Fed mantém juros e sinaliza alta mais cedo do que o previsto

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell / Foto: Fed

São Paulo – Como era amplamente esperado, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) manteve a taxa de juros na faixa entre zero e 0,25% ao ano e também seguiu com a orientação sobre a compra de ativos de pelo menos US$ 120 bilhões mensais. A decisão é unânime.

“O Comitê decidiu manter a taxa de juros entre zero e 0,25% ao ano e espera que seja apropriado manter essa faixa até que as condições do mercado de trabalho tenham alcançado níveis consistentes com as avaliações do Comitê de emprego máximo e inflação tenha acelerado para 2% e está a caminho de exceder moderadamente 2% por algum tempo”, diz o comunicado.

Já a mediana das projeções dos membros do Federal Reserve para a taxa básica de juros do país indica que as autoridades pretendem manter os juros inalterados este ano e no próximo, e elevá-los duas vezes em 2023.

A mediana das projeções para os juros este ano e no próximo ficou inalterada em 0,1%, mesma estimativa feita em março.

Para 2023, o comitê de política monetária passou a esperar juro básico em 0,6%, o que representa avanços em comparação com a projeção anterior de 0,1%, e sugerindo que, naquele ano, as autoridades do Fed esperam dois aumentos de 0,25 ponto porcentual (pp) nas taxas. No longo prazo, a estimativa ficou inalterada em 2,5%.

O Fomc também elevou suas taxas de juros de seu kit de ferramentas secundárias para calibrar sua política de dinheiro fácil. Com isso, a taxa de juros sobre excesso de reservas (IEOR, na sigla em inglês) passou de 0,10% para 0,15%, e a repo, taxa das operações de recompra reserva, passou de zero para 0,055.

Na decisão, o comitê deixa claro que pretende manter a acomodação até que seu mandato duplo – pleno emprego e estabilidade de preços – sejam alcançado.

“O Comitê busca atingir o máximo de emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo. Com a inflação persistentemente abaixo dessa meta de longo prazo, o Comitê terá como objetivo atingir a inflação moderadamente acima de 2% por algum tempo, de forma que a média da inflação seja de 2% ao longo do tempo e as expectativas de inflação de longo prazo permaneçam bem ancoradas em 2%. O Comitê espera manter uma postura acomodatícia da política monetária até que esses resultados sejam alcançados”, diz o comunicado.

Sobre a compra de ativos, o Fomc manteve a orientação de que permanecerá em pelo menos US$ 120 bilhões mensais, sendo US$ US$ 80 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 40 bilhões em hipotecas, até que haja progresso substancial na direção das metas.

“Essas compras de ativos ajudam a promover o funcionamento regular do mercado e condições financeiras acomodatícias, apoiando assim o fluxo de crédito para famílias e empresas”, diz o comunicado.

Desde a última reunião de política monetária, realizada em abril, o mercado passou acompanhar mais de perto o ritmo de compra de ativos do Fed, já que alguns membros do banco central indicaram que, com a recuperação da economia norte-americana, essas aquisições poderiam começar a ser reduzidas
no final do ano.

ECONOMIA, INFLAÇÃO E EMPREGO

Sobre a economia norte-americana, o comunicado destaca que a atividade e o emprego se fortaleceram graças à combinação da vacinação contra a covid-19 e às medidas de apoio, embora alguns setores mais afetados pela pandemia ainda apresentem fragilidades.

Assim como das outras vezes, o comitê indica que a trajetória da economia dependerá significativamente do curso do vírus e que o progresso na vacinação provavelmente continuará a reduzir os efeitos da crise de saúde pública na economia, mas os riscos para as perspectivas econômicas permanecem.

“Em meio a esse progresso e forte apoio político, os indicadores de atividade econômica e de emprego se fortaleceram. Os setores mais afetados pela pandemia continuam fracos, mas mostraram melhorias”, diz.

O Fomc destaca que a a inflação acelerou, refletindo em grande parte fatores transitórios e que as condições financeiras gerais permanecem acomodatícias, em parte refletindo medidas de política para apoiar a economia e o fluxo de crédito para famílias e empresas dos Estados Unidos.

“O Federal Reserve está empenhado em usar toda a sua gama de ferramentas para apoiar a economia dos estados Unidos neste momento desafiador, promovendo assim suas metas de emprego máximo e estabilidade de preços”, diz.

GRÁFICO DE PONTOS

O chamado “gráfico de pontos”, uma compilação das projeções de cada membro do Fomc para a taxa de juros, mostra que todos os 18 membros do comitê preveem manutenção dos juros em 2021, e que mais integrantes esperam altas nos próximos dois anos.

Para 2021, todos os membros preveem que os juros fiquem no intervalo entre zero e 0,25%, sem alterações com relação ao patamar atual e confirmando a divulgação anterior do gráfico, em março.

Por sua vez, para 2022, 11 membros do Fomc esperam que os juros permaneçam no intervalo atual, enquanto cinco preveem que a taxa estará entre 0,25% e 0,50%, e dois projetam juros acima de 0,5%.

Na divulgação anterior do gráfico, em março, 14 autoridades esperavam juros na faixa atual para o ano que vem, três previam que a taxa estará no intervalo entre 0,25% e 0,5% e um estimou juro acima de 0,5%.

Para 2023, cinco membros esperam manutenção no juros, dois prevêem uma alta de 0,25 pp, três esperam duas altas e três integrantes do Fomc estimam três altas, com a taxa básica de juros no intervalo entre 0,75% e 1,0%. Outros três membros esperam a taxa em entre 1,0% e 1,25% e dois acima de 1,5%.

Na divulgação anterior do gráfico, 11 autoridades esperavam juros na faixa atual em 2023, um previa uma alta, um previa duas e três esperavam juro na faixa entre 0,75% e 1,0%. Outros dois integrantes do Fomc previam a taxa acima de 1,0%.

No longo prazo, todos os membros esperam juro acima de 2%, assim como nas projeções de março.