Não há nenhuma razão técnica para a taxa de juros estar no nível que está hoje, diz secretário de Política Econômica

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O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, durante a entrevista coletiva para divulgação do Boletim Macrofiscal da Secretaria de Política Econômica, no Ministério da Fazenda, em Brasília. Crédito: Divulgação/MF.

São Paulo – A redução da taxa de juros poderia ter impactos positivos sobre as receitas e sobre o mercado de trabalho, afirmou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, ao apresentar os dados do Boletim Macrofiscal nesta quarta-feira, em que foi apresentada a revisão da previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, de 1,9% para 2,5%. A mudança reflete o crescimento acima do esperado no 1T23, puxado pelo crescimento acentuado do setor agropecuário, segundo a pasta.

“Se olharmos a regra de Taylor, o Brasil está com uma taxa de juros muito superior ao que é previsto nessa regra. O próprio Banco Central já previa uma redução. Há um espaço para redução, inclusive dentro do que o BC considera uma taxa de juros neutra”, comentou o secretário.

A tendência é que o Brasil tenha um crescimento positivo inferior ao que seria previsto, mas que deve apresentar melhorias com o corte de juros. “Apesar do cenário difícil provocado por uma política monetária muito restritiva, há indicadores que mostram melhorias expressivas. Tudo isso nos dá esperança de que setores que são afetados por essa taxa de juros muito restritiva, possam ter um melhor crescimento no futuro.”

Por setores, o governo estima uma desaceleração da atividade na comparação interanual. Para o setor agropecuário, a expectativa é de um recuo interanual de 12,2%, ante crescimento de 18,8% no 1T23.

Ao ser questionado por jornalistas ao final da apresentação dos dados, o secretário destacou que a política monetária afeta as variáveis fiscais e que nem sempre há clareza de como ela afeta as variáveis macro e as variáveis fiscais. “Não é uma crítica ao Banco Central, é uma constatação. Não há nenhuma razão técnica para a taxa de juros estar no nível que está hoje. Isso tem causado um impacto significativo no nível de atividade, no acesso ao crédito. Eu não tenho a intenção nem a pretensão de influenciar a política monetária, mas temos que levar em consideração, assim como é feito com o trabalho da política fiscal, o impacto da política monetária nas variáveis macroeconômicas”, comentou.

No entanto, ele evitou afirmar que a decisão do BC é política, nem quis recomendar ou especular sobre qual seria a taxa de juros ideal. “O BC usa outras variáveis, tem uma estratégia própria de comunicação. Eles tem projeção de inflação próxima do centro da meta. Não estou insinuando de forma alguma que haja uma atuação política, não tenho visão negativa. Apenas estou fazendo uma avaliação das variáveis macro e fiscais, e na nossa compreensão dessa análise, não há razão para o atual patamar de juros. E é importante que a análise do impacto da política monetária fique claro para a sociedade. Só isso.”

A subsecretária de Política Macroeconômica, Raquel Nadal, acrescentou à reflexão sobre a análise do nível da taxa de juros se a análise dos dados de inflação não refletem uma aderência ao atendimento das metas de inflação. “Começamos o ano com a expectativa de inflação acima de 6% e é provável que encerre dentro da meta”, disse.

Em relação à revisão da projeção de crescimento do PIB, Mello disse que a postura mais conservadora considera os efeitos de defasagem da política monetária em junho e julho. “Uma série de fatores, como o desempenho do Minha Casa, Minha Vida e o lançamento do PAC, que podem afetar o crescimento da economia brasileira, serão considerados. O que nós temos observado é uma aproximação das projeções do mercado das nossas, e o mercado faz uma análise semanal, nós temos um intervalo maior de avaliação. No 1T23, veio um dado forte de crescimento da agricultura, nós olhamos os dados e revisamos para cima, mas não fizemos um cenário próximo de 20% no ano, mas próximo de 13%. Tudo isso trouxe uma projeção de 2,5%, mas se outros dados mostrarem mudança, podemos revisar novamente.”

Mello disse que alguns temas ficaram de fora do boletim, como os precatórios, que serão pagos ao longo do tempo, e outras despesas que tem sido avaliadas como coloca-las no relatório ao longo do tempo. “Por exemplo, as despesas com Covid, eram colocadas como recorrentes. A metodologia da SPE foca nas melhorias para o setor público. Temos parcerias para discutir como a política fiscal impacta em outras demandas. Estamos trabalhando nesses aprimoramentos para ser incorporados nos dados em 2024”, explicou o secretário.

“A melhor decisão é retirar os gastos com covid da análise fiscal. Precisamos olhar para os gastos do passado para avaliar quais foram excepcionais, fora da curva, e agora estamos voltados para esse aprimoramento do resultado fiscal daqui pra frente”, acrescentou a subsecretária de Política Fiscal, Débora Freire.