Mercados passam por estresse em momento de crise da China

547
Foto de Lorenzo / Pexels

São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 2,32%, aos 108.843,74 pontos, na menor pontuação do ano, passando o fechamento de 26 de fevereiro, de 110 mil pontos, em um dia de forte aversão ao risco no mercado local e global com os investidores preocupados com o possível colapso da incorporadora chinesa, Evergrande, e o reflexo nas economias. Em relação ao Brasil, como a China é um dos principais importadores de matéria-prima do Brasil, existe um temor do impacto que essa crise pode causar sobre as mineradoras e siderúrgicas
O minério teve forte queda em Singapura-8%-haja vista que o mercado chinês estava fechado devido ao feriado local e levou as empresas ligadas à commodity despencarem.
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos apontou que as incertezas em relação ao caso da Evergrande levaram os investidores à venda dos ativos. “A crise da Evergrande mostra a desaceleração do setor de construção civil na China, o que impacta na exportação do nosso minério de ferro para o país”.
O sócio-fundador da Fatorial Investimentos afirmou que “se a empresa for estatizada, em teoria, os riscos para o mercado são diminuídos”. Mas ainda há muitas incertezas e o importante agora é saber como o governo chinês vai lidar com a situação.
Para José Costa Gonçalves, analista da Codepe Corretora, existe um temor da incorporadora chinesa “dar o calote como ocorreu em 2008 com o Lehman Brothers (banco dos Estados Unidos) e o reflexo disso por aqui e no mundo. Vale lembrar que a China é nosso maior cliente e o impacto pode ser grande”. O analista da Codepe corretora também chama a atenção para as a perda das commodities, “com o medo do crescimento da China ser menor, a tendência é de as commodities irem se ajustando”.
Praticamente todas as ações do índice caíram. O reflexo do recuo do minério impactou todos os papéis de empresas ligadas às commodities aqui e no mundo. As ações Vale (VALE3), que têm um peso de 14,47% no índice, caíram 3,29% e as siderúrgicas Usiminas (USIM 5), CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) recuaram 1,43%, 3,08% e 0,93% respectivamente.
Ricardo Oliboni, chefe da mesa da Axia Investing, acredita que a queda é focada, em boa parte,  no “nosso cenário econômico conturbado e de baixas expectativas de melhora com o aumento da taxa de juros e a diminuição de compra do brasileiro”.
Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, disse que o medo de calote da Evergrande está gerando preocupação no mundo e “está fazendo com que as bolsas globais realizem”.
O gestor da Galapagos Capital comentou que o mercado também fica atento às decisões das taxas de juros aqui e nos Estados Unidos esta semana. “O mercado acredita que o Fed será um pouco mais hawkish (tom mais conservador), com a retirada dos estímulos provocando uma menor liquidez no mundo e levar à realização das bolsas”.
E, em relação ao Copom, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou na semana passada, que a alta da Selic será de 1 ponto porcentual (pp), “contrariando a expectativa do mercado que esperava um aumento mais de 1 pp na taxa de juros do País [que será definida na quarta-feira, dia 22] para controlar a inflação”.
O dólar comercial fechou o dia em R$ 5,3320, com alta de 0,81%. O bom desempenho da moeda norte-americana deve-se, principalmente, às preocupações com a Evergrande, gigante chinesa da construção civil e as consequências da grave crise pela qual atravessa a empresa, com impactos globais.
Para o CEO da Vai Tourinho, Pablo Spyer, “a aversão ao risco é global, a preocupação é que (a Evergrande) seja o novo Lehman Brothers (banco sediado em Nova York, que veio à falência em 2008, dando início a uma grave crise global)”.
Spyer, porém, ressalta que o dólar sobe frente a todas as moedas, mas sublinha a situação doméstica: “Aqui é pior ainda devido aos problemas fiscais e políticos, espantando o investidor estrangeiro. O real perde não apenas para seus pares, mas também para as moedas fortes”, contextualiza.
Por mais que o mercado não espere grandes surpresas para a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), a grande expectativa é para a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell: “Todo mundo quer saber quando começa o tapering (remoção de estímulos)”, analisa Spyer.
Segundo o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, “o movimento risk off (aversão ao risco, em inglês) é muito forte, devido às notícias da Evergrande. Os investidores estão indo atrás de ativos de segurança em mercados sólidos, e isso pressiona o dólar para cima”.
“O mercado está totalmente de olho na China, e em como o Partido Comunista Chinês lidar com esta situação. Algum tipo de medida terá de ser tomada, pois é a maior empresa da construção civil chinesa, e isso implicaria em outros setores”, pontua Ortiz.
De acordo com boletim do Bradesco, “os mercados acionários operam no campo negativo e o dólar se fortalece ante as demais moedas”.
A reunião do Fomc poderá mostrar algum indício do início do tapering ainda para 2021, como projetam os analistas do mercado.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam a sessão em queda, com exceção dos vencimentos de curto prazo com os investidores focados à complexa situação da Evergrande, gigante do setor imobiliário chinês, e na expectativa do impacto nas economias globais. Somado a isso, investidores ficaram à espera das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) para quarta-feira.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,080%, de 7,065% no ajuste de sexta; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,985%, de 9,040%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,130%, de 10,21% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,540%, de 10,63%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda superior a 2%, com o Dow Jones perdendo pouco mais de 600 pontos em seu pior dia desde julho de 2019 e o S&P 500 em sua pior performance desde maio.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos na hora do fechamento:
Dow Jones: -1,78%, 33.970,47 pontos
Nasdaq Composto: -2,19%, 14.714 pontos
S&P 500: -1,69%, 4.357,73 pontos