Totvs buscará novas aquisições para ampliar oferta de soluções em Gestão e Business Performance

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São Paulo – Na apresentação dos resultados do quarto trimestre e 2022 aos analistas e investidores na manhã desta quarta-feira, o CEO da Totvs, Dennis Herszkowicz, espera que 2023 seja um bom ano, repetindo os resultados do ano passado e que desde o dia 1 já começou a definir suas metas com a equipe. A empresa destacou seu caixa e a busca por novas oportunidades de crescimento em serviços financeiros, nuvem, gestão e que está de olho em potenciais aquisições.

“Esperamos mais um ano desafiador, como foi 2022, mas com um bom crescimento de receitas eARR (Receita Recorrente Anualizada)”, disse o executivo.

A Totvs encerrou 2022 com caixa líquido de R$ 2,9 bilhões e fluxo de caixa livre de R$136 milhões ao fim do 4T22, 54% abaixo do 3T22, explicado, pelo aumento no contas a receber de clientes, redução de R$78,9 milhões do repasse para parceiros (floating), aumento de obrigações sociais e trabalhistas e redução no LAIR.

A empresa afirma que sua gestão do capital de giro é bastante previsível, com boa previsão de recebimentos e que potenciais fusões e aquisições estão nos planos da empresa. “Mas não estamos afobados, por que isso gera situações indesejadas, como pagar o que você não quer. Seguimos com uma posição de balanço muito boa, com caixa saudável, enquanto muitos ativos estão se deteriorando. Então, teremos novas aquisições ao longo de 2023, é bastante provável”, disse o CEO. “Techfin não terá compras, mas em Gestão e Business Performance, sim”, acrescentou.

A companhia também espera agregar novas capacidades de commerce, CX, vendas para o ecossistema de RD Station. As soluções de CRM representou 25% da receita de RD, disse o diretor da área.

Segundo os executivos da empresa, a Techfin possui a habilidade de mais de duas décadas de gerenciar perdas e o nível de perdas ao longo do ano segue equilibrada. “Se a taxa de juros descer, as oportunidades de crédito serão melhores, mas mesmo no nível atual, vemos boas oportunidades de crescimento.”

A Supplier [administradora de cartões comprada pela Totvs em 2019] trabalhou com níveis mais estreitos que em 2021, com maior grau de restrição e mesmo assim ofereceu bons resultados, segundo a Totvs.

A empresa disse que trabalha para acomodar um potencial grande de clientes em soluções em nuvem e com foco em complementar suas necessidades, com ofertas customizadas, especialmente em segurança.

Em seu balanço, a companhia disse que seguirá, em 2023, focada em se tornar “o trusted advisor dos nossos clientes, através da inovação, que para a TOTVS, é fazer algo novo e diferente, que agregue valor. Seguiremos sendo sempre iguais, com consistência e equilíbrio entre crescimento e rentabilidade, e sempre diferentes, ousando e transformando a Companhia e o mercado.”

ANÁLISES

O resultado da Totvs foi avaliado positivamente pelos analistas, que esperavam uma reação positiva para a ação da empresa. Por volta das 15h51 (de Brasília), no entanto, o papel caía 2,41%, a R$ 29,12. O Ibovespa subia 1,95%.

O Bank of America (BofA) avaliou que a companhia apresentou resultados sólidos, destacando o crescimento orgânico da receita na Gestão, apesar do impacto negativo da Copa do Mundo. Além disso, a ARR líquida orgânica (receita recorrente anualizada) atingiu R$ 168 milhões, acima dos R$ 150 milhões estimados pelo BofA no 4T22 contra R$ 170 milhões no 3T22, mas excluindo o impacto da menor inflação no último intervalo de 2022, um crescimento real de 3% no trimestre, mostrando a força do seu desempenho comercial.

O BofA comentou que a margem ebitda atingiu 23% impactada por eventos que podem ser considerados não recorrentes: R$ 9,6 milhões em provisões para falência de cliente Techfin, 100% provisionado; e R$ 8,1 milhões referente ao processo de 2013, também, 100% provisionado. Excluindo esses eventos, a margem EBITDA teria atingido 24,7%, em linha com o 4T21.

Na visão do BofA, a TOTVS reflete outra característica de alta qualidade: mostrar números limpos e deixar o mercado fazer ajustes. “Reforçamos a TOTVS como nossa principal escolha e esperamos um forte desempenho nesta quarta-feira.”

Para a Ativa Investimentos, a Totvs mostrou bom crescimento, mas a rentabilidade decepcionou. “A Totvs divulgou um resultado fraco, do pondo de vista da rentabilidade. Nossas estimativas estavam na ponta otimista do mercado, em relação à rentabilidade, mas em linha com crescimento. A Receita Líquida consolidada superou nossas estimativas em 10%, mas as margens Bruta e Ebitda vieram mais pressionadas do que o esperado. O faturamento da companhia rompeu, pela primeira vez, a marca dos R$ 4 bilhões no ano, com destaque para a divisão SaaS que cresceu 37% ano contra ano”, comentou a Ativa.

A área de business performance também apresentou forte crescimento, a uma taxa de 29,2% em base anual e a Totvs também sentiu impacto da recuperação judicial das Americanas, que trouxe uma provisão adicional de R$ 9,6 milhões, cita a análise da Ativa.

Além desse efeito, a consolidação da RD Station ainda pesa nas despesas, juntamente com impactos na divisão TechFin, por conta da alta da Selic.

A Levante considerou o balanço muito positivo, citando que a companhia entregou números sólidos, mostrando resiliência dentro de um cenário macroeconômico mais restritivo para adições líquidas e reafirmando ser um call de grande potencial dentro do setor de tecnologia.

“A receita líquida da companhia aumentou 20,9 por cento na comparação anual, fechando o 4T22 em 1,085 bilhão de reais. Deste volume, 878 milhões de reais vieram de receita recorrente, crescimento de 26,0 por cento no ano. Vale reafirmar que levando em consideração a taxa de renovação consolidada de 99 por cento, o indicador é um forte indicador de acompanhamento de expansão da empresa”, destacou a Levante.

O crescimento da receita recorrente foi reflexo de um progresso anual de 25,4 por cento no segmento de Gestão, com destaque novamente para a modalidade SaaS Gestão, com 37 por cento, puxada pela alta de 47 por cento na receita de Cloud, avanço de 28 por cento das novas assinaturas, reajustes contratuais pela inflação e baixo churn, além de um aumento paralelo de 30,2 por cento em Business Performance. Dessa forma, a Totvs encerrou o trimestre com um ARR (Receita Recorrente Anualizada), de 4,0 bilhões de reais, um salto anual de 30,3 por cento e trimestral de 5,3 por cento, reproduzindo uma adição líquida de 191,3 milhões de reais.

Ademais, o segmento de Gestão apresentou um crescimento de receita líquida total de 20,5 por cento, fechando o trimestre em 916,4 milhões de reais. Como de costume, este manteve sua margem bruta na faixa dos 71 por cento, patamar praticamente estável na comparação anual e trimestral.

“Como destacado pela companhia nos outros releases, caso os índices inflacionários permaneçam em queda, a companhia destaca que provavelmente será visto um menor crescimento nominal da adição líquida de ARR, algo já esperado.”

Em relação ao segmento de Business Performance, a Levante observou um salto da receita líquida de 29,2 por cento no ano, finalizando em 88,7 milhões de reais.

Por fim, o segmento de Techfin apresentou um crescimento anual de 28,4 por cento em sua receita, finalizando o 4T22 em 117,9 milhões de reais. O aumento pode ser explicado por maiores volumes de produção de crédito, 2,7 bilhões de reais no 4T22, +3 por cento vs. 4T21, em paralelo a um aumento da Taxa Selic do período e um crescimento de 7,4 dias no prazo médio da produção de crédito. Com isso, a Carteira de Crédito Líquida da Provisão para Perda Esperada finalizou o período em 1.834,3 milhões de reais, crescimento de 1,7 por cento na comparação trimestral. “Além disso, podemos destacar um aumento da inadimplência do período de 0,1 p.p. para 1,5 por cento, mostrando uma resiliência do segmento de Techfin na deterioração dos indicadores de qualidade acima do mercado (+0,4 p.p.).”

A análise ressaltou o crescimento de 196,5 por cento na PDD para 16 milhões de reais, sendo esta relacionada a um provisionamento específico de 9,6 milhões de reais decorrente da antecipação de recebíveis pela Supplier a um de seus afiliados do ramo atacadista de eletrônicos que ingressou com pedido de recuperação judicial. O caso não tem relação com as Americanas.