Transição energética da Petrobras estará alinhada com a de seus pares globais e será financiada por petróleo

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Foto: Manoel Elias de Moraes/Agência Petrobras

São Paulo – O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que o Plano Estratégico 2024-2028+ divulgado na noite de ontem pela companhia, foi discutido por todas as áreas da empresa, por muitos meses, e traz uma estratégia de longo prazo, com investimento em transição energética mas sem deixar de investir em petróleo e gás.

“É o maior plano de investimentos de uma empresa brasileira, de US$ 102 bilhões, ou R$ 500 bilhões. É com esse novo plano que a Petrobras vai dar sua contribuição para o país e dará retorno para a sociedade e para os seus acionistas. Todos somos acionistas da Petrobras, representados pelo governo”, discursou.

Ele iniciou sua fala destacando as realizações da atual gestão em precificação dos combustíveis, em uma semana de rumores de que seu posto na companhia estaria em risco.

“Lançamos uma nova estratégia de precificação e conseguimos algo que era muito difícil, que é estabilizar os preços. A Petrobras tem muita capacidade de manobra e market share para concorrer com os maiores importadores. Conseguimos recuperar mercados que tínhamos perdido”, comentou Prates.

Segundo o CEO da Petrobras, a empresa conseguiu alcançar uma série de recordes, como recordes de produção operada de petróleo e gás, de produção de diesel S10, capacidade nas refinarias, entre outros mencionados por ele.

A Petrobras voltou a ser um grande player global do setor. “Conversamos diretamente com a alta administração de empresas como Shell, Adnoc, Equinor, Petronas e muitas outras. Todas estão conectadas com a Petrobras como empresa global.”

Em relação aos investimentos, Prates falou que a transição energética estará alinhada com o que as companhias de petróleo globais estão fazendo e que o petróleo é que vai financiar a transição.

“Faremos a transição energética de forma gradual, investindo em energias renováveis sem deixar de investir em petróleo, como as maiores companhias globais de petróleo em seus processos de transição. Elas estão juntas para financiar a transição energética global”, disse Prates.

Ele destacou a produção de diesel com conteúdo renovável e disse que ela será ampliada, além de outros produtos verdes, como captura de carbono, biogás, hidrogênio, metanol verde, e outros produtos do futuro, detalhou.

Ele também ressaltou a possibilidade ajustes do plano ao longo dos anos. “O plano é quinquenal mas é ajustado todos os anos. Essa é a beleza do plano.”

“É um plano de revitalização e revigoramento da Petrobras, que é indestrutível mas precisa de revitalização”, disse Prates. “Isso era algo que não se via, a Petrobras só tinha planos de curto prazo e venda de refinarias”, acrescentou.

Prates disse que a Petrobras não vai mais vender refinarias. “Ao contrário, vamos investir nas refinarias. Por isso transformamos a diretoria de refino, que passou a ser diretoria de processos industriais e produtos, com um parque industrial em cada refinaria.”

“Não houve apresentação do plano para o presidente Lula”

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que não houve apresentação do plano para o presidente Lula antes do plano ser aprovado pelo conselho de administração.

“Tivemos duas reuniões, pedidas por mim, em que fomos levar os conceitos do plano e como será feito, por exemplo, sobre a venda de refinarias, como era feito e como será no novo plano”, disse em entrevista a jornalistas sobre o novo plano estratégico da Petrobras. “É natural que ministros participem do ‘brainstorm’, mas não foram os mesmos slides apresentados aqui.”

Ele também garantiu que o presidente Lula nunca pediu a ele para baixar preços dos combustíveis. “Ele sabe que há um rito, uma forma certa de fazer isso. Claro que já falei com o presidente sobre preços, há uma informalidade”, disse

“Ele também me liga para saber como está o cenário, no exterior, como é que está o crack do diesel. O cenário atual é diferente de quando ele foi presidente anos atrás. Esse papo eu posso ter com ele, posso conversar com qualquer pessoa sobre petróleo”, acrescentou.

“Mas ordem não houve, por que isso infringiria a governança. Ele, mais do que ninguém, sabe disso.”

Capex de US$ 102 bi está em linha com o de grandes empresas internacionais, diz diretoria

A diretoria da Petrobras destacou que a principal característica do novo plano estratégico 2024-2028+ é a sua visão de longo prazo e os investimentos em transição energética e possíveis parcerias. O Plano Estratégico da Petrobras para o quinquênio 2024-2028 foi aprovado nesta quinta-feira (23) pelo conselho de administração da companhia, prevendo investir US$ 102 bilhões nos próximos cinco anos, um crescimento de 31% em relação ao ciclo anterior. Deste total, US$ 91 bilhões correspondem a projetos em implantação (carteira em implantação) e US$ 11 bilhões compostos por projetos em avaliação (carteira em avaliação), sujeitos a estudos adicionais de financiabilidade antes do início da contratação e execução.

“O investimento está em linha com o de grandes empresas internacionais. Não há possibilidade de que o plano não seja financiado”, garantiu Sergio Caetano Leite Diretor Executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores.

Segundo Leite, a Petrobras está fazendo uma reserva e não está decidido que não haverá pagamento de dividendos extraordinários. “Os acionistas e conselheiros que vão decidir se haverá ou não dividendos extraordinários. Se houver caixa para dividendo extraordinário, ele volta para dividendos. A Petrobras tem uma reserva de capital há anos, as grandes empresas que estão na B3 têm essa reserva. É uma modernização. As empresas de commodity pagam dividendo sobre o fluxo de caixa líquido, não sobre o lucro líquido”, explicou. “A Petrobras é uma excelente pagadora de dividendos, o que havia era uma distribuição acima do normal”, comentou.

“O sinal “+” de 2024-2028+ indica que a Petrobras está com uma visão de longo prazo”, disse Renata Szczerbacki, gerente executiva de estratégia e planejamento da Petrobras, no detalhamento do capex em entrevista a jornalistas.

O presidente da Petrobras disse que os projetos de baixo carbono serão “transversais”, totalizando US$ 11,5 bilhões, ou 11% do plano nos 5 anos, mas serão crescentes ao longo dos anos.

“Estamos triplicando os investimentos em baixo carbono, de US$ 4,4 bilhões para quase US$ 12 bilhões, três vezes mais recursos para essa área. Em média será 11% do capex ao longo do plano, mas será crescente ano ano, chegando a 16%”, completou Maurício Tolmasquim, diretor executivo de Transição Energética e Sustentabilidade. “Também haverá um fundo de US$ 1 bi”, acrescentou, sobre o fundo de descarbonização previsto no orçamento dessa área.

“A grande novidade será a entrada em energias de baixo carbono, eólica e solar. 30% da verba de P&D será destinada a área de baixo carbono”, acrescentou.

Tolmasquim disse que haverá investimentos em CCOS, eólica, pesquisa e mencionou o estudo de uma possível planta de eólica offshore na costa do Rio de Janeiro. “Em 2023, o Brasil será um dos países com o menor custo de hidrogênio verde, por que a maior parte do custo é a energia elétrica e nós temos uma energia barata. Estamos a um passo de ter um negócio muito interessante. O hidrogênio barato ajuda a ter amônia barata. E o gás natural ajuda a produzir o hidrogênio. E a Petrobras é a maior produtora de combustível fóssil do Brasil, então é um mercado enorme.”

“O plano é pé no chão, estamos falando com Arcelor Mittal, Vale… as pessoas falam que hidrogênio é sonho, vai demorar. Assim como na Margem Equatorial, já estamos medindo, avaliando”, acrescentou o presidente da Petrobras.

O investimento em refinarias aumentou por que a empresa está sob nova gestão e transformou a área. “No plano anterior era US$ 78 bilhões, nesse teremos US$ 11 bilhões. Não havia manutenção nas refinarias, elas se tornarão biorrefinarias, por isso o investimento aumentou e boa parte está em análise”, explicou Sergio Caetano Leite, diretor executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores.

Em relação ao investimento nas plantas de fertilizantes, Prates disse que enquanto não há uma decisão sobre a devolução de plantas que são arrendadas, a empresa tem buscado alternativas para torná-las rentáveis. “As plantas que estão arrendadas pela Proquigel/Unigel e estamos procurando uma forma de recuperar a rentabilidade ‘mais coerente’ dessas duas plantas”, disse Prates. “Ao longo de seis meses vamos pensar numa solução. A nossa intenção é entrar em fertilizantes, por que comercialmente, faz sentido, é de onde faremos a transição energética. Então, queremos estar no jogo”, detalhou Prates.

“A planta de Presidente Bernardes está hibernada, vamos voltar a operar e faremos uma licitação, como é da Rnest. A intenção é operar essa planta no segundo semestre do ano que vem”, disse William França da Silva, diretor Executivo de Processos Industriais e Produtos. “A planta FN3 é mais rentável, o prazo é 2028, mas vamos tentar adiantar, caso o processo de recuperação da rentabilidade se viabilize”, acrescentou. França também disse que existe a possibilidade de realizar parcerias nessa área com a Braskem.

Em relação à Braskem, a companhia não trouxe novidades, de que a companhia poderá exercer ou não o direito de preferência para comprar caso a petroquímica receba uma proposta vinculante e que, até agora, só houve propostas não-vinculantes. “Não podemos divulgar mais detalhes, as empresas não divulgam suas estratégias de investimentos”, disse Sergio Caetano Leite, diretor Executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores, em resposta aos jornalistas.

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, negou que a companhia tenha recebido uma proposta para comprar uma planta de eólica offshore na Escócia. “Não há nenhuma hipótese de negativa do conselho. Houve uma filtragem. Não iríamos começar nosso investimento em renováveis na Escócia”, comentou.

Tolmasquim disse que os projetos que chegam à companhia são avaliados formalmente, mas que o caminho lógico é o de empresas virem para o Brasil investir em projetos com a Petrobras.

Claudio Romeo Schlosser, Diretor Executivo de Logística, Comercialização e Mercados, disse que há projetos de investimentos na região Nordeste, como no Porto de São Luís.

Em relação ao Acordo Coletivo de Trabalho em negociação com os trabalhadores da Petrobras, Clarice Coppetti, diretora executiva de Assuntos Corporativos, disse que a companha finalizou uma terceira proposta, que foi levada para a categoria. “Estão sendo realizadas assembleias e estamos aguardando o retorno”, disse.