Guerra na Ucrânia e possível greve de caminhoneiros derrubam bolsa; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 1,71% em um dia de baixa liquidez e com os investidores receosos em tomar posição em meio à percepção de agravamento da guerra entre Rússia e Ucrânia e com a iminência de uma greve dos caminhoneiros devido ao reajuste nos preços dos combustíveis anunciado, na véspera, pela estatal. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) despencaram no final dos negócios e fecharam em 2,35% e 3,59%, cotadas a R$ 34,81 e R$ 33,49 respectivamente.
A partir de segunda-feira (14), a Bolsa fechará às 17h em razão do horário de verão nos Estados Unidos. Os negócios no pós-mercado será entre 17h e 18h.
O principal índice da B3 caiu 1,71%, aos 111.713,07 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 1,71%, aos 112.640 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,2 bilhões. Na semana, a Bolsa encerrou em baixa de 2,41%. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Um analista de uma gestora de investimentos, que não quis se identificar, disse que o estresse perto do fechamento foi atribuído à possibilidade de greve dos caminheiros. “Está aumentando a organização de movimento contra o aumento [nos preços dos combustíveis] anunciado ontem pela Petrobras; e como a estatal é quase monopolista no refino, leva as outras empresas”.
José Costa Gonçalves, analista da Codepe corretora, afirmou que a Bolsa reflete dois movimentos com a indefinição da guerra e a inflação aqui e nos Estados Unidos. “Começamos o pregão com a falsa ilusão das palavras de Putin [Vladimir Putin, presidente da Rússia] que viu como positivas as negociações entre a Rússia e Ucrânia e, agora, aumentou a expectativa as decisões sobre juros aqui e nos Estados Unidos, na quarta-feira”.
E acrescentou que a inflação nos Estados Unidos em 7,9% [acumulado em 12 meses até fevereiro], “fica a pergunta é o que está por vir à medida que o preço da gasolina sobe a 0,75 centavos de dólar. O Fed deverá elevar em 0,25 ponto porcentual ou 0,50 pp ou ainda não agir diante desse cenário e com uma guerra sem prazo para terminar”.
Gonçalves ressaltou que a Bolsa está se sustentando em Vale, Petrobras e bancos. “Vivemos uma bolha de investimentos estrangeiros, com destaque para as commodities e com a atenção no setor financeiro”.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, disse que o mercado está “um pouco indeciso” e se os ruídos da guerra na Ucrânia se acalmarem, o Brasil pode tentar voltar a se descolar das bolsas internacionais. “Os ativos brasileiros são atrativos nesse contexto em que estamos inseridos, principalmente para um estrangeiro que começa colocar recurso no País procurando um diferencial, com a alta de juros e inflação mais alta por aqui”.
A B3 informou que os estrangeiros seguem aportando aqui. Na quarta-feira (9) o ingresso foi de R$ 1,386 bilhões.
Spiess destacou que a próxima semana será a super quarta [referindo-se as reuniões de política monetária do Banco Central do Brasil e dos Estados Unidos]. Aqui no Brasil o mercado aposta em uma alta de entre 1 ponto porcentual (pp)e 1,25 pp para a taxa de juros.
“O mercado fica atento à qual discurso ele [o Banco Central] vai acompanhar e qual será a Selic terminal-12,5%, 13%-. Está muito aberto e seria natural que a Bolsa entre em uma realização na sessão de hoje para ajuste de posição para a semana que vem”.
O dólar comercial fechou em alta de 0,71%, cotado a R$ 5,0530. A moeda chegou a ficar abaixo dos R$ 5,00 durante a manhã, mas o descontrole inflacionário no Brasil voltou a entrar no radar do mercado e preocupar investidores.
Segundo a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “a inflação está mais pressionada e tem relação com a alta do dólar. O investidor começa a pensar como isso pode influenciar no crescimento”.
Quartaroli não mostrou empolgação com as medidas para controlar o preço do diesel e gasolina: “Mesmo com o governo tentando segurar os preços, o combustível já está bem alto”, alega.
Para o sócio-diretor da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “a guerra ainda é o assunto da vez, mas o risco inflacionário se tornou um monstro. A alta do Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou as expectativas para que o Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana, aumente a Selic (taxa básica de juros) em 1,25%, embora o consenso do mercado ainda seja de 1%”. O IPCA aumentou 1,01% em fevereiro ante janeiro.
Nagem acredita que as commodities estão mascarando uma situação econômica doméstica delicada: “O quadro econômico é muito ruim, apenas a moldura que é bonita. Não fosse o fluxo estrangeiro gerado pelas commodities, além do capital especulativo, o dólar estaria perto dos R$ 6,00”, contextualiza.
De acordo com boletim da Ajax Capital, “os ativos de risco devem acompanhar o exterior, onde se valorizam mesmo com a alta das commodities”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após divulgação do IPCA acima das expectativas.
O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 13,140% de 13,030% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 12,990%, de 12,795%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,440%, de 12,275% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,210% de 10,390%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em queda, cotado a R$ 5,0540 para venda.
Os principais índices de ações dos Estados Unidos devem abrir em queda, com a Dow Jones caindo pela quinta semana consecutiva – Nasdaq e S&P também recuaram nas duas últimas semanas, à medida que os investidores permanecem cautelosos sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,69%, 32.944,19 pontos
Nasdaq 100: –2,18%, 12.844 pontos
S&P 500: -1,29%, 4.204,31 pontos