Nova mudança no comando da Petrobras preocupa mercado e ação cai

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Foto: Divulgação / Petrobras

São Paulo – O mercado reage negativamente à notícia de troca de comando da Petrobras e as ações recuam em pregão marcado por pessimismo global e notícias negativas. As ações da Petrobras abriram em queda de mais de 2% após anúncio do governa federal, que é acionista controlador da Petrobras. Às 13h00 (horário de Brasília), os papéis ordinários (PETR3) e preferenciais (PETR4) recuavam 3,27% e 4,27%, a R$ 34,24 e R$ 31,26, respectivamente, enquanto o Ibovespa, principal índice da B3 caía 0,83%.

O ministério de Minas e Energia comunicou, na noite de ontem, a saída de José Mauro Coelho da presidência da Petrobras. Para o seu lugar, será conduzido Caio Mário Paes de Andrade, atual secretário de desburocratização e com forte ligação ao ministério da Economia.

Caso seja confirmado no posto, Caio de Andrade será o quarto presidente da Petrobras na gestão de Jair Bolsonaro. Antes dele, vieram José Mauro Coelho (40 dias no cargo), Joaquim Silva e Luna (de 16 de abril de 2021 a 13 de abril de 2022) e Roberto Castello Branco (de 3 de janeiro de 2019 a 13 de abril de 2021).

Para Bruno Komura, analista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, o movimento de hoje indica o reflexo do pessimismo dos mercados que já vinha sendo apresentado nas últimas semanas.

“O mercado está muito volátil e sem consistência e provavelmente é o que veremos nos próximos dias. Hoje está pesando a questão da troca de comando da Petrobras, o pessimismo dos investidores em relação ao crescimento da China e fatores locais, como o IPCA-15 que veio acima do esperado e impacta os juros e as ações das companhias de varejo e construção civil. O consumo de aço caindo também é péssimo para as siderúrgicas, e as vendas de novas moradias e PMI dos EUA vieram abaixo do esperado. Enfim, hoje foi um dia cheio de notícias ruins”, resumiu o analista.

Em relação à Petrobras, o analista considera a notícia negativa pois mostra que a interferência política deve aumentar por conta das eleições, o que deve levar a indicações políticas para o comando da empresa e medidas populistas.

“A notícia é negativa, mas mais por conta do intervencionismo será mais presente mas não deve mudar a política de preços da companhia. A frequência de reajustes deve ser menor, mas sem prejudicar tanto a companhia. Deve ter mais indicações políticas para a Petrobras por conta da eleição”, avalia.

Veja outras análises abaixo:

BTG PACTUAL

O BTG Pactual vê com preocupação mais uma mudança no comando da Petrobras diante da pressão exercida pelo Governo Federal para evitar novos aumentos nos preços dos combustíveis em um cenário de inflação em alta.

“Acreditamos que o novo presidente enfrenta um difícil dilema: como preservar o próprio emprego seguindo as políticas da empresa e sem comprometer a disponibilidade de combustível do Brasil? Acreditamos que trazer preços para Indice de Preços ao Produtor (IPP) é importante para manter um abastecimento saudável de combustível para o país, que depende de importações para manter a oferta suficiente para atender a demanda”, explicou o relatório do BTG.

O banco afirmou ainda que a principal preocupação é se mecanismos de proteção da Petrobras contra interferência podem sair pela culatra, ou seja, o governo está cada vez mais consciente de que não consegue interferir nas decisões diárias da empresa e que o ônus político associado aos altos preços dos combustíveis será exclusivamente seu.

Para os analistas do BTG, uma mudança brusca na direção e nas diretrizes da companhia pode ser recebido negativamente pelos investidores. A preservação da maioria dos equipe de gestão em mudanças anteriores foi uma medida importante para traçar um ambiente de continuidade.

“Qualquer mudança pode aumentar a percepção de risco. Além disso, notamos que o comunicado do Ministério da Energia de ontem à noite menciona que devem perseguir um setor energético mais equilibrado para que haja condições de crescimento do emprego e da renda. Para nós, isso soa como o governo está buscando uma nova maneira de equilibrar as políticas de Petrobras com o objetivo de evitar novos aumentos nos preços dos combustíveis”, pondera a análise do banco.

O BTG reafirma que, embora acredite que os mecanismos de governança da estatal até agora impediram uma interferência direta em sua forma de fazer negócios, a queda de mais um presidente confirma a visão do banco de que as ações da estatal permanecerão altamente voláteis à medida que os investidores percebem um alto risco associado à continuidade do fluxo de dividendos.

Por fim, os analistas mostram que o cenário complexo explica o motivo pelo qual as ações da companhia não conseguiram ter um desempenho semelhante ao de seus concorrentes, mesmo após vários trimestres de resultados financeiros e resultados operacionais. A corretora aponta neutralidade sobre os papéis da Petrobras e aposta em outras empresas do setor petrolífero.

ITAÚ BBA

O Itaú BBA avaliou a notícia sobre a troca de comando da Petrobras como negativa diante das incertezas que a indicação do Ministério das Minas e Energia suscita. O banco tem recomendação outperform (equivalente à compra) para os papéis da petrolífera, com preço-justo de R$ 38,0 para a preferencial PETR4 e US$ 14,00 para as ADRs.

“Não está claro se o Sr. Andrade atenderá aos requisitos do estatuto da Petrobras, já que ele tem menos de dois anos de experiência no setor”, comentou o BBI, em relatório divulgado hoje.

A Petrobras terá que realizar nova eleição de diretoria, uma vez que José Mauro Coelho foi eleito pelo sistema de votação cumulativa.

A decisão do governo de substituir os dois últimos CEOs da empresa foi desencadeada pelos dois últimos reajustes de preços, ainda que não tenham sido suficientes para alinhar os preços com a paridade internacional.

ATIVA

A Ativa Investimentos disse que a mudança no comando da Petrobras traz sinais negativos para o mercado, uma vez que simboliza (novamente) o desconforto do acionista majoritário com a forma como a Petrobras vem tocando a sua política de preços.

“A chegada de Andrade poderá significar a aplicação de política de preços de derivados ainda mais espaçada, abrindo espaço para a vigoração mais perene de preços defasados frente aos praticados no mercado internacional. Aguardaremos mais informações para definir se reveremos nosso posicionamento perante as ações da companhia”, detalhou a Ativa.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, a entrada de Andrade fortalece a parcela do governo que Paulo Guedes representa. Após Adolfo Sachsida assumir o comando do Ministério de Minas e Energia era natural observar esse tipo de atuação.

“Em termos de políticas de preços, o momento parece pouco oportuno, visto que gasolina não tem reajuste há um bom tempo e pratica preços 20% abaixo da cotação internacional. Diga-se de passagem, matérias ontem indicavam que Guedes gostaria de dilatar a frequência de reajustes para um prazo superior a 100 dias, o que a coincidente substituição pode vir a sinalizar”, ponderou Sanchez.

O economista ressaltou que a ala econômica do governo, empenhada no processo de privatização da companhia, vem defendendo que Caio será peça fundamental dentro da companhia para viabilizar a venda da empresa.

O nome de Andrade é questionado por representantes dos minoritários no conselho da estatal, que não reuniria experiência profissional suficiente para assumir o cargo. A Lei das Estatais exige experiência de dez anos na mesma área de atuação ou área conexa, ou quatro anos na chefia em empresa de porte equivalente, cargo em comissão ou de confiança no setor público; ou cargo de docente ou de pesquisador em áreas de atuação da estatal para a qual foi nomeado.

MIRAE ASSET

Segundo avaliação da Mirae Asset, a mudança tende a influenciar o comportamento de preços das ações da empresa, já que a discussão gira em torno da política de preços da Petrobras, que segue com o modelo de paridade internacional. A corretora mantém sua indicação de compra, com preço-justo de R$ 41,37 (up-side 14%).

“A mudança pode acarretar, inclusive, mudanças na diretoria e no conselho de administração da empresa. Apesar da pressão do governo, não aguardamos mudanças na política de preços da Petrobras, que tem a referência internacional da cotação do Brent como parâmetro para seus preços praticados no mercado doméstico”, explicou a Mirae.

GENIAL

Para os analistas da Genial Investimentos, a notícia deve aumentar a volatilidade no papel. Entretanto, a empresa tem gerado em torno de 40% do seu valor de mercado em fluxo caixa. “O investidor da Petrobrás poderia ter seu capital remunerado via dividendos em aproximadamente 3 ou 4 anos. A corretora apontou que está revisando sua posição sobre os papéis da companhia.