Guide vê incertezas sobre novo governo como causa de baixa dos ativos do Ibovespa

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Fernando Haddad concede entrevista coletiva à imprensa no CCBB, em Brasília. Divulgação Gabinete de Transição.

São Paulo- A Guide divulgou uma análise de como o governo eleito pode influenciar o desempenho das ações na Bolsa brasileira. Para os analistas da Guide, a incerteza sobre as políticas econômicas do próximo governo tem levado a um aumento nos prêmios de risco nos ativos brasileiros, que não acompanharam a alta no mercado internacional.

“Apesar da queda acentuada de algumas classes de ativos, ainda é cedo para grandes aumentos nas alocações e mantemos preferência no mercado de ações por ativos de qualidade (margens altas, dívida baixa). Indicadores técnicos indicam que um repique no curto prazo é provável”, dizem os especialistas que estimam que tais incertezas devem continuar até 1T23.

A falta de clareza sobre a política econômica do próximo governo tem levado o Ibovespa a ter desempenho inferior ao das bolsas no mercado internacional. Apesar de a diferença não ser tão grande, é relevante: a maior parte do tempo a diferença de performance entre o S&P500 e o Ibovespa é menor que 2%, diz a Guide. A diferença nos últimos dias tem sido superior a 2% , recorrentemente.

Apesar de ainda não se saber muita coisa a respeito do próximo governo, os analistas da Guide não gostaram dos nomes anunciados até agora para os cargos de comendo do governo, porque não são considerados nomes técnicos. “Até agora, poucos nomes foram divulgados e boa parte do programa do próximo governo parece se resumir a aumentar os gastos públicos. Fora isto, parece haver ainda espaço para nomeações de profissionais com perfil heterodoxo para diversos cargos relevantes, mesmo que para isto seja necessário acabar com a Lei das Estatais”, ressalta.

“Em nossa visão, a falta de clareza sobre a política econômica do próximo governo está por trás desta queda no preço dos ativos no Brasil.”

O efeito da incerteza parece maior que o da piora das expectativas: até agora, a pesquisa Focus do Banco Central apresentou poucas alterações nas projeções de crescimento econômico, inflação e taxa de juros para 2023. “Apesar do governo Lula ser marcado por um crescimento elevado e inflação baixa, o governo Dilma foi marcado pelo oposto.”

As indicações atuais parecem caminhar para um governo Lula (2023-2026) mais heterodoxo, similar ao que foi visto no governo Dilmadiz o documento. “Por exemplo, com menor rigor fiscal e políticas heterodoxas ou intervencionistas nas estatais.

Apesar da queda dos últimos dias, os especialistas não notaram nenhum sinal de pânico no mercado. Os investidores estrangeiros diminuíram as compras, mas ainda estão sendo compradores de ações brasileiras. “A queda do Ibovespa foi muito maior em empresas mais endividadas (sofreram mais com a queda dos juros), empresas menores e empresas com margens baixas. Empresas mais defensivas, exportadoras, ficaram de lado. Ou seja, a queda não foi generalizada e sem critério.”

Outro ponto que chama atenção é que até agora não há uma queda generalizada no mercado. Não há empresas na máxima dos últimos 12 meses, mas a porcentagem de ações na mínima também não é muito alta. A porcentagem de empresas nas mínimas dos últimos doze meses é alta, mas não é muito diferente do que tem sido observado desde a queda do mercado de ações brasileiro no segundo semestre de 2021.

Outros indicadores técnicos que poderiam ser usados para indicar se a queda foi exagerada também não indicam níveis de crise no mercado, como explica a Guide. O IFR (Indice de Força Relativa) chegou perto de 30 na quarta-feira (14/dez), mas ainda se encontra acima de valor. Normalmente, leituras abaixo de 30 indicam que o mercado está sobrevendido, o que ainda não aconteceu. Outros indicadores, como a volatilidade implícita nas opções, ainda não chegaram a níveis extremos: a volatilidade era maior antes das eleições (quando o Ibovespa ainda não tinha caído tanto) do que após as eleições.

Até agora, os fatores que mais foram penalizados pelos investidores foram empresas endividadas, empresas pequenas, entre outros fatores. A alta dos juros é a principal explicação para isto.