Política do Fed está restritiva, mas mercado prevê caminho diferente para inflação, diz Powell

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell / Foto: Fed

São Paulo – O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou que “a política monetária atual é restritiva” e que, daqui pra frente, será preciso avaliar os atrasos nos efeitos de tal restrição além dos impactos do aperto de crédito no setor bancário.

Para Powell, até pouco tempo atrás, “era claro que seria necessário um maior endurecimento das políticas”, disse durante participação em painel na Conferência Thomas Laubach, em Washington, nos Estados Unidos.

Mas “os riscos de fazer muito ou fazer pouco [em relação à política monetária] estão se tornando mais equilibrados e nossa postura foi ajustada para refletir esse fato”.

O presidente do Fed comentou também que a visão do mercado sobre a inflação tem sido mais otimista do que a do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que espera uma pressão sobre os preços mais persistente.

DISCREPÂNCIA ENTRE VISÕES

“Recentemente, os mercados parecem estar precificando um caminho de taxa diferente do que o Comitê espera que seja apropriado”, afirmou.

Segundo ele, essa discrepância não reflete uma falta de confiança no banco e sim “simplesmente uma previsão diferente”. “Uma em que a inflação cai muito mais rapidamente do que os membros do Comitê acham mais provável”, explicou.

Mas, ele complementou, “eu diria que, até agora, os dados continuaram a apoiar a visão do Comitê de que reduzir a inflação levará algum tempo”.

O Fomc elevou a taxa básica de juros em sua última reunião de política monetária, ocorrida entre os dias 2 e 3 de maio, em 0,25 ponto percentual (pp). Agora, as taxas estão em seu maior nível em décadas, na faixa entre 5,0 e 5,25%.

Apesar dos membros do Fed estarem expressando continuamente uma posição mais hawkish, indicando pelo menos uma manutenção das taxas nesse nível por algum tempo, o mercado vem precificando cortes já para o segundo semestre desse ano.

De acordo com a ferramenta Fed Watch do CME Group, 33% dos participacantes acreditam que as taxas serão cortadas na reunião de setembro em 0,25 pp. Já em novembro, mais da metade do mercado acredita que as taxas já começaram a cair em relação ao nível atual.

CRISE BANCÁRIA

Powell explicou que, apesar do sistema bancário norte-americano estar “resiliente e bem posicionado para lidar com os desafios atuais”, as recentes crises no setor forçaram as instituições a tornarem sua política de crédito mais restritiva.

“Enquanto as ferramentas de estabilidade financeira ajudaram a acalmar as condições no setor bancário, os desenvolvimentos nessa área, por outro lado, estão contribuindo para condições de crédito mais restritivas”, explicou.

Assim, isso deve “pesar nas contratações e na inflação. Como resultado, nossa taxa básica de juros pode não precisar subir tanto quanto precisaria para atingir nossas metas”.

MERCADO DE TRABALHO

Powell apontou que a atual folga no mercado de trabalho norte-americano não causou necessariamente a alta inflacionária, mas se torna cada vez mais um fator na continuidade dela.

Para ilustrar seu ponto, Powell citou como a mior parte da População Economicamente Ativa está, atualmente, empregada no setor de serviços não-imobiliários, “uma das áreas onde a inflação é mais persistente”.

Por outro lado, ele explicou que o fOMC vem procurando olhar outras medidas alternativas para avaliar o mercado de trabalho que podem estar indicando um aperto maior do que a taxa de desemprego sugere. Em abril, o índice caiu para 3,4%, a mais baixa desde 1969.

Por fim, Powell disse ser difícil prever possíveis choques de oferta futuros no caminho da inflação, mas que o papel do banco central é manter estabilidade de preços ocorram essas disrupções ou não.