Turbulência do mercado de crédito cria oportunidades, aponta BTG Pactual

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São Paulo – Em análise sobre os números do mercado de crédito em fevereiro, o BTG Pactual avalia que a atual turbulência do setor cria oportunidades, em relatório divulgado nesta segunda-feira. Os analistas citam por exemplo, que os spreads de crédito no mercado local dispararam nos últimos dois meses após o anúncio da recuperação judicial da Americanas e queda das debêntures da Light, citando oportunidades para capturar altos prêmios em títulos de crédito de alta qualidade. A pressão por liquidez também está impulsionando o mercado secundário.

A análise observa que o mercado primário de crédito esfriou após ano recorde em 2022, refletindo condições mais apertadas para emissão de dívida, com R$ 23 bilhões em janeiro e R$ 11 bilhões em fevereiro, ante R$ 34 bilhões no ano e R$ 53 bilhões no acumulado de fev/22). A maioria das emissões foi abocanhada por instituições financeiras participantes das ofertas. Em 2022, as operações de crédito distribuídas ao mercado de capitais local totalizaram R$ 196 bilhões via 493 transações, ante R$ 179 bilhões em 2021 e R$ 147 bilhões em 2019.

Na visão dos analistas do BTG, os spreads mais amplos refletem a pressão vendedora dos agentes de mercado, principalmente fundos de crédito, e a maior preocupação com os fundamentos das empresas em um cenário de oferta de crédito mais apertado e altas taxas de juros. No entanto, eles observam que o alargamento generalizado dos spreads cria oportunidades para capturar altos prêmios em títulos de crédito de alta qualidade.

Os analistas do BTG citam que os índices de crédito apontam para pico no primeiro dia de março, citando que o prêmio do índice IDA-DI (Debêntures Anbima) subiu para CDI+2,51% no final de fevereiro contra CDI+1,72% no final de 2022, um aumento de 79bps, enquanto o prêmio do índice de infraestrutura IDA-IPCA (títulos isentos de impostos) foi IPCA+8,13% no final de fevereiro, 186bps acima do benchmark NTN-B (alta de 95bps versus dezembro de 2022; 162bps vs. dez/21).

Sem Light e Americanas, os spreads ainda aumentaram um pouco no início de março, após estabilizar brevemente na segunda quinzena de fevereiro, em DI+2,29% (+65bps vs. 11) e 158bps na NTN-B (+54bps vs. jan. 11), com base em dados até 8 de março.

No caso dos chamados bonds de incentivo, os spreads de crédito estão próximos dos níveis vistos no auge da pandemia (173bps sobre NTN-B em março de 2020), aponta o BTG.

Os níveis de captação ainda refletem volatilidade do mercado, diz o relatório, que cita que os fundos de renda fixa foram os únicos líquidos positivos (em termos de captação) no final de fevereiro, com R$ 4 bilhões captados até agora neste ano, após resgates de R$ 49 bilhões no ano passado.

“Uma amostra de 100 fundos de crédito privado que monitoramos, com VPL de R$ 670 bilhões, caiu novamente pelo segundo mês consecutivo e agora acumula queda de 5% no ano após 24 ganhos mensais consecutivos. Entre o final de dezembro de 2022 e 11 de janeiro de 2023, na véspera da revelação do rombo contábil da Americanas, esta mesma amostra de fundos apresentou forte crescimento do NAV de R$ 10 bilhões (+1,5%), mostrando forte apetite no início do ano”, comentaram os analistas.

A pressão por liquidez também está impulsionando o mercado secundário. O BTG aponta que, em reflexoda forte volatilidade, a negociação de debêntures secundárias aumentou em fevereiro (R$ 30 bilhões em 78 mil negócios, 7% e 25% acima das respectivas médias mensais dos últimos doze meses). “Ajustado para menos dias úteis, vemos médias diárias de R$ 1,66 bilhão e 4,3 mil negócios versus R$ 1,3 bilhão via 3 mil negócios diários em 2020, alta de 25% e 46%, respectivamente.”

Já a alocação de crédito corporativo caiu ligeiramente de níveis recordes. Desde 2016, a dívida corporativa aumentou sua participação nas carteiras de renda fixa. A exposição dos fundos de renda a títulos de dívida corporativa atingiu um recorde de 8,1% em dezembro passado, após 22 ganhos mensais. Em janeiro, houve uma leve queda de 0,1% para 8% do NAV. Em paralelo, a alocação dos fundos de renda fixa em títulos bancários aumentou para 9,5% do seu VPL.

Por fim, a análise do banco de investimentos comenta que as Letras Financeiras (LFs) registraram um marco, pois seu saldo em fevereiro terminou a R$ 570 bilhões (+1% vs. dez/22; +32% vs. dez/21). Os certificados de depósito bancários (CDBs) em circulação caíram um pouco, para R$ 1,894 trilhão (-1% na comparação com janeiro/2023), a primeira queda em um ano. Já a poupança caiu, pelo segundo mês, para R$ 969 bilhões no mês passado, ante R$999 bilhões em dezembro de 2022.