Recuperações judiciais costumam ser lentas e dolorosas para acionistas, diz Guide

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São Paulo – O pedido de recuperação judicial da Americanas, na última quinta-feira (19/1), pode levar anos para ser concluído e resultar em pouco ganho para os acionistas, aponta a Guide Investimentos.

Algumas operações de recuperação judiciais de grande porte concluídas recentemente levaram cerca de quatro anos (entre a data do pedido de recuperação e a data de saída). Diversos outros casos seguem sem conclusão após mais de cinco anos. Vale destacar que no caso da Americanas, o pedido foi aceito no mesmo dia em que foi feito, o que não é usual.

A análise cita como exemplos as RJ da Oi, PDG, OGX, MMX, entre outras que tinham suas ações negociadas na B3. Outro caso conhecido é o da Rodovias do Tiete, onde muitos investidores de debentures incentivadas foram negativamente impactados, diz a corretora.

Além da saída da ação dos índices da B3, algumas implicações são mais indiretas: historicamente, as recuperações judiciais são lentas e poucas vezes há ganho para os acionistas neste processo, com o preço das ações caindo bastante durante o processo.

“Boa parte da queda ocorre antes, mas mesmo após o pedido de RJ as ações têm performance ruim. Umas das poucas exceções à esta regra foi a Eternit, que apresentou valorização desde que a RJ foi pedida em 2018. Diversos outros casos mostram forte oscilação após a RJ, como Saraiva e Oi, mas a evolução de preços também foi negativa nestes casos”, comenta a Guide.

CASO AMERICANAS

Em seu pedido de RJ, a Americanas declarou ter então R$ 43 bilhões em dívidas com aproximadamente 16,3 mil credores. Com isso, a medida deve suspender as ações feitas pelos bancos recentemente, algumas com intuito de garantir parte dos recursos devidos, como foi o caso do BTG Pactual, que tinha conseguido o bloqueio de R$ 1,2 bilhão.

A Guide destaca que a companhia tem até 60 dias para divulgar um plano de ação para os credores.

“Alguns pontos que devem ser endereçados seriam a redução das operações, a venda de alguns ativos e pontos físicos, assim como o corte em algumas despesas, como marketing, por exemplo. Uma vez apresentado o plano, precisa ser aceito por 50% dos credores. A expectativa pela capitalização da companhia também continua no mercado.”

Para a Guide, a recuperação judicial não é uma surpresa, mas adiciona mais uma camada no cenário já bastante grave da companhia. “A saída dos índices da B3 coloca uma pressão vendedora aos papéis uma vez que carteiras passivas precisam rebalancear seus portfólios de forma a zerar a posição na varejista”, finaliza a análise.

Às 16h36 (horário de Brasília), o papel da Americanas (AMER3), agora fora de 14 índices operados pela B3, avançava 9,85%, a R$ 0,78.

AÇÕES DOS BANCOS CAEM APÓS RJ DA AMERICANAS

As ações dos bancos – setor que tem forte peso no Ibovespa – operavam em baixa nesta segunda-feira, após a Americanas entrar em processo de recuperação judicial na quinta-feira, 19/1 com uma dívida de R$ 43 bilhões com cerca de 16,3 mil credores. Às 16h48 (horário de Brasília), os papéis de Bradesco BBDC3; BBDC4), BTG Pactual (BPAC11), Santander (SANB11) e Itaú Unibanco (ITUB4) caíam 3%, 4%, 2,5%, 3,4% e 2,6%. Banco do Brasil (BBAS3) destoava e operava em alta de 0,47%. O Ibovespa estava estável.

Segundo o jornal Valor Econômico, as dívidas da Americanas com os bancos somam R$ 18,5 bilhões, sendo R$ 13,6 bilhões com o risco sacado. O Bradesco é o maior credor, com R$ 4,7
bilhões a receber. Santander Brasil (R$ 3,7 bilhões), Itaú (R$ 3,4 bilhões), Safra (R$ 2,5 bilhões) e BTG Pactual (R$ 1,9 bilhões) completam os 5 maiores. Somadas, as pendências
financeiras são de R$ 16,2 bilhões.

Os analistas do setor financeiro da XP viram com surpresa a notícia da renúncia de Sérgio Rial do cargo de Presidente do Conselho de Administração do Santander, mas avaliam que, apesar de inesperado, o movimento é “coerente com o momento atual devido ao seu cargo anterior à frente da Americanas (AMER3), embora breve, e a potencial exposição do banco à companhia, que deve entrar em um período de negociação com seus credores”, comentaram, em relatório.