Inflação dos EUA ajuda JBS e Marfrig, enquanto local difícil pressiona BRF, Minerva e Rumo

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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

São Paulo – Os analistas apontam suas estimativas para os resultados das companhias ligadas ao agronegócio, com expectativa de fortes resultados para a JBS e Marfrig, por conta dos bons resultados nos Estados Unidos mas com maior pressão para BRF, Minerva e Rumo, devido ao cenário desafiador no Brasil em custos e preços.
O BTG Pactual aumentou o preço-alvo da ação da JBS para R$55,00, de R$ 50,00 e reiterou a recomendação de compra para incorporar melhores estimativas de ganhos, com uma projeção de ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) 18% acima do consenso, para R$ 42 bilhões, impulsionada pela inflação de preços das proteínas nos Estados Unidos.
A expectativa é que a receita da companhia em 2022 seja 78% acima de 2019. “A diversificação também deve significar que, mesmo sob condições mais normalizadas, os múltiplos das margens continuam a parecer pouco exigentes (4,6x para 2023; 20% abaixo do histórico), para uma empresa mais enxuta, sem risco e mais focada. Reiteramos nossa compra”, escreveram os analistas do BTG.
O Bank of America (BofA) espera que os resultados do quarto trimestre forte da JBS e Marfrig serão impulsionados pelo bom desempenho das companhias no mercado norte-americano, com forte crescimento anual do ebitda, o que deve compensar um cenário mais desafiador no Brasil, principalmente para carne bovina.
Para os analistas do BofA, a dinâmica no Brasil também deve ser difícil para BRF e Minerva neste ano, assim como em 2021. “Esperamos ver pressão de margem para BRF, devido a aumentos de preços mais limitados, enquanto os custos continuam subindo. A BRF deve se beneficiar de fortes resultados internacionais, que também devem trazer resiliência aos números consolidados do Minerva. Nesse cenário, mantemos nosso rating de compra na JBS e Marfrig, Neutro na BRF e underperform na Minerva”, disseram os analistas, em relatório.
O BoFA espera que a BRF atinja R$1,64 bilhão em ebitda, alta de 10% na base de comparação anual, com resultados pressionados por aumento limitado de preços no mercado interno, o que deve derrubar em 14% seus ganhos no Brasil, na mesma base, enquanto no exterior, deve ser mais forte por melhores margens em Halal e exportações diretas. Já Minerva deve ter ebitda de R$ 643 milhões, 6,7% acima de 2020, devido ao impacto do bloqueio da China até dezembro e pressões sobre preços e margens.
A XP aponta que as operações de carne bovina nos EUA devem impulsionar os resultados da JBS e Marfrig e compensar outras operações defasadas, tanto para o 4T21 quanto para 2022. Por isso, a corretora recomenda a compra das ações JBSS3, considerada a sua principal escolha no setor, e MRFG3.
Sobre a BRF, o relatório da XP prevê a manutenção da recuperação das margens da companhia BRF, mas aponta um cenário pouco animador, com a piora nos preços do milho e da soja, o consumidor brasileiro com menos poder de compra e a inflação em alta, impedindo o repasse de preços e, consequentemente, diminuindo as margens. Diante de tantas incertezas pela frente, a XP atribuiu recomendação neutra para a BRF.
O Itaú BBA prevê resultados mistos no quarto trimestre, com a JBS e Marfrig beneficiadas com a grande exposição dessas empresas ao mercado norte-americano, visto que a região vem apresentando cenário consumidor benigno. “Somado a isso, vimos ao longo do trimestre uma melhora na relação dos spreads (preço de compra do gado vs. preço de venda das carcaças) da região, o que deverá favorecer as duas empresas diante da possibilidade de uma expansão de resultado operacional. Por outro lado, as operações no Brasil, que sofrem com a escalada no custo do gado no País, deverão ser pressionadas”, pontuaram os analistas.
Sobre a Minerva, o Itau BBA diz que ela está com maior exposição no Brasil e que a escalada no custo do gado no País deverá pesar em seus resultados. “O mercado consumidor interno não está mais conseguindo absorver os aumentos de preços e os frigoríficos têm sido puxados pelo mercado internacional favorecido pelo dólar, ainda apreciado frente ao Real”, diz o relatório. “Acreditamos que outro fator negativo no quarto trimestre tenha sido a interrupção das exportações de carne bovina para a China, após os casos de vaca louca confirmados ao longo do segundo semestre. Mesmo após a retomada desse importante parceiro comercial no final de dezembro, acreditamos que o impacto positivo será observado apenas no resultado do primeiro trimestre de 2022.”
O Itaú BBA analisou ainda a Rumo – companhia ferroviária e de logística da Cosan, com forte atuação em transporte de commodities agrícolas – e estima que a queda nos volumes deve pressionar seus ganhos. “A Rumo está vendo o aumento no custo dos combustíveis como um fator detrator de suas margens. A operação da companhia no Norte está com tarifas mais baixas do que o normal diante da pouca disponibilidade de grãos na região”, diz o relatório.
“No Sul, apesar do impacto da inflação também ser visível, a companhia está conseguindo repassar custos aos clientes, mas também deve reportar queda nos volumes transportados”, finaliza o Itaú BBA.