Gabriel Galípolo diz que, se aprovado pelo Senado, buscará colaborar com interlocução entre governo e BC

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São Paulo – Indicado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para ocupar o cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo disse que tem um diálogo muito cordial e educado com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e que, caso sua indicação seja aprovada pelo Senado, será no intuito de facilitar esse diálogo,em entrevista exclusiva para a colunista de economia do BandNews TV, Juliana Rosa, agora há pouco.

“A expectativa é que eu possa colaborar nessa interlocução e nesse diálogo do governo com as políticas fiscais.”

Em relação ao papel do arcabouço fiscal na política econômica, Galípolo avalia que o ceticismo inicial com as políticas fiscais foi reduzindo, com a criação de um ambiente mais favorável à política monetária e que hoje há uma expectativa de redução das taxas de juros e pode haver uma convergência entre as políticas econômica e monetária no futuro.

No entanto, ele disse que ainda não pode falar sobre a política monetária, mas que os consensos são importantes para a definição das orientações nesse campo. “Consensos e convenções farão a formação de preço.”

Entre as possíveis mudanças na proposta de arcabouço, ele disse que as reuniões com o relator e com o presidente da Câmara foram produtivas e que a busca é para garantir uma política perene e que seja uma regra pró-cíclica, com medidas saneadoras que possam suavizar o ciclo econômico. “Eu vejo o desejo de melhorar e se apoiar nas melhores experiências internacionais sobre o tema.”

Tivemos o resultado de um processo eleitoral, com a vitória do plano de governo do presidente Lula, e a formação de um programa de recursos que mostram que existe de onde se retirar recursos e redistribuir a renda. “A beleza do arcabouço fiscal aprovado é essa, coloca a questão do conflito distributivo. Existe um grande zelo pelo processo democrático e uma busca para apresentar quais as consequências desse processo com muita responsabilidade.”

Galípolo disse que “toda a preocupação que [o ministro da Fazenda, Fernando] “Haddad está tendo com as contas públicas tende a reestabelecer um diálogo com o mercado, quais serão os juros futuros a serem negociados com o mercado”, na entrevista à “BandNews TV”.

Na visão de Galípolo, as redes sociais exacerbaram as críticas entre polos opostos. “O processo é construir diálogo e reestabelecer as políticas. Isso em relação à política monetária e fiscal. A gestão do ministro Haddad busca a transparência e o diálogo com vários setores da sociedade. A intenção é que a gente vá gradativamente criando espaços e construindo uma política para toda a sociedade.”

Em relação à sua orientação política e acadêmica e se é favorável à MMT (Teoria Monetária Moderna, na sigla em inglês) – uma teoria econômica que defende que países que emitem sua própria moeda sempre poderão imprimir mais dinheiro para pagar sua dívida. “Eu tento não acompanhar as opiniões que circulam a meu respeito. Eu trabalho como funcionário público e tento representar o governo que ganhou e governar também para quem votou contra o atual governo. Minha produção é acadêmica e não é identificada com a MMT, mas gosto de dialogar com outras correntes. Mas agora minha atuação é focada nos debates que a sociedade brasileira demanda.”

Em relação à questão do risco soberano, ou de emissão de títulos pelo governo para liquidar pagamentos, o economista mencionou um debate com o economista Persio Arida, ex-presidente do BC e do BNDES. “Em um debate com o professor Persio Arida sobre essa questão de discutir se existem limites para o agente soberano emitir moeda, ele disse que essa questão é como discutir se Deus existe. Quer dizer, no mercado, as convicções e expectativas das pessoas vão formar preço. Então, para quem está dialogando com o mercado, não é possível ignorar que se está dialogando com as convicções das pessoas. Dito isso, a minha visão é de que eu acredito na expectativa das pessoas na formação de preços.”