Mercadante assume presidência do BNDES e defende apoio às exportações e PMEs

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O presidente do BNDES Aloizio Mercadante, Lula e Alckmin. Foto: Ricardo Stuckert.

São Paulo – O ex-ministro e economista Aloizio Mercadante tomou posse hoje na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em cerimônia realizada nesta manhã no auditório do banco, no Rio de Janeiro (RJ), Mercadante destacou que o BNDES retomará sua tradição em fomentar o desenvolvimento do país, citando a tradição de economistas desenvolvimentistas como Celso Furtado, que criou a Sudene e dirigiu a Cepal e o BNDES.

“Após 50 anos na vida pública, assumo hoje a presidência do maior banco de desenvolvimento social das Américas”, disse Aloizio Mercadante.

“É um grande desafio presidir este banco, que já teve entre seus colaboradores grandes intelectuais como Celso Furtado, Roberto Campos, Ignácio Rangel, Conceição Tavares, Carlos Lessa e tantos outros. O país não seria o que é sem o BNDES. Três décadas depois, o Brasil havia se convertido em um país predominantemente urbano e industrial. Antes da crise da dívida e da chamada década perdida, a indústria brasileira era maior do que a da Coreia e a da China, somadas. Essa transformação fantástica não teria sido possível sem o BNDES”, lembrou o político.

Participaram da cerimônia de posse do presidente do BNDES e da diretoria do banco nesta segunda-feira o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e diversas autoridades e empresários, como o ministro do STF Gilmar Mendes, o presidente do TCU Bruno Dantas, o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, Vital do Rêgo, a presidente do PT Gleise Hoffmann, a presidente do BB Tarciana Medeiros, o presidente da Petrobras Jean Paul Prates, o presidente da Fiesp Josué Gomes, Trabuco, André Lara Resende.

Mercadante destacou o papel do banco na história do desenvolvimento do país, como no financiamento da Ferrovia Central e na história da Eletrobras, da Embraer, por exemplo.

O presidente do BNDES ressaltou que o banco buscará ampliar a diversidade em seu quadro de servidores, com mais mulheres e negros e disse que eles “sempre farão parte da história do BNDES.”

O BNDES também retomará a realização de concursos pra contratar servidores, com cotas para negros, e que o banco vai construir um museu no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, sobre o período de escravidão.

Ele destacou o papel de economistas como Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, entre outros, tiveram na história de construção do banco. “Vamos retomar tradição de apoiar desenvolvimento do país. O BNDES foi construído por desenvolvimentistas e liberais, teremos liberdade e diversidade de pensamento.”

Ele também disse que o atual governo não irá retroceder na defesa da democracia e que não haverá anistia, em referência aos ataques em Brasília no começo do ano.

Mercadante defendeu que o BNDES tenha uma visão de longo prazo e estratégica e no apoio às exportações. “O Brasil é grande exportador e as empresas precisam ganhar escala e mercado. O BNDES vai apoiar o pré e o pós embarque de produtos”, disse.

“O BNDES estamos desenvolvendo um projeto para a constituição de um Eximbank no BNDES à exemplo do que já existe nas principais economias do mundo”, disse.

O novo dirigente também reforçou que o banco atuará no apoio a economia limpa, mercados de crédito de carbono e seguirá apoiando a indústria de energias renováveis, como eólica e solar fotovoltaica. “O BNDES contribuiu para transição energética e energias renováveis no país e será verde, inclusivo e tecnológico”, afirmou.

O novo presidente do BNDES disse que o banco apoiará a Amazônia para enfrentar desmatamento por meio da retomada de ações de comando e controle e realizar projetos estruturantes para gerar alternativas para a população da região.

Outro ponto de destaque no discurso de Mercadante foi o apoio que o banco pretende dar às Pequenas e Médias Empresas (PMEs) com R$ 65 bilhões.

Ele também disse que irá reajustar aTaxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) cobrada pelo banco em seus financiamentos. “Não será um retorno da política de subsídios. Vamos apoiar PMEs com crédito privado. Debateremos ajuste da TJLP que o BNDES utiliza hoje, buscaremos uma taxa mais competitiva para as PMEs. A taxa atual penaliza pequenas empresas”, ressaltou.

Mercadante também criticou o pagamento de R$ 678 bilhões pelo banco de desenvolvimento ao Tesouro Nacional e o fato de o BNDES pagar 60% de dividendos ao Tesouro, acima do que o Banco do Brasil paga (40%).

Ele também disse que buscará uma “relação de equilíbrio” com Sistema Financeiro Nacional (FSN), sem competir com os bancos privados e voltou a pedir para entrar na Federação Brasileira de Bancos (Febraban) aos dirigentes presentes na cerimônia. Ele também já havia feito esse pedido em reunião recente na entidade, em São Paulo.

Mercadante disse que o BNDES pode contribuir para reduzir riscos e prazos e dar suporte para melhorar investimentos em infraestrutura.

“Queremos trabalhar com o Banco do Brasil e a Caixa em agenda de complementaridade e sinergia”, acrescentou.

O presidente do BNDES também destacou o papel que os novos diretores Teresa Campelo, Luis Navarro e Nelson Barbosa terão na nova gestão em todas as demandas e disse que o novo presidente do conselho Rafael Luchesi é um expoente da inovação da indústria e será fundamental para liderar essa frente no BNDES.

Por fim, disse que a política de avaliação de servidores por pontos atualmente em vigor será revogada.

ALCKMIN DEFENDE REFORMA TRIBUTÁRIA

Em seu discurso na cerimônia de posse da presidência e diretoria do BNDES, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo Alckmin disse que o Brasil precisa de reforma tributária e destacou a articulação do presidente Lula para a reeleição dos presidente da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, que terão papel fundamental na aprovação da reforma.

Alckimin também afirmou que o financiamento do BNDES às Parcerias Público Privadas (PPPs) e concessões será fundamentais para o país avançar no desenvolvimento da logística.

O vice-presidente disse que a recente participação do Brasil na Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], na Argentina, e as reuniões com os países vizinhos foram fundamentais para garantir o futuro das exportações brasileiras e que as exportações para a Argentina despencaram por conta do custo de capital elevado.

“Por que perdemos exportação industrial? Exportávamos US$ 30 bilhões e despencou por que o custo de capital é alto. O nosso concorrente tem Eximbank e financia o importador estrangeiro. Financiar o exportador é fundamental”, comentou. “Apoiar as exportações é apoiar as empresas brasileiras. O custo de capital elevado inviabiliza exportações”, comentou.

Alckimin defendeu que, com o acordo entre os países do Mercosul com a União Europeia e a visita de Lula aos Estados Unidos, o governo “está recolocando o país na economia mundial.”

O vice presidente destacou o papel do BIC, Brasil, Indonésia e Congo, com as florestas da Amazônia, do Congo e da Indonésia, será “fundamental para a sobrevivência do planeta” e que “o Brasil passará ser o grande protagonista em emissões de carbono.”

Ele também vê o compromisso do BNDES com PMEs como “fundamental para alavancar economia.”

“Mercadante tem sólida experiência acadêmica, política e espírito público. O BNDES é o banco do desenvolvimento”.

Por fim, citou uma frase do papa Paulo VI: “O desenvolvimento é o novo nome da paz.”

NOVO PRESIDENTE DO CONSELHO E DIRETOR

Na sexta-feira (3/2), o conselho de administração do banco nomeou em reunião realizada nesta sexta-feira, 3, o economista Rafael Lucchesi como novo presidente do colegiado.

Formado pela UFBA, Lucchesi ocupava a diretoria de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a diretoria-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a superintendência nacional do Serviço Social da Industrial (SESI), desde 2011.

Com vasta experiência na pauta da indústria, da tecnologia e da inovação, Lucchesi também foi secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado da Bahia, ocasião em que presidiu o Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação. Naquele período, foi membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.

Com a entrada de Lucchesi, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, anunciou o nome do procurador federal da Advocacia-Geral da União (AGU) Walter Baère, que estava na presidência do Conselho de Administração do BNDES desde 2022, como novo diretor do banco. Indicado para o conselho do BNDES em 2016, Baère foi secretário-executivo adjunto do Ministério do Planejamento (2017-2018) e consultor jurídico do Ministério do Planejamento (2012-2017). Também é doutorando em direto público da Universidade de Coimbra.