter disciplina de capital e cumprir os acordos judiciais para compensar os danos provocados pelo rompimento de barragens em Mariana e Brumadinho, que provocaram mortes e danos ao meio ambiente e à infraestrutura das regiões atingidas.

A Vale prevê aumentar seus investimentos de US$ 5,5 bilhões em 2022 para US$ 6 bilhões em 2023 e US$ 6-6,5 bilhões por ano, em média, nos próximos anos. Segundo Gustavo Pimenta, CFO da Vale, a proposta é manter a disciplina de caixa e o nível de produção elevado.

O executivo disse que distribuiu US$ 37 bilhões aos acionistas nos últimos três anos, o que representa todo o caixa gerado pela companhia. Em 2022, a companhia pagou US$ 6,6 bilhões em dividendos. A Vale também informou que eliminou até US$ 2 bilhões por ano de drenos de caixa após a venda de nove negócios em cinco diferentes países.

“A principal vantagem da Vale é a sua diversificação geográfica e suas reservas”, comentou Pimenta.

A companhia deve encerrar o ano com custo caixa C1 de finos de minério de ferro na faixa de US$ 19,5-20 por tonelada e de US$ 20-21/t em 2023, com previsão de economias de US$ 800 milhões neste ano e no próximo. O CFO disse que o excesso de caixa será alocado entre recompra de ações e dividendos extraordinários e que prevê 7-16%de yield de fluxo de caixa em dezembro de 2022.

A mineradora também prevê desembolsar, em compromissos relativos a Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, US$ 16 bilhões entre 2022 e 2027, sendo US$ 2,8 bilhões em 2022, US$ 3,9 bi em 2023, US$ 2,9 bi em 2024, US$ 1,8 bi em 2025, US$ 1,8 bi em 2026 e US$ 2,8 bi em 2027. A empresa já cumpriu 58% do acordo relativo à Brumadinho e desembolsou R$ 24,7 bilhões nas reparações de Mariana desde 2015. “O rio está mais limpo agora do que antes do rompimento da barragem”, disse o CEO da Vale, referindo-se ao rio Doce, que foi atingido pelo vazamento da barragem da empresa, Mariana.

Aço e minério de ferro

Marcello Spinelli, Vice-Presidente Executivo de Ferrosos, apresentou as projeções de produção da Vale, destacando que a empresa quer acelerar a implementação de soluções inovadoras para siderurgia para atender às demandas mais rigorosas das siderúrgicas. Já em minério de ferro, o executivo explicou que o plano de produção de foi revisado para se ajustar a exigências de licenciamento e com foco em aumentar volumes de qualidade e capacidade, com maior flexibilidade para compensar perdas.

A Vale prevê que a demanda de aço crescerá de forma constante e espera ampliar sua produção de 1955 milhões de toneladas (Mt) em 2021 para 2007 Mt em 2026 e 2095 Mt em 2030, com 175 Mt adicionais de produção de aço de regiões emergentes. O crescimento populacional, o aumento da urbanização e a transição energética são os gatilhos para esse crescimento.

Dentro dessa projeção, a Vale informou as porcentagens de produção por fonte metálica, em que prevê aumentar de 5% para 7% e chegar até 9% de participação de tecnologias com 60% menos emissões de CO2 e feed de alta qualidade. A participação da sucata também crescerá de 28% para 30% e 32%, enquanto o uso de gusa para AF cairá de 67% para 64% até 60% de 2021 a 2030.

Em minério de ferro, segundo o plano de negócios apresentado no Vale Day, a mineradora prevê produzir mais de 360 Mt até 2030, de 310 Mt estimados para 2022. Em 2023 e 2026, as metas de produção estão entre os intervalos de 310-320 Mt e 340-360 Mt, com o teor médio de Fe das vendas crescendo gradualmente de 62,3% a 64% até 2030.

Metais básicos

Em relação à operação de metais básicos, o presidente da Vale disse que vê oportunidades na geração de valor e que se não encontrar o parceiro certo, a operação será feita pela companhia.”A VLI foi criada como um negócio dentro da Vale, então, em relação à operação de metais básicos, o foco está na execução. Temos um ativo de US$ 14 bilhões e que pode chegar a US$ 30 bilhões dependendo da execução. Se não encontrarmos o parceiro certo, faremos sozinhos”, disse o CEO.

Deshnee Naidoo, Vice-Presidente Executiva de Metais Básicos, apresentou as demandas da mineradora para Níquel e Cobre, que devem chegar a 6,2 milhões de toneladas até 2030 (de 4 Mt em 2021) e 37,4 Mt de Cobre (de 29,9 em 2021. Os produtos devem atender à demanda crescente por veículos elétricos e tecnologias para energias renováveis, por exemplo.

A executiva da Vale detalhou os investimentos na descarbonização de sua produção, citando as plantas em Tubarão, com capacidade total de 6Mtpa e start-ups previstos para o primeiro e o segundo semestre de 2023.

A companhia tem a meta de elevar a produção de aglomerados de 33 Mt em 2022 para 100 Mt até 2030. Para isso, está investindo em “mega hubs” em várias regiões do mundo. Atualmente, tem três acordos assinados para estudar o desenvolvimento dessas plantes no Oriente Médio e outros em avaliação no Brasil e EUA.

A Vale estima aumentar sua exposição da unidade aos veículos elétricos por meio dos acordos anunciados recentemente com a Tesla, Northvolt e GM.

A executiva também mencionou os estudos avançados para um projeto de sulfato de níquel em Quebec (Canadá) e 25 kt Ni em NiSO4, com acordo comercial de longo prazo assinado com a GM.

A Vice-Presidente Executiva de Metais Básicos disse que há projetos para elevar a produção de cobre e níquel de metal contido por meio de projetos de reposição em South Hub e Carajás e de crescimento em Salobo, Hu’u, Alemão, North Hub, Indinésia, Onça Puma, entre outros.

A projeção é de elevar a produção de cobre da faixa de 335-370 ktpa para 390-420 ktpa em 2026 e 900 ktpa em 2030. Em níquel, de 160-175 ktpa para 230-245 ktpa e mais 300 ktpa nos mesmos anos.

Respostas aos analistas

Quando questionado por analistas em relação a possíveis atrasos no processo de licenciamento de projetos, o presidente da Vale disse que eles estão sendo considerados e por isso a companhia não está prometendo mais do que pode entregar. “Estávamos lutando com o sistema do Norte de Minas Gerais e então começamos a lutar. Então começamos a nos posicionar em um sistema de alto nível, então, não importa a projeção, importa o teor maior. Temos que ser honestos para enfrentar e lidar com o que está nas nossas mãos. Temos a logística. Temos demanda excedente em Carajás. É uma questão de aprendizagem. Vamos deixar de prometer o que não queremos fazer. Então, quando eu obtiver a licença e tiver Torto, terei um produto de melhor qualidade”, disse Bartolomeo.

O executivo disse que a Vale quer ser uma empresa de soluções e oferecer o que há de melhor em minério de ferro. “Se reduzirmos os gargalos no Sul, poderemos melhorar a capacidade e oferecer um produto melhor”, acrescentou.

O CFO da Vale disse que a área de metais básicos tem uma dinâmica diferente do minério de ferro e, por isso, terá outra governança e uma outra forma de avaliar sua geração de valor.

Por fim, o presidente da Vale procurou destacar as oportunidades de crescimento e geração de valor de uma empresa de seu porte. “Que outra companhia no mundo pode crescer como a Vale? Quando a Ucrânia saiu do mercado, oferecemos US$ 100 de prêmio. Queremos oferecer níquel para montadoras de veículos elétricos. No minério de ferro de alto grau, os clientes estão com medo, mas Carajás pode oferecer isso e vamos conseguir ganhar mais que a China”, concluiu Bartolomeo.