“Temos que aproximar a Faria Lima da Amazônia”, diz especialista, sobre crédito de carbono

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Foto: Markus Distelrath / Pexels

São Paulo – O debate sobre as mudanças climáticas extrapolou as reuniões anuais dos fóruns de sustentabilidade. O Brasil está na pole position no mercado de carbono e, segundo os especialistas no assunto, tem potencial para muito mais. Já estamos em US$ 2 bilhões. “A gente está olhando para um mercado de US$ 50 a US$ 100 bilhões”, segundo Vitória de Sá, sócia fundadora da Vert Capital.

Neste ano, o Senado Federal aprovou o PL 6539/2019 que modifica a Lei 12.187/2009 que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), para incluir os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, instrumento assinado em 2015. O Acordo estabeleceu metas para redução de emissão de gases de efeito estufa, a Contribuição Nacionalmente Determinada, NDC, na sigla em inglês, com o objetivo de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais.

“A Política Nacional criou um mercado. A gente deu um primeiro passo, na própria determinação do crédito de carbono como ativo financeiro internacional. Já destravamos em algum nível esse mercado”, disse Vitória. “É um crédito de carbono de altíssima qualidade, é super relevante. É um mecanismo de combate aos riscos climáticos.”

Na visão de Mariana Cançado, da Future Carbon, ainda se trata de um mercado muito artesanal. Para ela, aliar o mercado financeiro seria a saída para escalar a produção. “Ainda falta muita educação para o mercado financeiro”, diz ela. “Eu rodo bastante a Faria Lima e percebo que as gestoras e corretoras estão olhando muito para essa agenda, mas com dificuldade de saber como esse ativo se comporta.”

Mariana citou que hoje há novas opções, como algumas que a Future Carbon oferece. “O produtor, fazendeiro ou a empresa parceira costumam ter de investir muito dinheiro antes do retorno no sentido de fazer estudos de viabilidade, PDD, certificação… O produtor ou a empresa acabam gastando R$ 2 milhões, por exemplo, para pensar em crédito de carbono.”

Para incentivar os agricultores a utilizarem processos de cultivo de baixo carbono, Mariana ressalta, novamente, o papel da educação, além da aproximação entre os dois mundos. “Precisamos aproximar a Faria Lima da Amazônia”, ela diz.

“Para o pequeno e médio produtor, pode ser uma fonte de renda relevante, mas para isso é necessário saber como estão as emissões e, a partir disso, estão as oportunidades ou de diminuição de emissões e geração de receita. Ainda temos um grande desafio na agricultura que é chegar a um consenso nas metodologias”, diz Mariana.

“A gente não tem dúvida que o agro pode ser uma fonte da solução e geração de crédito de carbono, mas precisamos do Brasil tendo voz nessas mesas que definem o padrão mundial”, finaliza.