Na Celac, Lula prega solidariedade, diálogo e cooperação para superação de desafios globais

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Reunião da Celac Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os desafios globais serão superados com solidariedade, diálogo, cooperação e integração entre os países. A declaração foi feita na abertura da reunião de Cúpula da Comunidade dos Países Latino-americanos e Caribenhos (Celac), nesta terça-feira, em Buenos Aires.

“O mundo vive um momento de múltiplas crises: pandemia, mudança do clima, desastres naturais, tensões geopolíticas, pressões sobre a segurança alimentar e energética, ameaças à democracia representativa como forma de organização política e social. Tudo isso em um quadro inaceitável de aumento das desigualdades, da pobreza e da fome”, afirmou.

“A maior parte desses desafios, como sabemos, é de natureza global, e exige respostas coletivas. Não queremos importar para a região rivalidades e problemas particulares. Ao contrário, queremos ser parte das soluções para os desafios que são de todos”, completou.

No discurso, o presidente agradeceu aos chefes de Estado presentes à reunião que “se perfilaram ao lado do Brasil e das instituições brasileiras, ao longo destes últimos dias, em repúdio aos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília”. Lula destacou que a região é “pacífica e repudia o extremismo, o terrorismo e a violência política”.

O presidente disse que o Brasil vai retomar as articulações internacionais e a participação em grupos regionais, como a Celac. “Ao longo dos sucessivos governos brasileiros desde a redemocratização nos empenhamos com afinco e com sentido de missão em prol da integração regional e na consolidação de uma região pacífica, baseada em relações marcadas pelo diálogo e pela cooperação”, afirmou.

“A exceção lamentável foram os anos recentes, quando meu antecessor tomou a inexplicável decisão de retirar o Brasil da Celac”, completou Lula, defendendo a integração latino-americana.

Segundo Lula, nos últimos anos, a Celac avançou e colaborou para o enfrentamento de problemas regionais e mundiais, como a pandemia da Covid-19, inclusive constituindo um plano de fortalecimento das capacidades de produção de vacinas e medicamentos. “A Celac não se omitiu em face dos desafios da segurança alimentar, da segurança energética e da mudança do clima”, afirmou.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Para Lula, a América Latina e o Caribe têm “capacidades muito especiais” para participar da transição energética global. “Temos matrizes energéticas diversificadas e potencial de crescimento em energias renováveis e limpas”, afirmou. “Além disso, temos em nossos territórios alguns dos principais biomas, dispomos de recursos naturais estratégicos, como os minerais críticos, conservamos parcela significativa da biodiversidade do planeta e somos uma potência em recursos aquíferos, chave para o futuro da humanidade”, completou.

O presidente disse que o governo brasileiro vai convocar, em breve, uma reunião da Cúpula dos Países Amazônicos. “A cooperação que vem de fora da nossa região é muito bem-vinda, mas são os países que fazem parte desses biomas que devem liderar, de maneira soberana, as iniciativas para cuidar da Amazônia”, afirmou Lula ao defender a valorização da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

Conforme Lula, é indispensável o apoio dos países da Celac à candidatura de Belém do Pará para sediar a COP-30, em 2025. “Para que possamos mostrar ao resto do mundo a riqueza de nossa biodiversidade, o potencial do desenvolvimento sustentável e da economia verde, além, é claro, da importância de preservação do meio ambiente e do combate à mudança do clima”, afirmou.

Segundo Lula, a região pode contribuir para “a construção de uma ordem mundial pacífica, baseada no diálogo, no reforço do multilateralismo e na construção coletiva da multipolaridade”. Para isso, na avaliação do presidente, é necessário o aprofundamento dos diálogos com países e organismos de outras regiões, como a União Europeia, a China, a Índia, a Asian (organização de países asiáticos) e a União Africana.

O presidente afirmou que as crises internacionais mostram o valor da integração, mas alertou para o risco da excessiva dependência de insumos de outros países, como evidenciado na pandemia da Covid-19.

“Isso não significa que devemos nos fechar ao mundo. Salienta apenas que essa integração será feita em melhores termos se estivermos bem integrados em nossa região”, afirmou. “Temos de unir forças em prol de melhor infraestrutura física e digital, da criação de cadeias de valor entre nossas indústrias e de mais investimentos em pesquisa e inovação em nossa região”, completou.

REDUÇÃO DA DESIGUALDADE

Lula disse que a estratégia de desenvolvimento dos países da Celac deve buscar a redução da desigualdade em suas diversas dimensões, com a garantia de acesso aos direitos fundamentais, em especial nas áreas da educação, da saúde e do trabalho. “Para crescermos de maneira sustentável não podemos seguir ostentando índices inaceitáveis de pobreza e fome, nem tampouco conviver com a desigualdade e a violência de gênero que atingem metade de nossas populações”, afirmou.

“É preciso respeitar e proteger nossos povos originários – até hoje ameaçados e negligenciados. É preciso trabalhar para que a cor da pele deixe de definir o futuro de nossos jovens”, completou.

O presidente afirmou que aspectos diversos na história da região aproximam os países, como o passado colonial e “a presença intolerável da escravidão que marcou nossas sociedades profundamente desiguais”, além das “tentações autoritárias que até hoje desafiam nossa democracia”.

“Mas também a imensa riqueza cultural dos nossos povos indígenas e da diáspora africana. A diversidade de raças, origens e credos. A história compartilhada de resistência e de luta por autonomia. Tudo isso nos faz sentir parte de algo maior e alimenta nossa busca por um futuro comum de paz, justiça social e de respeito na diversidade”, completou.

Lula encerrou o discurso homenageando Darcy Ribeiro, apresentado como “um brasileiro extraordinário, que se dedicou a repensar nossa região quando uma comunidade latino-americana e caribenha ainda era uma miragem”.