Previsão de alta do PIB 2022 segue em 1% – RTI

554
Edifício-Sede do Banco Central do Brasil em Brasília. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O Banco Central (BC) manteve a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano em 1% na edição de março do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
“Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do
quarto trimestre de 2021 apontou crescimento acima do esperado. Apesar de
indicadores mensais mostrarem recuo da atividade em janeiro, espera-se
recuperação em fevereiro e março com a melhora da pandemia. A surpresa
observada no PIB do quarto trimestre e o resultado esperado para o primeiro
trimestre favorecem a projeção de crescimento no ano. Adicionalmente,
mantém-se perspectiva favorável para alguns setores específicos, como a
agropecuária e as atividades econômicas que ainda estão em processo de
recuperação dos impactos negativos da pandemia.”, pontua o documento.
O BC explica que, em sentido oposto, as informações disponíveis sugerem
que a escassez de matéria-prima ainda é um fator limitante para a indústria e
que a recomposição de estoques não deve contribuir significativamente para a
demanda do setor em 2022. O risco fiscal elevado e o processo de aperto
monetário em curso continuam impactando as condições financeiras atuais e,
consequentemente, a atividade econômica corrente e futura. O elevado nível
corrente de incerteza econômica doméstica atua na mesma direção. A
elevação dos preços de commodities e dos preços de produtos importados –
especialmente desde a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia
atenuada pela recente apreciação do real, pode ser considerada um novo choque
de oferta do ponto de vista da economia doméstica, com impacto altista sobre a
inflação e negativo sobre a atividade econômica no curto prazo.
No âmbito da produção, houve redução nas previsões de crescimento para os três setores. A projeção para a agropecuária passou de crescimento de 2,0%, no último RI, para recuo de 0,6%, influenciada por queda no terceiro trimestre mais intensa do que se previa. O declínio esperado na agropecuária em 2021 resulta, em especial, de estimativas de quedas na produção em culturas com participação elevada no setor algodão e laranja não compensadas inteiramente pela safra recorde de soja. A previsão de recuo no abate de bovinos, influenciada por consumo doméstico deprimido e, mais recentemente, pela suspensão das exportações de carne bovina para China, contribui adicionalmente para a perspectiva de retração da agropecuária neste ano.
Por outro lado, a inflação ao consumidor segue elevada, com alta
disseminada entre vários componentes, e mais persistente que o antecipado. No
trimestre encerrado em fevereiro, a variação do Indice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) revelouse 0,83 p.p. maior que o esperado pelo Comitê
de Política Monetária (Copom) em seu cenário de referência de dezembro.
Parte significativa da surpresa inflacionária no trimestre está relacionada a
componentes mais voláteis, em especial aos preços de combustíveis e de
alimentos, mas também houve surpresa em itens associados à inflação
subjacente. As diversas medidas de inflação subjacente permanecem acima do
intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As
expectativas de variação do IPCA apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em
torno de 6,4% e 3,7%, respectivamente. No que se refere às projeções
condicionais de inflação, no cenário de referência, com trajetória para a
taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL
5,05, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de
inflação do Copom situam-se em torno de 7,1% para 2022 e 3,4% para 2023. Esse
cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12,75% a.a. em 2022 e
reduz-se para 8,75% a.a. em 2023.
No âmbito externo, a economia global prosseguia até fim de fevereiro em
trajetória de recuperação, ainda que com dispersão regional, entre países e
entre setores da atividade. Apesar de mais transmissível, a nova variante
Ômicron da Covid-19, descoberta em novembro de 2021, tem impactado as economias
em menor intensidade do que o inicialmente previsto quando do seu surgimento.
Apesar disso, a evolução da pandemia da Covid-19 continua sendo fator de risco
relevante no cenário prospectivo para a economia mundial. O aparecimento de
novas variantes, a efetividade da imunização da população, medidas de
restrição à mobilidade e o distanciamento social ainda são fatores
determinantes para o crescimento econômico e a inflação no mundo.
Nas últimas semanas a tensão geopolítica entre a Rússia e a Ucrânia se
agravou, levando diversos países a adotarem sanções econômicas e financeiras
à Rússia.
“Embora seja difícil projetar os próximos desenvolvimentos, o conflito
armado aumentou a aversão global ao risco, elevando, consequentemente, os
prêmios embutidos nos preços dos ativos financeiros, e deve impactar
severamente a economia russa e seus principais parceiros comerciais. Esse
cenário traz pressão adicional aos preços das commodities em que a Rússia e
a Ucrânia são relevantes na oferta global, como trigo, milho, petróleo, gás
natural, commodities metálicas, e fertilizantes, dentre outros”, diz.
Em síntese, desde o último Relatório de Inflação, a recuperação da
economia global observada ao longo de 2021 prosseguiu, porém sujeita a
descontinuidades, com grande dispersão setorial e regional, além de alta
volatilidade. As taxas de inflação ao consumidor em economias emergentes e
avançadas continuam refletindo pressões vindas da dinâmica dos preços de
commodities, dos problemas nas cadeias de suprimentos, do realinhamento de
preços relativos e da normalização da atividade nos setores mais afetados
pela pandemia. Em consequência, as expectativas de inflação têm se elevado,
especialmente para horizontes de curto e médio prazo. Os Bancos Centrais têm
reagido a essa deterioração no cenário inflacionário com elevações nas
taxas de juros e ajustes nas políticas acomodatícias não convencionais.
No ano de 2021 a economia brasileira cresceu 4,6% após retração de 3,9%
em 2020. Considerada a data de corte do Relatório de Inflação (RI) de
dezembro, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no ano veio acima da