Lula chora ao falar de combate à fome, critica teto de gastos, mas promete responsabilidade fiscal

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O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, visita pela primeira vez o centro de transição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e se reúne com parlamentares das bancadas aliadas.

Brasília – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva visitou as instalações da transição governamental, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde se reuniu com parlamentares aliados, fez um discurso de 42 minutos e chorou ao falar do combate à fome. “Eu jamais esperava que a fome voltasse neste país”, disse.

Na sua fala, Lula mandou recados a diversos setores da sociedade e defendeu a democracia, o processo eleitoral brasileiro e a independência entre os Poderes. Criticou o teto de gastos públicos, mas disse que seu governo terá responsabilidade fiscal, destacando que agiu assim nos seus dois primeiros mandatos na Presidência da República, inclusive aumentando a meta de superávit fiscal.

“Vamos mudar alguns conceitos neste país. Muitas coisas que são consideradas gastos temos que passar a considerar investimento. Não é possível que se tenha cortado dinheiro da Farmácia Popular em nome de que é preciso manter a regra fiscal, cumprir a regra de ouro. Sabe qual é a regra de ouro neste país? É garantir que nenhuma criança vá dormir sem tomar um copo de leite e acorde sem ter um pão com manteiga para comer”, disse.

O petista cobrou do presidente Jair Bolsonaro o reconhecimento à derrota nas urnas e pediu que os manifestantes bolsonaristas voltem para casa e respeitem o resultado da eleição presidencial.

“Ele ainda não reconheceu a derrota. Seria tão fácil fazer como fez o [Geraldo] Alckmin quando disputou comigo, seria tão fácil fazer como fez o [José] Serra quando disputou comigo, seria tão fácil fazer como eu fiz com Fernando Henrique Cardoso, quando perdi as eleições”, afirmou. “Ele ainda não teve coragem de fazer isso”, completou.

FORÇAS ARMADAS

Lula disse que Bolsonaro expôs as Forças Armadas ao colocá-las para fiscalizar e auditar as urnas eletrônicas e, por isso, deveria pedir desculpas à sociedade e à instituição. Afirmou ainda que o presidente “afundou o país em mentiras”.

“Aconteceu uma coisa deplorável, humilhante para as nossas Forças Armadas. Um presidente da República, que é o chefe supremo das Forças Armadas não tinha o direito de colocar as Forças Armadas a investigar urnas eletrônicas, coisa que é da sociedade civil, do Congresso Nacional e dos partidos políticos”, afirmou. “O resultado foi humilhante. O presidente tem a obrigação de pedir desculpas à sociedade brasileira e às Forças Armadas”, completou.

Segundo Lula, a campanha de Bolsonaro foi marcada pela divulgação de mentiras em diversas áreas, inclusive envolvendo a fé da população. “Um presidente pode errar, mas não pode mentir”, disse. “O presidente Bolsonaro tem uma dívida com o povo brasileiro: peça desculpas pela quantidade de mentiras que foi contada nas eleições e pelas ofensas que fez às urnas eletrônicas”, completou.

Lula disse se sentir como se tivesse ressuscitado, ao se referir ao processo enfrentado a partir das investigações da Operação Lava Jato, que culminou com a sua prisão em abril de 2018. O presidente eleito afirmou ter sido vítima de infâmias. “Eu não tive que provar a minha inocência, eu tive que provar a culpa de quem me acusou. Eu tive que provar a culpa do [Sergio] Moro, eu tive que provar a culpa do [Deltan] Dallagnol”, afirmou.

HARMONIA E INDEPENDÊNCIA

O presidente eleito reiterou que vai governar para todos, mas que sua prioridade é a população carente. “Embora a gente tenha que governar para todos, a gente tem que tratar com prioridade as pessoas mais necessitadas”, afirmou Lula, defendendo uma revisão da legislação trabalhista para adequá-la aos avanços do momento.

Lula prometeu restabelecer no país a normalidade institucional. Disse que, em seu governo, a harmonia e a independência dos Poderes será respeitada e elogiou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Afirmou ainda que manterá o diálogo com o Congresso Nacional, destacando as primeiras conversas com os presidentes do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

“Vim visitar as instituições para provar que, a partir de agora, vocês vão ter paz, porque vocês vão ser respeitados, porque este país vai voltar à civilidade”, afirmou Lula, acrescentando que seu governo não vai influenciar as eleições para as presidências da Câmara e do Senado.

O presidente eleito disse que a participação na equipe de transição não garante posto de ministro. “Eu fiz questão de colocar o Alckmin como coordenador para que ninguém pensasse que o coordenador vai ser ministro. Ele não disputa vaga de ministro porque é o vice-presidente”, afirmou.