Realização de lucro e reforma tributária fazem Bolsa e dólar caírem

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo – O Ibovespa fechou em ligeira queda de 0,11%, aos 104.309,74 pontos, com investidores aproveitando para embolsar parte dos lucros depois de dois pregões seguidos de altas e de o índice ter ultrapassado os 105 mil pontos pela manhã, o que não ocorria desde o dia 5 de março (107.218,58 pontos). A queda das ações da Vale também pressionou o Ibovespa para baixo, apesar de outras ações de peso como as da Petrobras, Ambev e bancos avançarem, impedindo maiores perdas.

Ainda foi monitorada pelos investidores a entrega da primeira parte da proposta do governo sobre a reforma tributária, que inclui a unificação de impostos como PIS e Cofins, conforme já esperado. O volume total negociado foi de R$ 33,1 bilhões.

“As Bolsas subiram muito nos últimos dias com avanços em vacinas e pacotes de estímulos, então, acabam atraindo uma realização, apesar de as notícias ainda serem positivas”, disse o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi. No exterior, a maioria das Bolsas ainda fecharam em leve alta na esteira de notícias sobre vacinas contra o coronavírus e após a aprovação de um pacote de ajuda econômica de cerca de 1,8 trilhão de euros na União Europeia (UE).

Entre as ações que puxaram a queda do Ibovespa estão as da Vale (VALE3 -1,95%), que têm grande no peso no índice. Os papéis reagiram ao relatório trimestral de produção divulgado pela companhia, que sentiu os efeitos da pandemia de coronavírus e pode ter dificuldades de cumprir suas metas este ano, embora sua produção de minério de ferro tenha subido 5,5% no segundo trimestre frente ao mesmo período do ano passado.

Já a maior queda do Ibovespa foi da Qualicorp (QUAL3 -6,37%), depois que o fundador da companhia, José Seripieri, foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) que apura doações eleitorais não declaradas ao senador José Serra (PSDB-SP) durante a campanha de 2014.

Por outro lado, as ações da Petrobras (PETR4 2,46%) avançaram acompanhando a alta dos preços do petróleo e notícias positivas para a estatal, como a decisão favorável obtida na Justiça sobre a recuperação de contribuições de PIS/Cofins e a compra, pela Engie Brasil, de fatia adicional de 10% da Transportadora Associada de Gás (TAG), por R$ 1 bilhão.

As maiores altas do índice, por sua vez, foram CVC (CVCB3 3,93%) e da Ambev (ABEV3 3,54%), que acelerou ganhos durante a tarde. Os papéis de bancos também mostraram altas expressivas e ficaram entre as maiores altas, como os do Santander (SANB11 2,88%) e Bradesco (BBDC4 2,43%).

Na cena política, investidores estão vendo com bons olhos o avanço de discussões em torno da reforma tributária. Hoje, o ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou a proposta do governo no Congresso, elogiando a postura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

A proposta de unificação de impostos como PIS e Cofins foi confirmada e é um ponto em comum com propostas que já estão em andamento nas casas. No entanto, há outros pontos polêmicos, como a possível taxação sobre dividendos, que deve ficar mais para frente. “Ainda há muita coisa para acontecer, é uma reforma complexa, mas parece que Legislativo e Executivo estão conversando melhor, o que é positivo”, disse Galdi.

O dólar comercial fechou em forte queda de 2,45% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2110 para venda, no menor valor de fechamento em um mês e na maior queda percentual desde 8 de junho, em sessão de forte otimismo no exterior com a aprovação de um plano de recuperação econômica na Europa, enquanto aqui, investidores mostraram certa euforia com a entrega da primeira parte da proposta da reforma tributária no Congresso.

Para o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, além da continuidade do bom humor observado ontem com as notícias sobre avanços no desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus, a confirmação do acordo aprovado hoje por líderes da União Europeia, com um pacote de estímulo fiscal em torno de 1,8 trilhões de euros para tentar conter a crise causada pela pandemia, corroborou para a forte busca por risco no exterior.

Ele acrescenta que esses fatores levaram a um movimento de desmonte de posições defensivas no mercado doméstico, o que resultou em mínimas sequenciais do dólar, no patamar de R$ 5,16.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, destaca que a falta de notícias ruins com foco no novo coronavírus contribuiu para a desvalorização da moeda norte-americana ante às moedas pares e de países emergentes. Enquanto aqui, a entrega de parte da reforma tributária pelo ministério da Economia no Congresso elevou as expectativas dos investidores.

“Na parte da tarde, essa expectativa trouxe alívio ao mostrar um clima coordenado entre os poderes executivo e legislativo. É um sinal positivo por mais que a gente saiba que o caminho para a aprovação da proposta não será fácil e será longo”, avalia.

Após a entrega do documento, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falou com a imprensa ao lado dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, mostrando integração entre governo e parlamentares.

Amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, a profissional da Veedha ressalta que o dólar poderá passar por uma correção, após engatar duas quedas seguidas sendo a de hoje “bem forte”, além do mercado ficar atento ao noticiário sobre a pandemia.